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Síntese da Conjuntura- destino trágico

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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o boletim quinzenal de fevereiro:

A situação de descalabro fiscal no Brasil não deixa dúvidas de que vamos amargar a crise atual durante muitos anos. São 5.576 Municípios quebrados, arrastando suas onerosas Câmaras de Vereadores apinhados de auxiliares e assistentes, com salários exuberantes. Difícil encontrar recursos para pagar tudo isso e ainda sobrar para realizar os investimentos mais necessários. No âmbito estadual e federal é a mesma coisa, as despesas gerais superando de longe a carga tributária, de onde resulta o crescente endividamento público.

A corrupção nos setores executivos mais importantes só é comparável à falta de ética na política. As reivindicações trabalhistas dificultam as soluções necessárias, até mesmo na área da Previdência, cujo descompasso é uma trágica ameaça aos próprios trabalhadores. Os movimentos populares de rua perderam a noção da realidade, com propostas tais como: o passe livre, transporte urbano gratuito para todos, sem se preocupar com os custos e sem resposta à lógica da pergunta sobre quem vai pagar o prejuízo. Será que esses postulantes não pensam que para gerar tais benesses o Governo precisa aumentar os impostos?

PERPLEXIDADE UNIVERSAL

O mundo todo, de ponta a ponta, da Europa à Ásia, da América Latina à África, atravessa uma fase de extrema dificuldade, com exceção dos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Coreia do Sul. A Rússia ostenta altíssima taxa de inflação e crescimento negativo do PIB. A China (em menor escala) e a Índia ainda mantêm altas taxas de crescimento, mas convivem com agudos problemas de pobreza e desigualdades sociais.

A situação do Oriente Médio é o caos: com destaque para Iraque, Síria, Turquia, Líbano, Iêmen, o mesmo que no Norte da África, como Nigéria, Marrocos, Argélia, Líbia, Tunísia e Egito. A brutal queda no preço do petróleo, de US$120 o barril para cerca de US$30,00, está arrasando a economia dos países produtores.

A espantosa migração para a Europa dos povos do Oriente Médio e do Norte da África é um fenômeno crucial, que está ameaçando a recuperação da Europa e gerando dramas familiares cruciantes. O mesmo ocorre nos Estados Unidos, em relação aos povos do Caribe. Um drama explosivo.

O Brasil é um caso de destaque: campeão da inflação e do baixo crescimento do PIB, da taxa de juros e da carga tributária mais altas do mundo, ainda lidera o triste campeonato da corrupção.

Em todo esse cenário, o que mais assusta é a falta de perspectiva para sair da crise e de promessas para a juventude atual, diante da escassez de oportunidades de emprego.

BOM SENSO

A 196ª Reunião (19 e 20/1/2016) do Copom ascendeu uma luz de bom senso no Banco Central, que resistiu à obsessão de elevar a taxa anual de juros básica (SELIC), mantida em 14,25%, embora ofuscada pela presença do FMI, que teria influenciado a decisão. Continua o divórcio acintoso entre a política monetária e a política fiscal, uma demonstração de que o Conselho Monetário Nacional está ocioso.

NON SENSE

Não poderia deixar passar sem exibir na Galeria do Non Sense o documento abaixo transcrito: LEI Nº 13.248, DE 12 DE JANEIRO DE 2016.

Institui o dia 18 de junho como   Dia do Tambor de Crioula.

A P R E S I D E N T A  D A  R E P Ú B L I C A

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 

Art. 1º Fica instituído o Dia do Tambor de Crioula, a ser celebrado, anualmente, em todo território brasileiro, na data de 18 de junho. Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 12 de janeiro de 2016; 195º da Independência e 128º da República.

DILMA ROUSSEFF

Digna também de figurar nessa galeria é a Instrução Normativa da Receita Federal que vai obrigar os bancos a informar ao Fisco as movimentações financeiras acima de R$ 2 mil, entre pessoas físicas e jurídicas.

ATIVIDADES ECONÔMICAS

A redução do crescimento mundial e a queda dos preços das commodities contribuíram para a recessão das atividades econômicas no Brasil, em 2015, como se vê pela queda de 2,1% no consumo de energia elétrica: industrial (-5,3%), residencial (-0,7%); no comércio, o consumo teve ligeira alta de 0,6%. A tarifa de energia elétrica subiu 51% no ano.

As empresas estatais reduziram seus investimentos em 16%, com destaque para Petrobras, que investiu 82% do orçado, Eletrobras 67,5% e Portos 46%.

É impressionante ver as demonstrações de alegria do povo brasileiro, a multidão de jovens felizes e descontraídos acompanhando os blocos de carnaval, em todos os cantos do Brasil. Esse povo não merece o Governo que tem.

Indústria

A produção da indústria teve queda recorde de 8,3% em 2015, com destaque para a produção de bens de capital, que caiu 25,5% e a indústria automobilística, com redução de 25,9% seguida de bens de consumo duráveis (-18,7%) e materiais de construção (-12,6%). Na indústria paulista houve queda de 6,1%. O nível de utilização da capacidade industrial caiu de 80,6% em dezembro/14 para 77,5% em dezembro/15. Houve queda real no faturamento de 8,8% (CNI).

A produção de veículos continuou caindo em 2016 e, em janeiro, ficou 29,3% abaixo de janeiro/15. O setor de autopeças também continua em queda, com demissão de 29,8% dos trabalhadores. Em 2015, a produção depetróleo no Brasil cresceu 8,12%, chegando a 2,436 milhões de b/d, e a de petróleo e gás com 3,043 milhões (+8,6%).

A indústria Klabin recuperou o prejuízo de 2014 e apresentou lucro de R$521 milhões no 4º trimestre de 2015. O Grupo espera um importante crescimento nas exportações de 2016. 

Comércio

Após o resultado negativo em 2015 (-4,0%), as vendas no varejo continuam em queda em janeiro/16, com retração de 9,6% em relação a janeiro/15, segundo a Serasa, com destaque para indústria automobilística (-20,4%), vestuário, calçados, tecidos (-15,3%), móveis e eletrodomésticos (-13,1%), supermercados, alimentos e bebidas (-6,7%) e material de construção (-2,4%). Apenas o setor de combustíveis e lubrificantes teve alta de +3,8%. As vendas de eletrodomésticos da linha branca tiveram a 1ª queda em seis anos. Em São Paulo, o índice de expansão do comércio registrou queda de 2,2% em janeiro (Fecomércio-SP). A ABRAS prevê nova queda de vendas nos supermercados, em 2016.

Agricultura

Segundo o IBGE, a safra brasileira de grãos atingirá em 2016 o sétimo recorde consecutivo, com 210,7 milhões de toneladas. A produção de soja está prevista para 100,9 milhões de toneladas, mas a produção de milho deve ser prejudicada pelo atraso no regime de chuvas no Centro-Oeste, embora com produtividade estável em Mato Grosso.

Mercado de Trabalho

O número de pessoas desempregadas na Região Metropolitana de São Paulo aumentou 23,8% entre 2014 e 2015. A taxa média de desemprego subiu de 10,8% para 13,2%, tendo chegado a 14,1% em novembro/15 e 13,9% em dezembro/15.

O rendimento médio mensal dos ocupados na RMSP subiu 1,2% de outubro para novembro, mas houve queda em relação a novembro/14.

Setor Financeiro

Conforme vimos no Boletim anterior, o volume de crédito cresceu apenas 6,6% em 2015, chegando a 54,2% do PIB, a menor expansão desde 2007. O crédito livre para pessoas físicas avançou 7,3%, com alta de 8,4% no crédito consignado.

No caso das empresas, o crédito para capital de giro caiu 3,5%. O mercado aguarda o impacto da expansão que será propiciada pela liberação dos R$83 bilhões para resgate das “pedaladas”.

Em janeiro, os saques nas cadernetas de poupança superaram os depósitos em R$12 bilhões. A inadimplência registrou aumento de 5,1% na Região Sul, de 7,62% no Nordeste, de 6,24% no Oeste e 3,92% no Norte.

Inflação

A inflação brasileira desconhece totalmente as mágicas das taxas de juros anunciadas pelo Banco Central, e vem se mantendo nas alturas, apesar da forte recessão econômica. Em 2015, só houve um mês – o mês de agosto – com inflação mensal abaixo de 0,50%: o IPCA/IBGE com 0,22% e o IGP-M/FGV com 0,28%. No ano, a inflação oficial terminou com 10,67%.

Em janeiro último, a inflação gregoriana de remarcação dos preços, chegou com toda a força, principalmente na faixa das famílias de baixa renda, com registro de mais 1,29% no IPCS e alta de 1,91% no IPC/FGV, acumulando 11,42% em 12 meses. Principais fontes: transportes (+4,02%), alimentação (+2,63%), habitação (+1,04%) e educação (+3,73%), com destaque para o aumento de 6,11% nas tarifas de ônibus, de 2,53% na eletricidade residencial e dos alimentos, como tomate (+27,32%), cebola (+27,89%) e batata inglesa (+13,08%).

A projeção do IPCA para o final do ano é de 7,26%, segundo o Boletim FOCUS/BC.

No mercado internacional, a FAO apresenta dados de constante queda dos preços agrícolas, conforme quadro anexo.

Setor Público

Está cada vez mais claro que o Governo não conseguirá atingir a meta de 0,5% (R$30,6 bilhões) de superávit primário, em 2016, e começa a pensar na adoção de uma meta flexível (?).

Aliás, vale insistir que essa meta de 0,5% é irrisória, para não dizer ridícula, pois para pagar apenas metade dos juros que pesam sobre a dívida pública seria necessária uma economia de R$250 bilhões (déficit primário), SETE vezes maior do que está sendo proposto.

Como vimos no Boletim anterior, o Governo central encerrou 2015 com déficit primário de R$111,3 bilhões, após o pagamento das “pedaladas” (R$50 bilhões), registrando um déficit nominal de R$613 bilhões (!), que elevou a dívida para R$3.927,5 bilhões (66,2% do PIB). Com o aumento do desemprego, a arrecadação do FGTS caiu 21,8%.

Setor Externo

Após registrar saída líquida de dólares em dezembro/15, a economia brasileira voltou a ter resultado positivo de US$1,475 bilhões em janeiro/16. A empresa de rating S&P manteve a Petrobras em perspectiva de risco, devido ao alto nível de dívida da empresa e ao negativo ambiente político do Brasil.

O Banco Central continua perdendo recursos com as discutidas operações de swap, para impedir a desvalorização cambial; em janeiro/16, perdeu mais R$16,8 bilhões!

No cenário internacional, o PIB americano desacelerou de 3,9% no segundo trimestre de 2015 para 1,5% no terceiro trimestre, enquanto a taxa de desemprego desceu de 5% para 4,9%.

Em dezembro /16, o FED elevou a taxa básica de juros de 0,25%, para 0,50%, primeira elevação desde 2006. Na Europa, a alta na produção agrícola de grãos vai pressionar a baixa dos preços. O índice de desemprego na Alemanha caiu de 6,3% em dezembro/15 para 6,2% em janeiro.

Na China, a produção das grandes siderúrgicas sofreu retração de 2,3% em 2015, com prejuízo de US$9,8 bilhões. As reservas cambiais chinesas caíram cerca de US$100 bilhões entre dezembro/15 e janeiro/16, totalizando US$3,23 trilhões. O PIB da Índia subiu 7,3% no ano passado.

O Japão convive com o drama demográfico de sua população decrescendo e envelhecendo. Atualmente, as pessoas com mais de 65 anos representam 43% da população em idade ativa, caminhando para 53% em 2030.