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População da A. Latina muda de postura diante da corrupção

Segundo especialistas, latinos estão menos tolerantes com crime

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O ano de 2015 começou repleto de casos de corrupção em países da América Latina, como Brasil, Argentina e Chile, desafiando a popularidade de governos abalados por escândalos.    

No Brasil, a aprovação da presidente Dilma Rousseff caiu de 23% para 13%, segundo pesquisa Datafolha, e seu governo foi alvo de protestos que levaram milhares de pessoas às ruas do país no último dia 15.    

Na Argentina, a gestão de Cristina Kirchner passou por apuros após Amado Boudou se tornar o primeiro vice-presidente da história do país a ser indiciado em exercício por suspeitas de corrupção e por gestões "incompatíveis com sua função" quando era ministro da Economia, em um dos seis processos que enfrenta.    

A Justiça argentina também está investigando possíveis ilegalidades e irregularidades fiscais e societárias na empresa Hotesur S.A., que conta com participação da presidente.    

Mesmo no Chile, tido como um exemplo na luta contra a corrupção na América Latina, a aprovação da mandatária Michelle Bachelet caiu em fevereiro diante do escândalo envolvendo o nome de seu filho, Sebastián Dávalos. A chefe de Estado está sendo alvo de ataques da oposição após vir à tona que sua nora obteve um empréstimo privilegiado de um banco em Santiago, em um caso que foi apelidado de "Noragate" pela imprensa local.    

Além disso, surgiram nos últimos meses denúncias de corrupção envolvendo os nomes dos presidente do México, Enrique Peña Nieto; da Bolívia, Evo Morales; do Peru, Ollanta Humala; e do ex-chefe de Estado do Panamá Ricardo Martinelli.    

O diretor regional para as Américas da ONG Transparência Internacional (TI), o mexicano Alejandro Salas, disse, em entrevista à ANSA, não acreditar que a corrupção faça parte da cultura da região, mas que a prática está muito disseminada e a população está acostumada a viver com atos ilegais. "Isso é triste, mas, em países como o Brasil e o México, estamos acostumados a conviver com a corrupção", comentou.    

"Não é uma cultura, é uma tradição. Você sabe que pode usar a corrupção para conseguir as coisas que quer e de uma forma mais rápida. Quando um prefeito é eleito, por exemplo, as pessoas já esperam que dê empregos a seus familiares e se beneficie de alguma forma", acrescentou.    

O especialista, porém, ressaltou que, nos últimos anos, mais casos de corrupção estão sendo divulgados pela mídia. "Não porque existe mais corrupção, mas porque a imprensa e a sociedade civil estão debatendo e criticando mais a prática, que antes era tida como um segredo".    

Para ele, essa mudança de postura é resultado da diminuição da pobreza e da desigualdade na região nos últimos anos. Isso faz com que a população perceba que está pagando por um serviço ruim.    

De acordo com a ONG Transparência Internacional, o Brasil pulou da posição 73ª, em 2011, para 69ª, em 2014, no ranking de percepção da corrupção que analisa 175 países anualmente.    

A brasileira Mariana Tavares de Araújo, escolhida recentemente como uma das 100 mulheres mais influentes do mundo que atuam com compliance e combate à corrupção pela publicação Global Investigations Review (GIR), vê com otimismo a mudança dos últimos anos, mas alerta que ainda são necessários mecanismos eficazes.    

"A evolução das conquistas nas últimas décadas foram muito significativas, estamos no momento de mudar de patamar no que diz respeito à intolerância com corrupção, mas isso não acontece da noite para o dia. Existem países mais avançados do que o nosso na prevenção a corrupção e mesmo eles, vez por outra, detectam casos", comentou.    

Após milhares de pessoas terem ido às ruas de cidades de todo o país no último dia 15 reclamando da corrupção e pedindo o impeachment de Dilma, uma nova manifestação está marcada para o próximo dia 12 pelos mesmos organizadores.    

Segundo a última edição do Índice de Percepção da Corrupção da TI, o Chile e o Uruguai foram considerados os países menos corruptos da região, dividindo a 21ª colocação. Atrás deles estão Porto Rico (31), Costa Rica (47) e Cuba (63). O Brasil está em 69º entre a lista de 175 países, seguido por El Salvador (80), Peru (85), Colômbia e Panamá (94), Bolívia e México (103) e Argentina (107). A Venezuela foi classificada como a nação mais corrupta do continente, ficando na 161º posição.