O jornal El País publicou uma reportagem na última terça-feira (21) analisando o governo de Dilma. Eles apelam para a dicotomia "Fernando Henrique Cardoso ganhou um segundo mandato porque acabou com a inflação. Lula ganhou um segundo mandato porque tirou milhões de pessoas da pobreza" e DIlma, o que fez? O próprio jornalista Michael Reid, que escreveu a notícia responde: "a presidente só conseguiu oferecer uma resposta pela metade. E, ao meu ver, é por isso que em 26 de outubro ela provavelmente vai perder para Aécio Neves no segundo turno da eleição". Apesar da opinião do jornalista, Dilma volta a ganhar força na corrida eleitoral.
>>Datafolha: Dilma tem 52%, e Aécio, 48% dos votos válidos
Michael sabe, ao menos, que essa não é a opinião generalizada. Ele comenta a força das reeleições na América Latina e diz que "Em Lula, seu mentor e aliado político, Dilma tem o ativista mais eficaz do Brasil, o único político capaz de falar em sua própria língua com as massas de pobres e não tão pobres do nordeste e da periferia das grandes cidades. Esses setores são gratos a Lula e ao PT por uma década de crescimento econômico acelerado e por programas sociais ambiciosos: não apenas o Bolsa Família, ao qual agora têm acesso cerca de 12 milhões de famílias pobres, mas também milhões de bolsas de estudos".
Marcos Ianoni: a política desenvolvimentista do governo Dilma e o empresariado (1)
Marcos Ianoni: a política desenvolvimentista do governo Dilma e o empresariado (2)
Marcps Ianoni: a política desenvolvimentista do governo Dilma e o empresariado (3)
Marcos Ianoni: apolítica desenvolvimentista do governo Dilma e o empresariado (final)
A resposta pela metade de Dilma é, segundo o jornalista "que ela manteve esses programas, acrescentando um programa habitacional popular de moradias de baixo custo, um grande esforço para erradicar a pobreza extrema e iniciativas como os reservatórios de água rurais. Apesar das dificuldades econômicas, o Brasil ainda tem emprego quase pleno, e os salários reais continuam a subir, embora lentamente".
Porém, ele lembra que o escândalo ligado à Petrobras pode dar a vitória a Aécio e também a insatisfação com os serviços públicos ineficientes. "Mas para muitos brasileiros isso já não é o bastante. A insatisfação deles se manifestou em uma onda espontânea de protestos em junho de 2013, que, em seu auge, levou um milhão de pessoas às ruas. A reivindicação principal era de serviços públicos melhores - saúde, educação, transporte público e polícia - e menos corrupção política. Em outras palavras, um tipo diferente de Estado, reivindicação que Dilma e o PT viram que é difícil atender".
Segundo o jornalista, desde a crise de 2008, o PT começa a ressuscitar o Estado corporativo, intervindo na economia, abaixando taxas de juros, reajustando isenções tributárias.
"O resultado foi a destruição da confiança de investidores e empresários em sua política econômica. Os investimentos afundaram, apes ar dos estímulos oficiais à demanda", diz o jornalista. "Com o crescimento menor, o Governo não teve dinheiro necessário para gastar com os serviços públicos. O país arrecada 36% do PIB em impostos, semelhante à média da OCDE. Os manifestantes têm razão ao dizer que o Estado gasta de modo equivocado; há dinheiro demais que acaba com os setores privilegiados (aposentados do funcionalismo público, empresários, políticos)" completa ele.
O jornalista elogia o mandato de Eduardo Campos em Minas, dizendo que transformou as finanças públicas por meio de um "tratamento de choque". Ele promete um retorno rápido à política econômica sólida, um "choque inversor", uma reforma fiscal e uma reforma política.
O jornalista conclui dizendo que "Depois de 12 anos do PT no poder, o Brasil está maduro para mudanças e a alternância. O país precisa de políticas melhores para voltar a crescer economicamente e para ter progresso contínuo. Se Dilma resistir, seu Governo será fraco, e nada indica que esteja pronto para uma mudança séria de rumo. Se Aécio vencer, sua vitória repercutirá em toda a América Latina. Ela demonstrará que o poder da Presidência deve muito à recompensa econômica do boom das matérias-primas. Tempos economicamente mais difíceis darão lugar a uma nova política, na qual a hegemonia da esquerda terá terminado"