Em 1988, a novela Vale Tudo, da Rede Globo, mostrava um país mergulhado na corrupção, onde a mentalidade reinante era a de levar vantagem, custe o que custar.
Um diálogo entre a personagem Maria de Fátima (Glória Pires) e seu avô, Salvador (Sebastião Vasconcelos), retrata de forma cruel este cenário.
Maria de Fátima pede ao avô, funcionário da Aduana, que libere, em troca de suborno, a entrada de videocassetes para um amigo.
Ele recusa:
"Quem deixa passar mercadoria sem pagar imposto está prejudicando o Brasil"
Maria de Fátima retruca:
"O país já foi à falência econômica e moral. Isso aqui é um país de trambiqueiro. Vai conseguir o quê com sua honestidade? Ninguém presta, ninguém vale nada, ninguém cumpre lei nenhuma. De uma maneira ou de outra, aqui nessa terra todo mundo é corrupto."
O avô se mantém firme:
"Eu não quero ser conivente com essa polícia corrupta, com esse sistema penitenciário horrível, feio, imundo, triste. Princípio, dignidade e honra não são princípios abstratos. Quando eu morrer, eu queria muito te deixar de herança princípio, dignidade e honra."
Hoje, 28 anos depois, é triste constatar que o país pouco avançou: falência econômica e moral, trambiqueiros, corruptos e um sistema penitenciário horrível, feio e triste nunca foram tão atuais.
O país ainda aguarda o momento em que princípio, dignidade e honra prevalecerão.