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EUA: Começam as alegações da defesa em julgamento de ex-funcionário

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Agência EFE

WASHINGTON - Começaram nesta segunda-feira as alegações da defesa de Lewis Libby, ex-alto funcionário da Casa Branca, na segunda parte do julgamento, que pode contar com a presença do vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney.

O julgamento, que entra hoje em sua terceira semana, contribuiu para abalar não só a já manchada reputação da Casa Branca, como também a dos meios de comunicação do país, que não enfrentaram um Governo ávido por 'vender' seus argumentos para iniciar a Guerra do Iraque.

Por conta disso, alguns analistas já afirmaram que o que realmente está em jogo no tribunal de Washington, onde o caso é julgado, é a exploração mútua entre poderosos funcionários governamentais e influentes membros da imprensa.

Lewis Libby - ex-braço direito de Cheney e acusado de mentir para os investigadores que tentavam esclarecer quem tinha vazado à imprensa o nome da ex-agente da CIA Valerie Plame - estará sentado no banco dos réus.

A identidade de Plame foi tornada pública em julho de 2003, pouco depois de seu marido, o ex-embaixador Joseph Wilson, ter publicado um artigo no qual acusava a Casa Branca de utilizar argumentos falsos para justificar a invasão do Iraque.

Desde então, o caso continua em voga, assim como as discussões sobre as estratégias utilizadas pelo Governo para manipular a imprensa.

Catherine Martin, ex-diretora de comunicação do departamento de Cheney, é uma das que passou pelo tribunal durante o julgamento do "caso Libby', onde ofereceu toda riqueza de detalhes sobre os truques do Governo para disseminar suas mensagens.

Durante sua audiência, Martin contou como a Casa Branca vazava histórias a alguns repórteres, e vetava outros, como o colunista Nicholas Kristof, do jornal 'New York Times'.

Outro artifício comum era vazar as notícias ruins durante os fins-de-semana, para fazer com que fossem menos notadas.

O fato de o julgamento ter focado as relações do Governo com a imprensa se deve, em grande parte, à atitude do promotor especial do caso, Patrick Fitzgerald.

O promotor desafiou a noção de que profissionais da imprensa têm o direito de proteger suas fontes de apuração, e chegou a forçar a prisão da jornalista Judith Miller, do 'New York Times', que aceitou testemunhar após passar dois meses e meio atrás das grades.

O caso também evidenciou o quão normal se tornou o recurso das "fontes anônimas', algo que, segundo Miller, é muito comum, "sobretudo com esta Administração'.

E quando muitos pensavam que a situação da imprensa não poderia piorar, teve início a segunda parte do caso, na qual a defesa convocará um grande número de jornalistas para tentar contradizer os que já testemunharam.

Entre os jornalistas convocados está Tim Russert, da rede de televisão 'NBC', e que na semana passada negou que Libby tenha se inteirado da identidade de Plame por meio de uma conversa com ele, como afirmou o acusado.

Esse detalhe, aparentemente banal, pode ser crucial para o caso. Isso porque Libby pretende demonstrar que o vazamento do nome da espiã não foi uma campanha orquestrada por ele e por seu ex-chefe (Cheney) para desacreditar Joseph Wilson. Prova disso seria o fato de ele ter se inteirado do caso através da imprensa.

Durante o dia de hoje, o júri escutou a gravação de uma entrevista do jornalista Bob Woodward, do 'Washington Post', com o então subsecretário de Estado, Richard Armitage, realizada em junho de 2003, e na qual Armitage repete diversas vezes o nome de Plame.

Armitage reconheceu ter sido o primeiro a vazar a identidade da espiã para a imprensa.

Woodward entrevistou Libby apenas algumas semanas depois de ter falado com Armitage, e assegurou que este não lhe disse nada sobre Plame.