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Especialista faz análise do pronunciamento de Temer

"Talvez o Ato de Renunciar ainda não esteja totalmente descartado"

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O administrador Mario Junior, MBA em Logística Empresarial e sócio da S2 - Dimensão Humana do Risco -, publicou um texto em rede social no qual faz uma análise do pronunciamento do presidente Michel Temer após as delações do dono da JBS, Joesley Batista, terem vindo à tona.

Em seu texto, Mario Junior ressalta que a análise "tem como objetivo estimular o debate sobre a análise dos canais verbais e não verbais de comunicação, baseando em metodologia científica para assim identificar possíveis sinais de dissimulação e vazamentos no pronunciamento do Presidente."

Veja a análise de Mario Junior:

Vamos analisar por minutos:

00' 34" - "eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me citam". 00' 45" - "Solicitei, aliás, oficialmente, ao Supremo Tribunal Federal" Do ponto de vista verbal a técnica diz que Temer indica comprometimento com o seu relato pelo fato de usar o Pronome EU+VERBO no passado (eu tentei, eu solicitei). Do ponto de vista corporal enquanto diz que solicitou oficialmente sua mão direita faz o gesto similar ao que assina um ofício. Assim, indicando que ele realmente solicitou as informações ao Supremo, porém, até o seu Pronunciamento não havia recebido nada.

01'02" - Traz um assunto desnecessário e fora do contexto, saindo dos limites do seu pronunciamento ao falar: " o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação...." A técnica diz que um depoimento ou pronunciamento deve apenas falar do fato principal e não de situações fora de contexto.

01'40" - Apresenta Expressão Facial de descaso (puxa sua boca para o lado direito) ao final da seguinte frase: "E as reformas avançavam no Congresso Nacional". Será que realmente ele está contente com o avanço das Reformas?

01'43" - 02'03" - Ao dizer: "Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada". Do ponto de vista verbal Temer coloca culpa pela crise na gravação clandestina e não no ato que cometeu. Aliás, ele dá uma ênfase muito forte no fato de ser clandestina o que não seria necessário exceto se o objetivo dele seria dissimular. A pergunta que não se cala é: Se ele não tivesse envolvimento ele estaria colocando em sua prioridade de discurso o fato da gravação ser clandestina ou o fato dele ser inocente? O que deveria vir primeiro no seu discurso? Do ponto de vista facial apresentou expressão de raiva (fazendo levemente um “bico”) e tencionando suas sobrancelhas para baixo quando proferiu a palavra "clandestinamente".

Quando disse “de crise política” pressionou seus lábios como uma forma inconsciente de dizer: “Agora que o Governo estava melhorando”

02’35” - Quando Temer diz: “Não solicitei que isso acontecesse”. Ao invés de sua cabeça acenar de maneira negativa ela acena de maneira positiva, ou seja, contrariando seu discurso. Da mesma forma aos 02’56” sua cabeça o contrariou novamente acenando de maneira positiva quando disse: “Não comprei o silêncio de ninguém” além de pressionar seu lábios como uma forma de raiva contida com a situação.

03’07” – 03’13” – Na sequência ao justificar o porquê não comprou o silêncio disse: “Por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação, não preciso de cargo público nem de foro especial”. Do ponto de vista verbal temos alguns vazamentos importantes aqui. O fato é que Temer não consegue dizer que não comprou o silêncio. Ele não consegue verbalizar isso em suas palavras e nem muito menos consegue dizer que não tentou. Ele justifica que não tentou comprar o silêncio pelo fato de não ter medo de delação. Se ele não disse que não comprou não somos nós que diremos isso por ele.

Na sequência a vaidade e soberba surge por meio de duas objeções de status (não preciso de cargo público nem de foro especial). A técnica diz que uma objeção é uma razão pela qual uma pessoa tenta negar algo com uma desculpa, pois não consegue dizer que não fez algo ou que não está envolvido.

Aos 03’55” disse: “Não renunciarei, repito, não renunciarei!”. Note que do ponto de vista corporal há uma mudança no gesto de sua mão apresentando no seu discurso. No primeiro momento sua mão direita está representando o símbolo de OK e depois quando repete “não renunciarei” muda e coloca o seu dedo indicador para cima, mas não consegue fazer o gesto de negação. Talvez o Ato de Renunciar ainda não esteja totalmente descartado por Temer.

Por fim aos 04’47” encerra o seu discurso cerrando os dois punhos por duas vezes como uma forma inconsciente de indicar a todos que lutará para permanecer na Presidência.

>> Veja a publicação original