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Alexander Litvinenko, o espião que mais incomodou Putin

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EFE

MOSCOU (Rússia) - Alexander Litvinenko, que morreu na noite de quinta-feira em um hospital de Londres por um suposto envenenamento que está sendo investigado pela Scotland Yard, foi o colega do presidente russo, Vladimir Putin, que mais incomodou o chefe do Kremlin.

Litvinenko, que, em 2001, recebeu asilo político na Grã-Bretanha - para onde tinha fugido após denúncias e a perseguição das autoridades russas -, foi internado em estado grave em uma clínica em Londres com sintomas de intoxicação de tálio, um metal incolor e inodoro altamente tóxico, usado para matar ratos e formigas.

A autópsia que será feita no corpo do ex-coronel da KGB trará, possivelmente, provas mais fortes sobre o suposto envenenamento.

Nascido em 1962, em Voronezh, cerca de 300 quilômetros ao sul de Moscou, Litvinenko foi convocado para as Forças Armadas em 1980 e, em menos de 20 anos, passou de soldado a coronel de um dos departamentos mais prestigiosos do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, antiga KGB): subchefe do Departamento 7, encarregado da luta contra o terrorismo e o crime organizado.

Sua carreira veio abaixo em novembro de 1998, quando ele deu uma entrevista coletiva em Moscou para denunciar toda uma série de ações ilegais dos dirigentes do FSB, então liderado por Vladimir Putin - que, na época, iniciou sua ascensão ao poder na Rússia.

Na época, o alto oficial de Segurança havia dito que, na presença de vários de seu colegas, tinha recebido a ordem de seu superior de assassinar o então secretário do Conselho de Segurança da Rússia e empresário Boris Berezovski, hoje asilado em Londres e inimigo declarado de Putin.

Pouco depois, o então chefe do serviço secreto e hoje chefe do Kremlin anunciou oficialmente que as denúncias de Litvinenko "não podiam ser comprovadas" e, em março de 1999, o então coronel foi acusado de "abuso de poder", retirado do cargo e detido.

Como conselheiro de Berezovski - quando era secretário do Conselho de Segurança -, o ex-coronel deveria ter gozado de imunidade. No entanto, ele foi enviado para a prisão de segurança máxima Lefortovo, sob controle direto do FSB.

Berezovski tentou evitar a prisão e, para isso, até se encontrou com Putin, na época já primeiro-ministro. A tentativa, contudo, foi inútil.

No entanto, em novembro de 1999, um tribunal declarou Litvinenko inocente das acusações que pesavam contra ele. Contudo, ele foi preso novamente pelo FSB na própria sala de julgamento, sob uma nova falsa acusação.

Em 2000, foi a Promotoria que se viu obrigada a encerrar o caso e libertar Litvinenko. Ao mesmo tempo, entretanto, foi feita uma terceira acusação contra ele, e o ex-coronel ficou proibido de abandonar sua residência.

Pouco depois, Litvinenko conseguiu fugir da Rússia e apareceu com sua família em Londres, onde pediu asilo político devido à "incessante perseguição por parte do serviço secreto russo".

O ex-coronel da KGB revelou pouco depois que, uma vez exilado na capital britânica, ele, sua esposa e sua filha recebiam ameaças freqüentes.

Desde que chegou ao Reino Unido, Litvinenko não parou de denunciar os excessos do regime russo.

O ex-espião afirmou em Londres que o serviço secreto tinha explodido dois edifícios residenciais em Moscou três anos antes, embora o Kremlin tenha atribuído o caso a terroristas chechenos.

Estes atentados ocorreram um dia antes do início da segunda guerra da Chechênia, que serviu de cenário para a campanha eleitoral de Putin à Presidência.

No final de 2001, foi publicado em Nova York seu livro "Blowing up Russia", que serviu de base para o roteiro de um filme produzido pela França.

Empenhado na defesa dos direitos humanos na Rússia, o ex-coronel trabalhava em contato estreito com a jornalista Anna Politkovskaya. Em outubro, quando a jornalista foi assassinada a tiros na porta de sua casa em Moscou, Litvinenko iniciou sua própria investigação.

Pouco depois de ter conseguido o asilo político na Grã-Bretanha, Litvinenko escreveu: "Tenho certeza de que chegará o dia em que minha família e eu poderemos retornar à Rússia".