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Praça da Paz Celestial ignora aniversário de protesto

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REUTERS

PEQUIM - A praça da Paz Celestial está tranquila na segunda-feira, e a imprensa chinesa não faz referência ao 18º aniversário da sangrenta repressão a uma manifestação pró-democracia naquele local do centro de Pequim, embora ativistas prometam que a data não será esquecida.

Soldados e tanques do Exército de Libertação Popular esmagaram em 4 de junho de 1989 a manifestação liderada por estudantes na praça, matando centenas, possivelmente milhares de pessoas.

- Quero dizer aos que afirmam que a praça da Paz Celestial 'pertence a outra era' que, por trás dos altos muros cercados com arames farpados das prisões chinesas, os prisioneiros da Paz Celestial ainda estão sofrendo, disse um ex-preso político, não-identificado, segundo nota enviada por email pela ONG Defensores dos Direitos Humanos Chineses.

O então dirigente comunista Zhao Ziyang foi deposto por se opor à repressão, e o governo qualificou os protestos de 'contra-revolucionários', ou seja, subversivos, definição que o regime ainda resiste em rever.

Bao Tong, que foi um importante assessor de Zhao, disse à Reuters que a China nunca vai esquecer os fatos de 1989.

- Esquecer o 4 de Junho é uma humilhação nacional, disse ele numa rara entrevista, em seu apartamento.

- O 4 de Junho foi uma tragédia não só para a China, mas para toda a humanidade. Ainda estaremos falando no 4 de Junho dentro de mil anos.

Na casa onde Zhao viveu com a família sob prisão domiciliar até a morte, em 2005, a presença policial permanece imutável.

- Você não pode entrar, os superiores disseram assim, alertou um guarda.

A praça da Paz Celestial está nesta data repleta dos habituais grupos de turistas chineses e estrangeiros, além de moradores empinando pipas, agentes à paisana e vans da polícia.

No extremo norte da praça, diante do retrato gigante de Mao Tse-tung, a polícia cercou uma mulher, vasculhou sua bolsa e a atirou no compartimento de carga da van, num sinal da rédea curta que ainda existe contra qualquer manifestante na China.

Apesar do empenho dos ativistas, o silêncio dentro da China a respeito daquele período faz com que muitos mal tenham conhecimento do que ocorreu no local.

Um ambulante chamado Zhang, vendendo cópias do Livro Vermelho de Mao, só admitiu se lembrar do aniversário depois de alguma insistência.

- Sei o que você quer dizer, afirmou.

- Mas venho aqui todo dia e não existe nada desse tipo agora.

- Não tenho idéia do que você está falando, disse outra mulher, de 26 anos, que veio de Xiamen (sul) com o marido e um bebê para visitar a capital.

A única pista na imprensa, rigidamente controlada pelo Estado, foi um artigo no sábado no Diário da Juventude com elogios aos heróicos policiais que mantêm a ordem e a segurança na praça.

Mas há alguns sinais de que os controles estão ficando mais brandos.

Ding Zilin, que lidera o grupo Mães da praça da Paz Celestial, pôde pela primeira vez depositar flores e realizar uma rápida cerimônia no local em que seu filho foi baleado, segundo o Centro de Informações para os Direitos Humanos e a Democracia, de Hong Kong, onde dezenas de milhares de pessoas devem participar de uma vigília que se repete anualmente à luz de velas.