ASSINE
search button

EI desbanca Assad e vira principal temor dos EUA em 2014

Grupo capturou e decapitou civis, aterrorizando o Ocidente

Compartilhar

A lista de pessoas mais poderosas da revista norte-americana "Forbes" trouxe uma surpresa desagradável neste ano: o nome do líder jihadista Abu Bakr al Baghdadi, do grupo Estado Islâmico (EI, ex-Isis), na 54ª colocação.

    De acordo com a publicação, "em um período extremamente curto, os combatentes do EI tomaram porções significativas do leste da Síria e do oeste do Iraque, atraindo a atenção do planeta com uma série de decapitações bárbaras e conseguindo grandes quantidades de dinheiro, principalmente por meio da venda de petróleo no mercado negro".

    Outra lista, feita pela sucursal israelense da revista, mostrou o EI como o grupo terrorista mais rico da história, com uma receita de cerca de US$ 2 bilhões por ano. O Hamas, que ficou em segundo lugar, tem metade dos recursos.

    O Estado Islâmico começou a aparecer com frequência no noticiário internacional em junho, quando os jihadistas intensificaram uma ofensiva para tomar o controle de cidades importantes do norte do Iraque, apesar de sua fundação histórica datar do começo dos anos 2000.

    O grupo, que ganhou fama por ser expulso da Al Qaeda por "radicalismo extremo", tenta estabelecer um califado sunita entre a Síria e o Iraque. Seu líder, o "califa", é visto como sucessor político e religioso do profeta Maomé.

    O cientista político e professor de Relações Internacionais da FGV Heni Ozi Cukier disse, em entrevista à ANSA, que o EI ganhou força graças a uma convergência de fatores, como a guerra civil na Síria e a instabilidade política no Iraque, onde o governo do ex-primeiro-ministro Nuri al Maliki acirrou as divisões sectárias ao excluir os sunitas do poder.

    No entanto, para o ditador sírio, Bashar al Assad, o fortalecimento do EI gerou ganhos positivos, porque o grupo extremista "demonstra ao mundo que é muito pior que o líder sírio", de acordo com o especialista. Com isso, a comunidade internacional passou a se preocupar mais em conter o avanço dos jihadistas do que com a guerra civil na Síria.

    Após as decapitações de norte-americanos e de um britânico, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou, no começo de setembro, uma estratégia para combater o grupo. De ataques aéreos a ações humanitárias, o plano inclui uma série de medidas para, nas palavras do próprio mandatário, enfraquecer e destruir o EI.

    As ações, no entanto, não incluem o envio de tropas terrestres. "Isso que estamos fazendo não é o equivalente à guerra no Iraque de 2003", afirmou Obama, na ocasião. "O nosso objetivo é criar uma coalizão internacional e apoiar as tropas iraquianas e curdas nos bombardeios aéreos para enfraquecer o EI e restringir ao máximo a porção de território controlada pelo grupo", afirmou.

    Para Cukier, porém, os EUA erram ao não enviar tropas terrestres. "Um embate desta natureza não terá vencedor se não incluir combates terrestres. Apenas bombardeios não vencerão o EI", apontou.

    Mas o especialista reconhece que a opinião pública não apoiaria uma nova incursão dos EUA no Oriente Médio, já que uma guerra "demandaria um comprometimento de muito tempo", como aconteceu no Afeganistão e no próprio Iraque.

    Sobre o futuro do grupo, Cukier acredita que existirá um equilíbrio nos próximos anos. O EI "só pode continuar avançando se a coalizão internacional perder forças. Caso isso não aconteça, a tendência é ficar estagnado", apontou. (ANSA)