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Comemorando 225 anos de sua queda, a Bastilha de hoje está intacta

França, outrora revolucionária,atravessa uma forte crise política, social e ideológica

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Nesta segunda-feira (14), a França relembra um de seus momentos históricos mais impactantes. São 225 anos que separam o momento político atual do mais representativo símbolo da Revolução Francesa: a queda da Bastilha em 14 de Julho de 1789. Insuflando ideais de liberdade, igualdade e fraternidade em todo o mundo, a tomada da prisão pelos revolucionários se tornou símbolo da luta contra a opressão.

Comemorando a data, militares do 1º Regimento de Pioneiros da Legião Estrangeira marcharam pela avenida Champs-Elysees durante parada militar em comemoração ao Dia da Bastilha, em Paris. Outras comemorações marcam o país, como bailes militares e a tradicional queima de fogos na torre Eiffel – onde cerca de 500 mil espectadores são esperados. Um dia que já foi marcado pela revolta, atualmente é motivo de comemoração. Mas, acerca de progresso político e social, é preciso tratar a data com maior cuidado reflexivo.

A França de hoje em dia nem de longe é permeada pelos abusos civis e sociais comuns ao século XVI, mas é preciso estar atento. No campo político, o ex-presidente Nicolas Sarkozy foi preso na manhã do último 1º de julho para prestar depoimentos acerca de crimes de tráfico de influência e violação de segredos de Justiça. No campo social, a França vive um momento de crise, com o último ano marcado por aumento de desigualdade e pobreza entre os desempregados e os mais jovens. A taxa de desemprego bateu alguns recordes esse ano, e especialistas acreditam que ainda aumentará por conta da fragilidade econômica e por conta das políticas governamentais de austeridade lançadas em uma tentativa de equilibrar finanças públicas.

Além disso, o avanço da extrema-direita da Frente Nacional de Marine Le Pen na França contrasta com alguns dos ideais comemorados no 14 de julho – apesar de ser preciso algum cuidado ao enfatizar avanços em um quadro eleitoral de cerca de 57% de abstenção e 4% de votos brancos e nulos.

É preciso estar atento no simbolismo das datas comemorativas. É perigoso, no que diz respeito ao progresso e avanço de uma nação, enaltecer de forma acrítica momentos históricos ao passo que se ignora – de forma ativa – as preocupantes demandas atuais pelas quais a França  passa.