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'L'Espresso': Escândalo da Petrobras atinge empresa italiana

Justiça aponta João Antonio Bernardi, executivo da multinacional Saipem

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A justiça brasileira poderia chegar à multinacional italiana Saipem na investigação sobre subornos na Petrobras, o grande escândalo que está afetando as instituições políticas e econômicas do país sul-americano. João Antonio Bernardi, o homem que agia através da empresa do grupo Eni no Brasil, é na realidade também sócio da Hayley Empreendimentos e Participações, filial brasileira da Hayley S/A, uma offshore usada por um dos acusados de pagar propina aos ex-dirigentes da Petrobras. É o que diz uma matéria que o jornal italiano L' Espresso publicou no domingo (29/03). 

A investigação continua a crescer e existe a hipótese de que os diretores da gigante de energia tenham desviado bilhões de dólares para suas contas pessoais. Depois de meses de investigações os magistrados brasileiros sustentam que “foi estabelecido que no âmbito da Petrobras, o pagamento de propinas era endêmico e comum para os contratos de grande valor, fechados nos setores de Suprimento, Serviços e Internacional”. Foi desse departamento que a Saipem obteve em 2011 duas grandes comissões com a Petrobras de 150 milhões de dólares pela construção dos gasodutos que interligam os campos de extração de Sapinhoá, Lula e Lula Nordeste. Renato Duque, o diretor que gerenciava a filial da Petrobras que fechou os acordos com a Saipem, foi preso há duas semanas: agora, junto com outros 27 investigados, será processado por corrupção, lavagem de dinheiro e associação ao crime.

Não há até agora nenhum envolvimento da empresa italiana no escândalo, mas os magistrados do Ministério Público não excluem que as auditorias em curso podem envolver a Saipem. As investigações estão se concentrando nas atividades de João Antonio Bernardi, um executivo que se movia com grande destreza em meio aos diretores da Petrobras. Antes de chegar na Saipem, ele trabalhou na Odebrecht, empresa brasileira de construção, que está sob investigação no ‘Tangentopoli’ sul-americano (Tangentopoli foi o nome dado ao enorme esquema de corrupção na Itália que foi combatido pela operação Mãos Limpas, no início dos anos 90). Através de uma pesquisa feita pelo jornal l’Espresso no site da Receita Federal brasileira, o seu nome está ligado a sete participações societárias, inclusive a Hayley Empreendimentos e Participações.

A Hayley S/A foi citada pela primeira vez no depoimento de Julio Camargo, diretor da Toyo Setal, uma outra empresa brasileira na mira dos investigadores. Camargo firmou um acordo de delação premiada com os magistrados, com a garantia de uma redução de pena, e declarou ter depositado entre setembro e outubro de 2011 cerca de um milhão de dólares provenientes de propinas em uma conta corrente suíça da Hayley S/A.

Além disso, como foi denunciado no último mês de  dezembro pela revista Veja, em janeiro de 2012 a filial brasileiro de Hayley S/A, adquiriu dois espaços comerciais no centro do Rio de Janeiro. Em 2013, os dois foram vendidos para a D3TM Consultoria e Participações: uma empresa aberta por Renato Duque no dia 25 de abril de 2012, dois dias antes de deixar seu cargo de diretor na Petrobras. Como mostram os atos de compra e venda obtidos pelo jornal l’Espresso, à D3TM os imóveis custaram cerca de 250 mil dólares.

À luz do papel da Hayley S/A no pagamento de propinas, a procuradoria está investigando para entender se a aquisição dos imóveis no Rio tenha sido uma operação lícita ou tenha servido para transferir dinheiro em benefício de Duque. Os magistrados bloquearam várias contas correntes, inclusive aquelas utilizadas pelas empresas que serviram para a compra e venda de imóveis.

A Saipem respondeu às perguntas do jornal l’Espresso através de uma nota. Disse ter no Brasil “nove projetos ativos ligados à Petrobras, assinados de 2007 a 2013 (dos quais dois em 2011) em regime de concorrência internacional, mas que por razões comerciais, e sob as obrigações de confidencialidade com o cliente que administram estas comunicações, não pode fornecer o valor dos contratos”.

A empresa também declarou que Bernardi é apenas um colaborador: “Nunca foi nosso representante no Brasil mas é um colaborador in loco da Saipem do Brasil”. Todas as tentativas de contactar Bernardi ficaram sem resposta.