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EUA desaprovam reconhecimento de Estado palestino por países sul-americanos

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Os Estados Unidos desaprovaram a intenção de vários países da América Latina de reconhecer um Estado palestino, e repetiram que as negociações diretas entre israelenses e palestinos continuem sendo "o único meio" de se alcançar a paz no Oriente Médio.

"Não somos favoráveis a esta linha de conduta", declarou Philip Crowley, porta-voz do Departamento de Estado. "Acreditamos que qualquer ação unilateral é contraproducente", emendou.

Crowley informou que altos funcionários americanos mantiveram contato com as partes na terça-feira, destacando que as tentativas americanas de retomar as conversações não haviam sido "suspensas" apesar das dificuldades.

Na sexta-feira passada, o Brasil reconheceu o Estado Palestino com as fronteiras de 1967, antes da ocupação israelense, ou seja, todos os territórios palestinos: a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

À declaração brasileira seguiu-se o apoio da Argentina, na segunda-feira, e o anúncio uruguaio de fazer o mesmo em 2011.

Israel criticou as iniciativas, assegurando que vão de encontro às conversações de paz e aos acordos de paz israelenses-palestinos de Oslo, em 1993.

Em visita a Ancara, o presidente palestino Mahmud Abbas, disse estar "orgulhoso" e seu ministro das Relações Exteriores, Riyad al Maliki, afirmou que se espera que o "Paraguai e todos os outros países da América Latina tomem decisões similares".

O primeiro-ministro palestino, Salaam Fayyad, e o ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, viajarão esta sexta-feira a Washington, onde participarão de um encontro com a secretária de Estado, Hillary Clinton, que disse que na ocasião faria "uma série de observações formais".

Se o bloqueio das negociações diretas persistir, Abbas contempla solicitar um reconhecimento americano do Estado Palestino dentro das fronteiras de 1967, e em caso de repúdio se propõe levar esta petição ao Conselho de Segurança ou à Assembleia Geral das Nações Unidas.

Se não houver resultados por este caminho, o presidente palestino pediria à ONU a colocação dos territórios palestinos sob mandato internacional, antes de findar a aplicação dos acordos com Israel e, em última instância, dissolver a Autoridade Palestina e obrigar o Estado hebraico e assumir suas obrigações como potência invasora.

Os palestinos, reiterou Abbas, preveem uma série de alternativas às negociações com Israel, expostas inicialmente em uma reunião da Liga Árabe, em 8 de outubro.

O negociador palestino Nabil Chaath havia dito em outubro, durante colóquio em Jerusalém oriental, que estas alternativas ainda estão em preparação, mas que a Autoridade Palestina tentava torná-las confiáveis para pressionar Israel.

O especialista palestino Abdelmajid Suilem vê nos reconhecimentos feitos pelos países latino-americanos "uma etapa preliminar para criar um clima favorável se a direção palestina for às Nações Unidas obter o reconhecimento como Estado".

Segundo Samir Awad, professor de política internacional da Universidade de Bir Zeit (Cisjordânia), "a direção palestina deveria anunciar explicitamente o fracasso das negociações com Israel para que estes reconhecimentos do Estado Palestino não deem a Israel um pretexto para vacilar nas negociações".

Em um comunicado, o premier palestino, Salam Fayad, disse confiar em que as declarações latino-americanas "serão seguidas por outros reconhecimentos no mundo".

"Constituem uma guinada importante para muitos países, inclusive os que pesam na decisão internacional", acrescentou Fayad, referindo-se aos membros permanentes do Conselho de Segurança.

No dia da declaração brasileira, o chefe da missão palestina na França apresentou suas credenciais ao presidente Nicolas Sarkozy, na presença da ministra das Relações Exteriores, Michèle Alliot-Marie, uma cerimônia inédita que demonstra a elevação do estatuto da representação palestina na França, decidida em julho.

Ao reagir aos reconhecimentos de Brasil e Argentina, o ministério das Relações Exteriores francês informou na terça-feira que a França não quer "se antecipar" às discussões de paz entre palestinos e israelenses, cuja retomada está esperando - diz - para que seja possível a criação de um Estado palestino "viável".