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Síntese da Conjuntura: a questão social

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A Confederação Nacional do Comércio (CNC), em seu boletim “Síntese da Conjuntura”, elaborado pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Ernane Galvêas, faz as análises do atual cenário econômico. Veja abaixo o boletim quinzenal, publicado no dia 30 de setembro:

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2013, realizada pelo IBGE, apontou estagnação econômica nos principais indicadores. A taxa de desemprego nacional ficou em 6,5% em 2013, acima dos 6,1% registrados em 2012. O índice Gini, que mede a concentração de renda, entretanto, melhorou ligeiramente de 0,496 em 2012 para 0,495 em 2013. Segundo o IBGE, o quadro é de estagnação, mas é nítida a tendência de melhoria. Embora tenha havido um aumento da população ocupada, com mais pessoas trabalhando, a oferta de emprego reflete o nível mais baixo das atividades econômicas, especialmente na indústria. Nota-se, a partir de 2003, uma tendência de crescimento do emprego com carteira assinada, que chegou a 64,1% em 2012 e a 64,2% em 2013.

Também no campo educacional, houve melhoria, segundo o PNAD, com redução do analfabetismo, cuja taxa caiu de 8,7% (2012) para 8,5% (2013), para pessoas de 15 anos ou mais. Em 2013, 297,7 mil pessoas aprenderam a ler, mas ainda há 13,3 milhões de analfabetos no País. O número de brasileiros sem Ensino Fundamental completo caiu de 33,5% para 31,2% e sem Ensino Médio passou de 4,0% para 3,9%.

Segundo a análise da equipe técnica do Governo, especialmente Marcelo Neri, Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, como mostra a PNAD, o salário real cresceu 3,8%, ante 2012 e a formalização do trabalho bateu recorde.  

OS DESVIOS DA POLÍTICA ECONÔMICA  

O ambiente econômico, no Brasil, é de grande mal estar, incerteza e falta de confiança. Pelo lado político, já temos 12 anos de PT no poder, com todas as distorções da administração pública, que vão desde os escândalos de corrupção até o aparelhamento do Estado, em que os interesses políticos partidários, aliados às Centrais Sindicais e suspeitas ONGs, formam a hegemonia do Poder. 

Do lado econômico, estamos assistindo a exaustão do modelo macroeconômico da prioridade do consumismo e da excessiva intervenção do Estado, seja manipulando a inflação, com o sacrifício da Petrobras, da Eletrobrás e dos transportes urbanos, seja desorganizando a política creditícia, mediante abusivos privilégios atribuídos à Caixa Econômica e ao BNDES.  

É chegada a hora de retomar o equilíbrio fiscal, extinguir o malabarismo da contabilidade criativa e promover o saneamento das contas públicas, visando à redução dos gastos de custeio e a promoção dos investimentos nos setores essenciais da infraestrutura.

Voltando ao quadro político, duas reformas do sistema atual se apresentam como fundamentais: primeira, a redução do número de partidos políticos, através da aprovação de uma cláusula de “barreira”; segunda, a revogação da lei que permitiu a reeleição dos cargos executivos da presidência da república, governos estaduais e municipais, mantendo-se no exercício de suas atividades.  

Do mesmo modo, no campo econômico, impõe-se a fixação de rígidos limites para a carga tributária e para a dívida pública, de modo a conciliar o exercício das políticas fiscal e monetária, em benefício do crescimento econômico com estabilidade monetária e elevado nível de emprego. 

É importante integrar a ação efetiva do Banco Central à política econômica, evitando-se a prática de uma dupla política monetária, como ocorre atualmente.

Pelo visto, a partir de 2015 já não mais será possível promover qualquer ajuste fiscal via aumento de carga tributária, tornando-se inadiável iniciar um programa de cortes de gastos. 

 CENÁRIO INTERNACIONAL

A mudança de rumo na política monetária norte-americana, no sentido de reduzir o ritmo de expansão da liquidez (quantitative easing), acentuou a volatilidade nos mercados de taxa de juros e de câmbio.

Especula-se que um aumento na taxa de juros americana poderá fortalecer o dólar e atrair capitais para os Estados Unidos, em detrimento dos países emergentes, inclusive o Brasil. Essa hipótese faz parte do jogo especulativo, mas, a nosso ver, não terá maiores consequências, pois na medida em que maior soma de capitais aflua aos Estados Unidos, menor será a elevação dos juros. O mercado livre vai se encarregar de corrigir os excessos. 

Surpreendente foi o lançamento IPO do Grupo e-commerce da empresa chinesa Alibaba, na Bolsa de Nova York, no montante de US$ 21,8 bilhões, com ágio de 38%. 

ATIVIDADES ECONÔMICAS  

O nível de atividades econômicas no Brasil caiu 0,6% no 1º semestre, influenciado pelo número menor de dias de trabalho em junho, mas teve uma ligeira reação de 0,7% no 3º trimestre. Esse resultado não muda a tendência de estagnação do PIB em 2014 que, segundo a CNC, deverá registrar crescimento entre zero e 0,1%, puxado pela queda anual de -6,0% nos investimentos e de -3,5% nas exportações. Também o Banco Central derrubou sua previsão para o PIB de 1,6% para 0,7%.  

A inadimplência das empresas cresceu 5,5% em agosto e o clima de falta de confiança permanece entre empresários e consumidores. Paira sobre o cenário econômico, o fantasma de falta d´água na região Sudeste, inclusive com possibilidade de racionamento e queda de suprimento de energia elétrica. Há esperanças de que volte a chover em outubro, mas o nível do Cantareira já caiu a 7,4% da capacidade e estão secos os principais afluentes do Rio São Francisco. Devido ao baixo nível da hidrovia Tietê–Paraná, foi interrompido o transporte de grãos. 

Segundo a CNC, o índice de inadimplência das famílias recuou de 63,6% em agosto para 63,1% em setembro, mas o total do endividamento subiu de 55,1% em agosto/13 para 56,2% em agosto/14. O percentual das contas em atraso ficou estável em setembro (19,2% do total).

Indústria  

Após a alta inusitada de 7,5% em 2010, após a crise de 2009, a produção industrial brasileira vem declinando sucessivamente e, neste ano de 2014, tem um crescimento previsto de menos 2,2%. Em agosto, a indústria cresceu 0,7%, mais ainda acumula queda de 3,1% no ano.

A produção de aço bruto em agosto teve queda de 1,4% em relação a agosto/13, acumulando no ano o total de 22,6 milhões de toneladas e de 16,6 milhões de toneladas de aços planos, quedas de 1% e 5,3% respectivamente.  

Segundo a Fenabrave, em setembro foram vendidos 282.519 automóveis, 9% acima de agosto e 3,9% abaixo de setembro/13. O consumo de energia na indústria caiu 5,1% em agosto, ante agosto/13. A venda de imóveis residenciais novos caiu 31,3% em São Paulo, no mês de julho frente a junho. Segundo a CNI, o ritmo da indústria imobiliária é o menor desde 2009, com projeção de perda de -5,2% em 2014. A venda de computadorescaiu 26% no 2º trimestre.  

Comércio

Segundo o SCPC, as vendas do comércio caíram 1,4% em agosto, sobre julho, mas no acumulado de 12 meses continua registrando alta de 4,2%. As vendas nos supermercados tiveram alta de 2,63% em agosto/13 (Abras). Em São Paulo, as vendas a prazo subiram 3,8% em setembro, ante agosto, acumulando no ano alta de 1,5%.

A receita do setor Serviços cresceu 1,9% em julho, ante junho e +4,6% sobre julho/13, com destaque para serviços profissionais (+7,0%), informação (+2,1%), transportes (+4,6%) e serviços às famílias (+5,4%), de acordo com o índice PMS do IBGE.

O consumo da classe C está perdendo fôlego, segundo levantamento da CNC.

Agricultura

Apesar das variações do clima, a produção nacional de soja deverá crescer 11% na safra 2014/15. A safra de café é estimada em 45,1 milhões de sacas, sendo 22,6 milhões em Minas Gerais e 12,8 milhões no Espírito Santo, 32,1 milhões de café arábica e 13 milhões de canilon.  

O PIB do agronegócio subiu 3,9% em 2013 e deverá subir 3,8% em 2014. A grande preocupação da agricultura é a diminuição das chuvas, especialmente na região Sudeste-Centro Oeste. 

 Mercado de Trabalho

Segundo o IBGE, a taxa de desemprego ficou em 5,0% em agosto, praticamente dentro da média dos últimos três meses. O emprego formal, com carteira assinada, subiu 0,7% em agosto sobre julho e +0,4% ante agosto/13. Nas mesmas comparações, o emprego informal subiu 2,4% e caiu 8,9%. 

O rendimento médio do trabalhador brasileiro ocupado, segundo a Pnad, subiu 5,76% em 2013, para R$1.681, ante R$ 1.590 em 2012, mas o avanço foi desigual. A renda dos mais ricos avançou em um ritmo mais forte que o rendimento dos mais pobres, causando aumento da disparidade de renda. 

Desde 2011, a criação de vagas no comércio varejista passou de 389 mil para 330 mil em 2012 e 262 mil em 2013, todos na série ajustada. Em 2014, o saldo até agosto é negativo em 40 mil, ante uma criação de 41 mil novos postos de trabalho no mesmo período do ano passado. 

O emprego na indústria caiu 0,8% em agosto, a sexta queda consecutiva (CNI). 

Segundo o DIEESE, a taxa de desemprego ficou em 11,3% em agosto, comparada com 11,4% em julho, enquanto o rendimento médio real foi de 0,6% em julho.

Setor Financeiro

A expansão do crédito no sistema financeiro continua perdendo força. Em agosto subiu 1,0%, nos últimos três meses 2,1%, no ano 5,5% e em 12 meses 11,1%, sendo 5,0% no setor privado e 19,0% nos bancos públicos. A liberação dos depósitos compulsórios pelo Banco Central (R$40 bilhões) pouco influiu nessa expansão. O saldo das operações de crédito para compra de veículos teve queda de 0,3% em agosto, acumulando retração de 4,7% em 12 meses.  

O ingresso de recursos externos na Bovespa já ultrapassa R$21,5 bilhões neste ano. É o melhor acumulado anual da história da instituição. Até dezembro, a cifra pode alcançar R$ 27 bilhões. 

 Inflação

Embora intensamente estigmatizada pelos analistas de mercado, a inflação não é o pior problema, na conjuntura atual. Nos últimos quatro meses, o índice de preços no atacado tem registrado deflação. Em setembro, o IGP-M/FGV, após sucessivas quedas, subiu 0,20%, acumulando em 12 meses alta de 3,54%. Também registrou pequena alta de 0,21%, em setembro. Em agosto, os preços ao produtor (IPP) subiram 0,48%, acumulando no ano alta de 1,1%. A prévia do IPCA, em setembro, subiu 0,39%.

Importante: No mercado internacional, em setembro, os preços dos produtos agrícolas registraram forte queda. A maior queda foi no farelo de soja (-16%), seguida do trigo (-13,0%), do milho (-11%) e do algodão (-28%). Na contramão, subiram os preços do suco de laranja e das carnes.

Voltaram a subir as tarifas dos ônibus urbanos e da energia elétrica, e deverão registrar alta, até o final do ano, os produtos importados, face à desvalorização da taxa de câmbio, que caminha para R$ 2,50/dólar.

Fantástica a previsão do Banco Central sobre o curso da inflação: 

“Nesse contexto, é plausível afirmar que, mantidas as condições monetárias – isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária (taxa Selic) -, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção (24 meses).” 

Setor Público 

No período janeiro/agosto, o Governo economizou R$10,2 bilhões (superávit primário) para pagar R$165,3 bilhões de juros, acumulando déficit nominal de R$155,1 bilhões (4,62% do PIB). A dívida bruta do setor público chegou a R$3.034,7 bilhões em agosto (60,1% do PIB), uma expansão de R$86 bilhões sobre dezembro/2013. 

A arrecadação de tributos federais teve alta real de 5,54% em agosto, frente a agosto/13, com ajuda do REFIS (+R$7,13 bilhões), acumulando alta de 6,4% em oito meses. O mês de agosto registrou um déficit primário de R$ 10,4 bilhões, o pior resultado em 18 anos. Ou seja, não sobrou nem para pagar os juros da dívida.

O Tesouro Nacional captou US$1 bilhão no mercado externo, em princípios de setembro (!?). 

Continuam os atrasos nas obras de infraestrutura. O atraso na construção da Usina São Luiz, no Rio Tapajós, já chega a quatro anos. Segundo o TCU, a redução da conta de luz já custou ao Tesouro, até agora, R$61 bilhões.

Setor Externo 

Com exportações de US$19,6 bilhões e importações de US$20,6 bilhões, o déficit acumulado na balança comercial chegou a US$ 690 bilhões. No acumulado de nove meses, as exportações de 2014 estão 2,2% abaixo de 2013, e as importações de US$ 174,3 bilhões inferiores 2,8%. 

No período janeiro/agosto, as exportações de produtos básicos caíram -1,68% e de industrializados -7,43%, com destaque para as quedas de minério de ferro, milho e fumo. As exportações para a China caíram -0,26%, para a Argentina -24,46% e para o Japão -16,49%, subiram para os Estados Unidos +10,37%, para a Alemanha +5,45 e para o Chile +18,17%. 

No cenário internacional, destaca-se o crescimento dos Estados Unidos, com aumento de 0,3% na renda média, em 2013, e previsão de crescimento do PIB de 2,1% em 2014. 

Na União Europeia há perspectiva de melhoria na Alemanha, Inglaterra e Itália. A França deverá permanecer estagnada. A China segue com problemas de ajustamento, devendo manter o ritmo de 7% de crescimento em 2014.