ASSINE
search button

Equador elegerá presidente em disputa baseada no medo

Compartilhar

AFP

QUITO - Os equatorianos, afetados pela instabilidade política, vão às urnas neste domingo para escolher seu presidente na mais disputada eleição desde o retorno do país à democracia, em 1978, com dois finalistas, um de esquerda e outro de direita, agarrados à mesma estratégia: infundir o medo diante de uma eventual vitória do adversário.

No segundo turno, os eleitores escolherão entre o magnata Alvaro Noboa - aliado dos Estados Unidos e inimigo declarado de Cuba e da Venezuela - e o ex-ministro da Economia Rafael Correa, simpatizante e amigo do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

O candidato da esquerda Rafael Correa passou a liderar, com 52% as intenções de voto, o segundo turno das eleições de domingo, contra os 48% concedidos ao magnata Alvaro Noboa, com o que estão em empate técnico, segundo pesquisa divulgada nesta sexta-feira.

De acordo com a sondagem da empresa Cedatos-Gallup, os indecisos representam 17% do eleitorado. Uma pesquisa da mesma empresa revelada no dia 17 de novembro concedeu a Noboa 52% das preferências contra 48% dadas a Correa, indicando que o milionário havia perdido 18 pontos em relação ao adversário.

Noboa saiu vitorioso no primeiro turno de 15 de outubro com 26,8% dos votos válidos, relegando Correa ao segundo lugar, com 22,8%.

Ao longo da campanha, os dois, um em cada ponta do espectro político, tentaram atrair o mar de indecisos apelando para a mesma arma: propagar o pânico, diante de um resultado adverso.

O mais incisivo foi o milionário de 56 anos, candidato pelo Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian), que advertiu que um governo do esquerdista transformaria o Equador em "outra Cuba" e deflagraria uma "guerra civil que terminaria em uma derrocada".

- Estou à frente nas pesquisas, mas lhes digo que Correa pretende montar um ministério com terroristas e chavistas - o mais extremo da esquerda -, comunistas que querem uma insurreição - ameaçou Noboa, em seu discurso de encerramento de campanha no porto de Guayaquil.

- Sabemos que você é comunista e que quer que corra sangue entre o povo, recessão e desemprego, governar como um ditador - acrescentou, em uma clara mensagem a Correa.

Quase que simultaneamente, o candidato do movimento civil Aliança País pedia o voto dos indecisos para evitar que o Equador se torne "uma fazenda bananeira".

- Não queremos ser um povo de mendigos, nem uma fazenda bananeira do herdeiro mais rico e convencido do país - gritou no comício, com o qual terminou sua campanha em Quito.

O ex-ministro da Economia também pediu aos indecisos para "consolidar" a vitória e ironizou um pedido similar feito por Noboa, de joelhos e quase chorando.

- O Equador vencerá as carteiras corruptas que quiseram comprá-lo. Acharam que éramos mendigos e hoje estão de joelhos chorando lágrimas de sangue - frisou.

Será em meio a essa troca de acusações que os 9,2 milhões de equatorianos irão votar, na expectativa de superar uma aguda crise de instabilidade que impediu, na última década, que os três presidentes eleitos concluíssem seu mandato, pressionados por revoltas populares que acabaram com sua destituição no Congresso.

Correa, chamado por seu rival de "diablo comunista" e "rei do mal", acrescentou mais tensão, às vésperas da votação, alertando que a campanha de Noboa "e seus sócios da oligarquia" tentarão uma fraude. Para evitar que isso aconteça, convocou seus partidários para que acompanhem, inclusive, os caminhões militares que vão transportar os votos.

Nesta sexta-feira, a missão observadora da OEA - questionada por Correa por sua "suposta parcialidade" - avaliou que as votações serão disputadas e pediu aos candidatos que tranqüilizem seus simpatizantes.

- Pedimos calma aos candidatos e a seus seguidores, para que esperem os resultados oficiais antes de qualquer pronunciamento diante do alto percentual de indecisão - disse o observador chileno José Antonio Viera.