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Síntese da Conjuntura: A economia brasileira

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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o boletim quinzenal:

Segundo o Banco Central, o PIB brasileiro recuou 1,41% no 3º trimestre, acumulando ao ano retração de 3,37%. A economia brasileira continua em declínio, revelando uma forte tendência de queda das atividades econômicas. Segundo projeções da CNC, o PIB nacional poderá ter uma redução de até 3,6% em 2015 e prosseguir com recessão em 2016 e 2017.

O total de investimentos neste ano deverá registrar um recuo de 14,5% em relação ao ano passado, tanto devido ao setor público que não tem recursos para investir, como ao setor privado que não tem confiança na política econômica do Governo.

Os poucos setores que mantêm programas de investimentos são aqueles de menor risco conjuntural e menor dependência do Governo, como é o caso do setor de papel e celulose. Na área externa, a maioria das empresas que poderiam ajudar a tirar o País da crise está em recessão. No período janeiro outubro, as exportações registraram queda de 16,4% e as importações de 23,5%.

O cerne dos maiores problemas na atual conjuntura é a crise no setor fiscal, onde o colossal déficit de R$446,2 bilhões acumulado no período janeiro-outubro resulta de um déficit primário de R$19,9 bilhões mais R$426,2 bilhões de juros não pagos.

O Governo está operando em meio a colossal crise de credibilidade, rolando integralmente a dívida pública, com o peso de 17% de juros a mais, que vêm se acumulando ao longo dos anos.

Em 2015, deverá pagar cerca de R$500 bilhões de juros, sobre uma dívida de quase R$4 trilhões, caminhando para 70% do PIB em 2016.

RECEITA MÁGICA

“Dentro das restrições institucionais e físicas em que nos encontramos, devia ser claro que a atual receita do pensamento mágico 1) facilitar o crédito para estimular o setor privado; e 2) ampliar a dívida pública federal para estimular os seus gastos, tem todos os ingredientes para produzir um alívio instantâneo e completar a catástrofe...

 A primeira sugestão ignora que não há falta de oferta de crédito. O sistema financeiro está mais seletivo e o custo do crédito mais alto, mas nem trabalhadores, nem empresários o estão demandando.

Se desapareceu a confiança entre o Governo e o setor privado; se as incertezas afastam os investimentos; se a queda do emprego e do salário assustam os trabalhadores; se a desconfiança entre os agentes impede a livre realimentação das rendas, então de nada adiantará a expansão do crédito ou o aumento da dívida.”

Antonio Delfim Netto – VALOR

24/11/2015

ATIVIDADES ECONÔMICAS

De acordo com levantamento da CNC, 144 mil lojas do comércio fecharam as portas, neste ano até outubro, sendo 18.400 lojas no setor de informática. O percentual de famílias endividadas caiu de 62,1% em outubro para 61% em novembro e aquelas com contas em atraso caiu de 23,1% para 22,7%. 

De janeiro a outubro, 977 empresas entraram na Justiça com pedidos de recuperação judicial. Economistas reunidos na AMBIMA expressaram suas opiniões de que a situação político-econômica vai agravar fortemente no 1º trimestre de 2016.

Indústria

No período de janeiro a setembro, o setor industrial registrou queda de 7,4%, pelo décimo oitavo mês consecutivo, com destaque para a indústria de transformação, que caiu 9,2% e de bens de capital, com queda de 20,4%. Operando com 69% de sua capacidade instalada, o setor siderúrgico atravessa uma das piores fases de sua história, com queda de 2% na produção de aço bruto. A indústria eletrônica, que emprega 260.776 trabalhadores, já demitiu 32.834 até outubro.

Segundo a CNI, o índice da produção industrial subiu de 42 pontos em setembro para 44,6 em outubro, mas para a FGV, o índice de confiança dos empresários da indústria caiu de 76,2 em setembro para 74,3 em outubro.

A produção média de petróleo e gás pela Petrobras chegou a 2,57 milhões de b/d em outubro, 1,6% acima de setembro.

Comércio

O volume de vendas do comércio caiu 0,5% em setembro ante agosto, acumulando no ano queda de 13,0% no setor de móveis e eletrodomésticos e de 4,4% em combustíveis e lubrificantes.

Geograficamente, foram destaques na queda o Espírito Santo (-11,3%), Goiás (-10,1%) e Paraíba (-9,1%). A CNC prevê queda de 4,0% no comércio, em 2015 e -2,9% em 2016. O setor de serviços recuou 4,8% em setembro, em relação a setembro/14.

O indicador do nível de estoques varejistas em São Paulo subiu 2,9% em novembro, ante outubro, mas caiu 15,4%, em relação a novembro/14. O índice de confiança do comércio subiu 4,6 pontos em novembro, ante outubro (FGV). A intenção de consumo das famílias caiu 2,5% em novembro, ante outubro, e 36,6% em relação a novembro/14.

Agricultura

O ano 2015 não está sendo totalmente favorável para a agricultura. O fenômeno El Niño está provocando chuvas abundantes no Sul e seca no Nordeste, com redução da oferta de trigo e de arroz. O Nordeste enfrenta a pior seca em 50 anos.

A safra de café 2015/16 foi revisada pelo USDA para 49,4 milhões de sacas, com queda de 9% sobre a previsão anterior. Os preços da soja, que vinham em baixa desde 2014, podem começar a melhorar.

Mercado de Trabalho

Com maior número de pessoas procurando emprego, segundo a PNAD contínua do IBGE, a taxa de desemprego aumentou de 8,3% para 8,9% no 3º trimestre, em 25 das 27 capitais; em 11, já supera 10%, com destaque para Salvador (16,1%), São Luis (14,7%) e Macapá (13,9%). Ao todo, são 2,274 milhões de pessoas a mais procurando emprego, perfazendo o total de 8,979 milhões de desempregados.

Em outubro, foram fechadas 170 mil vagas, acumulando no ano o total de 819 mil, o pior resultado em 23 anos. A renda do trabalhador em outubro teve queda de 0,6% sobre setembro e de 7,0% em relação a outubro/14. A indústria paulista demitiu 20,5 trabalhadores em outubro e 159 mil em 10 meses. 

Setor Financeiro

A recessão econômica está refreando a expansão do crédito em 2015. Até outubro, a expansão do financiamento bancário atingiu 4,6%, sendo apenas 1,6% nos bancos privados (recursos livres) e 7,9% nos bancos públicos (recursos direcionados).

Os financiamentos do BNDES caíram 34,4% em outubro, frente a outubro/14, e nos dez primeiros meses de 2015 acumularam queda de 28%. Entre janeiro e outubro, o saldo das cadernetas de poupança teve queda de R$54 bilhões.

Segundo a pesquisa Peic, divulgada pela CNC, o percentual das famílias endividadas caiu de 62,1% em outubro para 61% em novembro.

Inflação

O Banco Central manteve a taxa SELIC em 14,25% e ainda não descobriu que está inviabilizando qualquer possibilidade de ajuste fiscal. E pensar que dois diretores votaram pela alta da taxa (!?).

Em outubro, a inflação se manteve em alta, principalmente nos preços do atacado, com espantosa alta de 2,38% no IPA-DI/FGV. Com isso, o IGP-M/FGV subiu 1,89% e o IGP-DI +1,76%. O IPCA/IBGE, que havia caído a 0,22% em agosto e 0,54% em setembro, chegou a 0,82% em outubro.

Nos últimos 12 meses, o preço dos alimentos subiu 68%! Para os analistas da pesquisa FOCUS, o IPCA fechará 2015 com alta de 10,04% e chegará em 2016 com alta de 6,5%. A primeira prévia do IPCA de novembro indica alta de 0,85%.

Setor Público

As contas do Tesouro Nacional continuam afundando. Em outubro, foi registrado um déficit primário de R$11,5 bilhões, ou seja, não se economizou um real sequer para pagar os juros de R$17,9 bilhões. Em consequência, o déficit nominal chegou a R$446,2 bilhões e a dívida bruta a R$3.813,9 bilhões. No ano, o déficit do Governo central chegou a R$33 bilhões.

O déficit da Previdência Social chegou a R$19,8 bilhões. O Governo está discutindo com o Congresso Nacional a aprovação dos Orçamentos de 2015 e 2016. Para 2015, está sendo discutida a meta de R$119,9 bilhões para o déficit primário. Para 2016, pretende-se fixar um superávit fiscal de 0,7% do PIB (R$43,8 bilhões).

Nesse meio tempo, o Congresso manteve os vetos da Presidente Dilma ao aumento dos servidores do Judiciário e à extensão das regras do salário mínimo aos beneficiários do INSS, que representariam gastos públicos de R$36 bilhões e R$9,2 bilhões, respectivamente.

Setor Externo

O saldo da balança comercial brasileira de US$12,2 bilhões, o maior dos últimos três anos, é um relativo sinal positivo, quando se sabe que a realidade é uma queda das exportações de 16,4% (US$160,5 bilhões) e de 23,8% das importações (US$148,3 bilhões), no período de janeiro a outubro. O resultado das exportações vem caindo sucessivamente desde 2012 (-5,3%), seguindo negativo em 2013 (-0,2%) e 2014 (-7,0%).

Geograficamente, a queda das exportações é generalizada: -14,5% para a China, -9,55% para os Estados Unidos, -10,8% para a Argentina, -27,2% para a Holanda/Bélgica, -21,8% para a Alemanha, -30,9% para o Japão.

Também caíram as importações brasileiras da China (-13,6%), dos Estados Unidos (-23,4%), da Alemanha (-25,4%), da Argentina (-25,3%), do Japão (-16,3%), etc.

No período assinalado de dez meses, o saldo negativo registrado em C/Correntes foi de US$53,5 bilhões, com destaque para remessas de juros (US$18,5 bilhões), lucros e dividendos (US$15,9 bilhões), royalties (US$17,8 bilhões), transporte internacional (US$5,1 bilhões) e viagens (US$10,4 bilhões).

No canário internacional, destacam-se dois fatos de maior importância para o Brasil:

1º) O Tratado Transpacífico de Comércio Livre (TPP), firmado pelos Estados Unidos e o Japão com mais 10 países, em que o Brasil ficou de fora; e 2º) a eleição de Macri para a Presidência da Argentina, que poderá representar sensível melhoria para o Brasil, no quadro do Mercosul.