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Igreja católica alemã pede desculpas por casos de abuso sexual

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A Igreja católica alemã apresentou oficialmente suas desculpas, nesta terça-feira (25), após a revelação dos casos de abuso sexual de mais de 3.600 menores durante décadas, e prometeu corrigir um problema que está longe de pertencer ao passado.

"Por todas as falhas e sofrimentos, eu gostaria de me desculpar", declarou o presidente da Conferência Episcopal alemã, Reinhard Marx, por ocasião da publicação de um amplo relatório sem precedentes, com o balanço dos atos de agressão sexual cometidos desde o Pós-Guerra.

"Os abusos sexuais são um crime e devem ser punidos", acrescentou, lamentando que a Igreja "tenha por muito tempo virado os olhos, dissimulado, negado" os fatos.

O documento de 356 páginas, cujo conteúdo foi vazado para a imprensa em meados de setembro, revelou a existência de pelo menos 3.677 vítimas, entre 1946 e 2014. A maioria foram garotos com menos de 13 anos, alvo de pelo menos 1.670 membros do clero.

"A amplitude dos abusos me abalou", declarou o professor Harald Dressing, do Instituto de Psicologia de Mannheim, coordenador desse estudo, que é apenas a "ponta do iceberg" e um problema ainda muito distante de pertencer ao passado.

"Os abusos sexuais são um problema persistente, e não um problema histórico" na Igreja católica, afirmou, na mesma entrevista coletiva.

O cardeal Marx prometeu fazer de tudo para superar esse problema, trabalhando na prevenção, ou na instalação de uma comissão para trazer luz aos fatos.

A Igreja Católica Apostólica Romana, que representa a primeira confissão cristã da Alemanha à frente do protestantismo, com mais de 23 milhões de fiéis no final de 2017, não está em seu primeiro escândalo desse tipo, e as pressões aumentam para que ataque o problema de verdade.

Esse relatório é um primeiro passo, "uma virada na história" da Igreja, considerou o cardeal.

Mas isso é pouco para as vítimas.

"o número real de pessoas que sofreram abusos sexuais (...) se situa em toda uma outra dimensão do que esse números sugerem", denuncia a associação de vítimas Eckiger Tisch, considerando "superficial" esse relatório baseado nos arquivos incompletos e sem citar uma única autoridade pelo nome.

O consórcio de pesquisadores das universidades de Mannheim, Heidelberg e Giessen, que fez a investigação, não teve acesso direto aos arquivos de 27 dioceses alemãs. Na verdade, foram examinados apenas 38.000 dossiês e manuscritos selecionados e enviados pela Igreja.

O poder político interveio, por meio da ministra da Justiça Katarina Barley, para exigir que a Igreja colabore com as autoridades judiciais, de modo que os culpados sejam identificados e punidos.

Para a associação Eckiger Tisch, o único meio de expor os abusos passa pela instalação de uma comissão de investigação independente patrocinada pelo Estado.

"Para isso, a Igreja deve estar preparada para abrir seus arquivos", reivindicou a ministra, exigindo ainda "compensações adequadas" às vítimas.

Apenas um terço dos suspeitos enfrentou procedimentos em virtude do direito canônico, mas as sanções eram mínimas, ou até inexistentes. Esses religiosos eram, com frequência, transferidos sem que os fiéis fossem sequer advertidos do risco potencial para seus filhos.

Austrália, Chile, Estados Unidos, Alemanha, França... Em todo mundo, acusações de estupro, abuso sexual, pedofilia e lesões corporais atingem a Igreja católica e seus dignitários.

O papa Francisco, que não escapou das críticas por sua gestão dos escândalos, convocou recentemente, para fevereiro de 2019, uma reunião no Vaticano de todos os presidentes das conferências episcopais no mundo sobre o tema da "proteção dos menores".

A Alemanha foi abalada por vários desses casos. Um dos mais chocantes é o do coral católico de Regensburg, onde, de acordo com o relatório de julho de 2017, ao menos 547 crianças sofreram lesões corporais e abuso sexual, incluindo estupro, entre 1945 e 1992.

O irmão do ex-papa Bento XVI foi acusado de fechar os olhos, mas dom Georg Ratzinger, que dirigiu esse coral milenar de 1964 e 1994, garantiu não ter conhecimento de nenhum dos abusos.

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