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Eduardo Cunha sem saída

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Publicada na edição desta sexta-fera (8) do O Globo, artigo do colunista Lauro Jardim - que há muito é um dos poucos que vem abordando o assunto Eduardo Cunha com grande correção na informação - destaca que não há mais saída para o deputado afastado.

Confira:

Destino de Cunha está traçado

Eduardo Cunha renunciou no bojo de mais uma articulação para salvá-lo. O estratagema existe. Mas não importa. O que aconteceu na quinta-feira deve ser visto como mais um recuo de Cunha. Há pelo menos seis meses que Cunha só anda para trás. Em cada um desses recuos, Cunha entrega um anel. Em algum momento, terá que ficar sem os dedos.

O presidente da Câmara audacioso, todo-poderoso (“renúncia não faz parte do meu vocabulário”) e sem limites não está mais entre nós. Morreu e foi substituído por um político agonizante. Como não é qualquer um, reconheça-se, seu ocaso ocorre de forma mais lenta do que a de outros políticos.

Mas não há truque possível capaz de derrotar o que as delações estão revelando. Este é o ponto. A Lava-Jato, além de tê-lo desnudado, tirou sua capacidade de arrecadar, mesmo fora de período eleitoral, para engordar sua bancada.

Este sempre foi o seu grande trunfo. Recolher fundos nas grandes empresas — pelos meios que delatores premiados de vários quilates explicitaram nos últimos meses — e distribuí-los sobretudo ao baixo clero. Essa cadeia alimentar foi rompida por Curitiba.

O que sobra agora para Cunha é o seu poder de destruir, ameaçando contar o que sabe. Mesmo esse ativo já não é mais o mesmo. A prisão de Lúcio Funaro, na sexta-feira passada, roubou-lhe esse recurso. Funaro, o seu principal operador para ações heterodoxas, sabe da maior parte do que Cunha poderia revelar numa delação. E, como está preso e já foi delator no mensalão, poderá ele mesmo contar os segredos de Cunha ao Ministério Público Federal. Nesse sentido, nem o MPF precisa de Cunha para avançar na Lava-Jato.

Se o processo de cassação de Cunha for votado no plenário, nem ele tem esperança de escapar da degola. Se a cúpula da Câmara brigar com os fatos, tentando salvá-lo, travando a votação, a Lava-Jato se encarregará do futuro de Cunha. Não há saída para ele. É uma questão de tempo.