ASSINE
search button

'Miami Herald': Reaproximação de EUA e Cuba agita comunidade exilada de Miami

Compartilhar

O jornal americano Miami Herald repercutiu nesta quinta-feira (18/12), o anúncio da mudança de política dos Estados Unidos com Cuba. “O chão político foi sacudido no sul da Flórida na quarta-feira quando o presidente americano Barack Obama anunciou planos para restaurar relações diplomáticas totais com Cuba.

Miami, o coração da comunidade exilada cubana, reagiu com um choque coletivo. Oponentes da linha dura contra o regime castrista criticaram duramente o presidente, no que chamaram de ‘traição’”, escrevem os jornalistas Patricia Mazzei e Jay Weaveer.

“O comissário do condado de Miami-Dade, Esteban 'Steve' Bovo, um republicano cujo pai era um piloto na missão de 1996 da ‘Brothers to the Rescue’(organização humanitária que ajuda fugitivos de Cuba), chamou o presidente democrata de vendido.

“A comunidade cubana exilada, que construiu sua base ao se manter firme contra o governo de Fidel Castro, foi, na essência, vendida,” disse ele ao Miami Herald. “Aqueles que se perderam nos estreitos da Flórida, que se afogaram, sinto que a memória deles foi vendida. Os pilotos da 'Brothers to the Rescue' — aqueles cidadãos americanos — que foram abatidos, tiveram sua memória e o sofrimento de suas famílias vendidos.”

Maggie Khuly, irmã de Armando Alejandre Jr, um dos quatro membros da 'Brothers to the Rescue' que foram mortos, disseram que as famílias das vítimas da missão fracassada estão revoltadas.

“Eu estava esperando isso, mas não acredito,” disse Khuly ao Herald. “Ninguém (no governo federal) teve a decência de nos comunicar qualquer coisa”.

Pessoas em toda a cidade ligaram a TV para ver Obama fazer seu discurso em rede nacional. Em Cuba, Raúl Castro falou ao mesmo tempo.

Muita gente se reuniu em torno de uma televisão sintonizada na CNN da sala de espera do Doctor’s Hospital em Coral Gables para ver reportagens do restaurante Versailles (um dos mais famosos restaurantes cubanos) em Little Havana. Logo depois, Obama falou.

“Uau... Uau... Uau...”, exclamou uma mulher não identificada, quando o presidente terminou.

“Maduro se deu mal,” disse outra, se referindo ao presidente venezuelano, aliado dos irmãos Castro. A multidão permaneceu no lugar enquanto o senador Marco Rubio, um republicano da Flórida, criticou Obama, do Capitólio.

O dia começou com a notícia de que Cuba havia liberado um prisioneiro político americano Alan Gross por razões humanitárias — e que os Estados Unidos liberariam três espiões cubanos em troca de um oficial de inteligência americano detido na ilha.

“Estamos dando a eles muita coisa em pagamento em troca de um refém,” disse Khuly ao Miami Herald. “E os direitos humanos? É simplesmente incrível. Estou extremamente decepcionado com o presidente”.

O comissário Bovo também considerou a ação um ‘mau precedente’.

“Eu não sei o que isso vai fazer a outros americanos viajando na Venezuela, na Nicarágua — pode escolher o país — onde agora, literalmente, se quiserem tirar alguma coisa dos Estados Unidos, basta pegar um prisioneiro, impor algumas exigências, e mandá-los à prisão,” disse ele.

O prefeito do condado, Carlos Gimenez, disse numa entrevista ao Miami Herald que não sabia o bastante para criticar o plano da Casa Branca, mas que é um crítico da normalização das relações. “O governo cubano não fez nada para merecer isso,” disse Gimenez, que nasceu em Cuba. “Se vai acontecer, espero que tenhamos bons resultados.”

Apesar das críticas à revisão da política entre Estados Unidos e Cuba, houve um alívio com a liberação de Gross depois de cinco anos.

A Federação Judaica de Miami e o Conselho de Relações da Comunidade Judaica emitiu um comunicado dando as boas-vindas a Gross, um morador de Washington, de volta ao país. Gross foi preso em dezembro de 2009 enquanto trabalhava como um prestador de serviços com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional com o objetivo de ajudar uma pequena comunidade judaica em Cuba.

O comunicado agradeceu os advogados que assinaram petições e escreveram cartas aos oficiais eleitos para evitar que se esqueçam da detenção de Gross.

“Desejamos a Alan Gross a recuperação de sua saúde que foi debilitada como resultado de uma prisão injusta e desumana e  enviamos nossos votos sinceros a sua família que passou por uma angústia tão grande durante esse terrível calvário,” disse o comunicado. 

Figuras públicas locais também aplaudiram a liberação de Gross”, diz o artigo do Miami Herald.