Agência EFE
SANTIAGO DO CHILE - O ex-ditador chileno Augusto Pinochet completará neste sábado 91 anos, envolvido em vários processos por violações aos direitos humanos e corrupção, mas com seus amigos interessados em fazer um ato de desagravo.
A informação foi fornecida hoje por pessoas próximas ao ex-ditador (1973-1990), que disseram que o ato acontecerá na casa de Pinochet, onde o passará o dia recebendo as saudações de aniversário.
- Pinochet se encontra em bom estado, considerando as doenças que tem - disse aos jornalistas o general reformado Guillermo Garín, porta-voz do ex-ditador.
- Ele não teve crise, mas fisicamente seu estado é bastante delicado - disse Garín, acrescentando que as saudações serão feitas por grupos de amigos, ex-membros do Exército e antigos colaboradores.
- Eles farão visitas em separado, para não afetar sua saúde - explicou Garín, enquanto outros partidários anunciaram um ato de reconhecimento "à obra" de Pinochet e de desagravo pelo que consideram "uma perseguição política" contra o ex-ditador.
As homenagens começaram já na última quarta, quando Cristián Labbé, ex-coronel e atual prefeito do município de Providencia, em Santiago, apresentou seu livro: 'De Pinochet a Lagos'. Na obra, o autor propõe que o Século XX teve quatro grandes personagens: João Paulo II, Margaret Thatcher, Ronald Reagan e Augusto Pinochet.
Para o vice-almirante retirado Jorge Llorente, presidente de uma organização de ex-militares, a manifestação "é da maior importância e justiça", ao tempo que o general reformado Jaime Núñez convocou "todos os chilenos' a comparecerem ao ato.
- Será uma manifestação em massa de desagravo ao ex-presidente Pinochet, pela infâmia a que foi submetido - afirmou Núñez.
Atualmente, nove juízes estão à frente de processos que incriminam Pinochet por seqüestros, desaparições e homicídios qualificados que têm relação com a Operação Colombo, empreendida em 1975 por sua Polícia secreta para encobrir o desaparecimento de 119 opositores.
Pinochet também está sendo processado por fraude ao fisco e uso de passaportes falsos no chamado 'caso Riggs', aberto após ter sido descoberto que o ex-ditador mantinha várias contas secretas no exterior, nas quais acumulou uma fortuna de US$ 26 milhões cuja origem não foi determinada.
Além disso, está desaforado e foi interrogado por torturas e homicídios cometidos em Vila Grimaldi, uma prisão clandestina da Dina (Polícia secreta) e sua perda de imunidade está pendente devido ao desaparecimento do sacerdote católico espanhol Antonio Llidó.
Além disso, o ex-governante de fato está desaforado em primeira instância pelo seqüestro e homicídio do químico e agente da Dina Eugenio Berríos, e será interrogado em breve por conta do julgamento que o juiz Baltasar Garzón realiza na Espanha.
Apesar de todos estes processos, Pinochet poderá receber com tranqüilidade os cumprimentos de seus amigos pelo seu aniversário, pois está em liberdade provisória, ao contrário do ano passado, quando completou 90 anos sob prisão domiciliar e não pode fazer festa.
Para Guillermo Holzmann, diretor do Instituto de Ciências Políticas da Universidad de Chile, o aniversário de amanhã marcará a passagem de anos com a pior situação judicial de Pinochet, pela quantidade de casos abertos, embora ainda não tenha havido condenação em nenhum deles.
Na opinião do advogado Eduardo Contreras, querelante em várias causas contra o ex-ditador, "o círculo de verdade e justiça está se fechando sobre Pinochet", e este novo aniversário o surpreende lúcido e suscetível de ser processado e condenado.