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'El País': Ataque saudita ao Iêmen aprofunda sectarismo no Oriente Médio

Irã e seus aliados condenam bombardeio que, segundo eles, favorece os jihadistas

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O jornal espanhol El País publicou nesta quinta-feira (26/03) uma matéria sobre o conflito no Iêmen, uma das regiões de maior tensão no Oriente Médio. A Arábia Saudita bombardeou o país para frear o avanço dos rebeldes Huthi que ameaçavam tomar Adén, a segunda cidade do país e onde o presidente iemenita, Abdrabbo Mansur Hadi se havia refugiado. "O ataque, que contou com o respaldo de uma dezena de regimes árabes sunitas, expõe as linhas do enfrentamento político-sectário que envenena a região desde o triunfo da revolução iraniana de 1979. A República islâmica se apressou em condenar a incursão contra um grupo que, como outros xiitas, se olha em seu espelho. Enquanto isso, a população iemenita se mostrava igualmente dividida", diz o artigo de Ángeles Espinosa.

“Qualquer ação militar estrangeira contra a integridade territorial do Iêmen e seu povo só aumentará o número de mortos e o derramamento de sangue”, alertou o ministro de Relações Exteriores do Irã, Mohamed Javad Zarif. Em sua opinião, o ataque faz o jogo dos jihadistas.

As relações entre o Irã xiita e a Arábia Saudita sunita, os dois pesos pesados do Oriente Médio, nunca foram fáceis, mas nos últimos anos se opuseram durante as crises no Iraque, Síria, Líbano e, agora, no Iêmen, onde a intervenção saudita aumenta os receios. Mas também a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, alertou sobre o “risco de graves consequências para toda a região” e de que os grupos terroristas tirem partido.

Zarif falava em Lausanne, a cidade suíça onde fecha com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, um acordo nuclear que, se for assinado, mudará as regras do jogo na região. Alguns analistas vinculam os dois assuntos.

“O momento escolhido pela Arábia Saudita tem sido brilhante porque põe  à prova a boa vontade do Irã logo no momento em que está a ponto de assinar o pacto nuclear”, assegura Theodore Karasik, um analista de Dubai especializado em assuntos político-militares do Golfo. “Terá que ver até que ponto se empenha em ajudar os Huthi, ou os deixa cair para salvar o acordo e a supressão das sanções”, acrescentou.

Um alto funcionário iraniano que não se identificou, garantiu à agência  Reuters que seu país vai utilizar todas as vias políticas possíveis para reduzir a tensão, mas que “não contempla a intervenção militar”. Os Huthi, que convocaram os iemenitas a se alistarem para defender seu país, também disseram que não vão pedir ajuda ao Irã. No entanto, a ação obrigou os países da região a colocar suas cartas sobre a mesa.

Por um lado, os governos de Iraque e Síria, assim como o grupo libanês Hezbollah, se juntaram à condena iraniana. Por outro, tal como explica Karasik, “a Operação Tormenta Decisiva mostra uma frente árabe sunita unida contra os Huthi, como supostos aliados do Irã”.

 “A mudança estratégica na região beneficia o Irã e não podemos fazer silêncio diante do fato de que os Huthi carregam sua bandeira”, resumiu o secretário de Estado de Relações Exteriores dos Emirados Árabes, Anwar Gargash, em sua conta do Twitter.

Semelhante divisão se observa entre a população iemenita, que hoje viu confirmada sua suspeita de que o presidente Hadi havia fugido do país quando a televisão saudita anunciou sua chegada a Riad. Enquanto na cidade de Taiz, uma multidão saiu às ruas com imagens de Hadi e do rei Salman da Arábia Saudita, também há uma preocupação diante do que muitos, e não só entre os Huthi, enxergam como uma nova intromissão estrangeira em seus assuntos. Ainda que esse grupo siga uma variedade do islã xiita, desde o último mês de setembro levantou a bandeira da luta contra a corrupção atraindo algumas simpatias fora de sua comunidade. No entanto, a partir da tomada do poder no final de janeiro, também cometeu muitos abusos.

“Nos últimos dias os Huthi detiveram centenas de pessoas, em sua maioria simpatizantes do Islah e salafistas, fecharam mesquitas e pisotearam as liberdades pessoais”, explica um engenheiro residente em Saná. Este iemenista, muito crítico dos rebeldes, também se preocupa com que os terroristas de Al Qaeda ou o Estado Islâmico se beneficiem do caos. “Os partidários de Hadi os retiraram das prisões para que lhes ajudem contra os Huthi”, conclui.

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