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Samba, música eletrônica e funk: Palco Sunset mistura gêneros no primeiro dia do Rock in Rio

Fernanda Abreu, Céu, Dream Team do Passinho, Alcione, Martinho e outros fizeram bonito por lá

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Começou! A maratona de sete dias de Rock in Rio já está engrenada e engajada desde o primeiro momento. Assim como o Palco Mundo teve grandes nomes da música brasileira e internacional na primeira noite de evento, o Palco Sunset, conhecido como o espaço dos super encontros, não ficou para atrás. Ontem, por lá, fomos do eletrônico do britânico SG Lewis a uma ode ao samba, que reuniu potências da nossa música em cima do palco – de Alcione a Criolo. O dia de Palco Sunset ainda teve o encontro de Céu com os goianos da banda Boogarins e o show pop-funk de Fernanda Abreu, que convidou o Dream Team do Passinho e o grupo de arte contemporânea Focus Cia & Dança. Vem com a gente que o dia foi longo e animado.

Salve o Samba!

No line-up, este foi o último show de sexta-feira no Palco Sunset. Mas, quando a gente junta Martinho da Vila, Roberta Sá, Criolo e mais um super time, não podemos deixar para o final do giro do site HT. A apresentação foi uma homenagem ao ritmo que completou 100 anos de história no ano passado. No Palco Sunset, o samba ganhou forma, idade e cores diferentes, em uma mistura que é a cara do ritmo. Por lá, Monarco, Martinho da Vila, Jorge Aragão, Alcione, Roberta Sá, Mart’nália e Criolo relembraram sucessos que marcam o gênero centenário, desde a primeira música registrada como samba, “Pelo Telefone”, a hinos como “Aquarela do Brasil” e “Vou Festejar”.

Por alguns momentos, o Carnaval ganhou espaço na Cidade do Rock e foi celebrado por uma plateia animada que, entre um show e outro do Palco Mundo, parou para reverenciar um ritmo genuinamente brasileiro. Porém, se para uns o clima era só de festa no Palco Sunset, para outros, o show Salve o Samba! foi mais um momento de destacar a diversidade e o respeito no Rock in Rio. “Estamos vivendo tempos de aceitar o outro e as diferenças. E, em um festival como o Rock in Rio, que abriga tantos ritmos de todos os lugares do planeta, cabe muito mostrar ao público, não necessariamente do samba, que este gênero é uma manifestação cultural do Brasil. Nós precisamos reverenciá-lo independente do gosto pessoal de cada um. Então, eu acho que o Rock in Rio está cada vez abraçando mais essa diversidade e o encontro”, disse Roberta Sá.

E ela está certa. Na pateia do festival, o show Salve o Samba! também traduziu esse conceito de mistura que acompanhamos no palco. Na grade, por exemplo, tinham os que gostavam de Alcione, outros que eram seguidores do rapper – porém apaixonado pelo samba – Criolo e aqueles que apenas curtiam o samba e a alegria que o gênero centenário tem como complemento de melodia. “Os fãs do Criolo, por exemplo, podem não conhecer o meu som e, por isso, eu acho muito generoso esse encontro dividir e agregar diferentes grupos. O público do festival são pessoas generosas e que fazem por merecer essa diversidade. A galera aqui abraça as diferentes atrações. Eu já fiz show com os Novos Baianos e fui super acolhida, assim como com o samba”, contou Roberta Sá.

Afinal, esta é a proposta do Palco Sunset. Com curadoria de Zé Ricardo, o espaço busca celebrar a diversidade da música brasileira e internacional. Aliás, o responsável pelo Palco Sunset também foi o diretor do show Salve o Samba! que, mesmo com apenas dois ensaios e um grupo plural de artistas no elenco, honrou a homenagem ao gênero no Rock in Rio. “É uma bagunça muito organizada. O Zé Ricardo, que é coordenador do palco Sunset e diretor do nosso show, é um cara que nos deixa muito à vontade para a gente criar. Mas, ao mesmo tempo, ele tem uma elegância e um jeito de lidar com os artistas que faz com que tudo fique fácil”, disse Roberta que descobriu qual música cantaria na apresentação apenas três semanas antes do grande dia. “Eu sabia que ia dar certo. O Zé não me coloca em roubada”, brincou.

Fernanda Abreu convida Focus Cia. & Dança e Dream Team do Passinho

Se a energia estava lá em cima quando o show Salve o Samba! invadiu o Palco Sunset, muito se deve à super performance de Fernanda Abreu momentos antes no festival. No mesmo espaço, a carioquíssima fez uma mistura de pop, funk e muita dança com uma mistura de suas canções com apresentações de dois grupos diferentes: um de arte contemporânea e outro de passinho. “Eu quis botar no palco essa diferença de linguagem dentro da dança. E o resultado ficou bem bacana”, explicou Fernanda que tem relação antiga com ambos os grupos escolhidos. “O passinho começou como um movimento dentro das comunidades para dar um novo olhar sobre o funk através da dança e eu fui jurada do concurso que revelou o Dream Team. Então, para mim foi muito natural convidar os  meninos e uma academia de dança contemporânea, que foi a Focus, que eu também conheço há mais de dez anos”, disse a cantora.

A mistura deu liga e contagiou. No palco, enquanto o samba ganhou espaço em seu momento festivo, o funk foi celebrado em tempos de criminalização do ritmo. Para Fernanda Abreu, essa mistura de potências musicais que temos, em especial no Palco Sunset, é uma tradução da diversidade sonora que acompanhamos no Brasil. E, segundo ela, é dever de um festival com a grandeza do Rock in Rio abrigar toda essa mistura. “Para as pessoas que reclamam que o Rock in Rio tem pouco rock, este é um festival brasileiro. A música do nosso país é uma das mais ricas do mundo e, por isso, a gente não pode deixar de ter aqui artistas da grandeza que o evento sempre teve, como Ney Matogrosso, Elba Ramalho e Ivete. O Rock in Rio traduz um pouco desse leque de melodias, harmonias, poesias e ritmos. Na minha opinião, o festival acerta em não colocar só músicos de rock”, analisou.

Assim como ela, Rafael Mike, do Dream Team do Passinho, também destacou a importância do funk ter ganhado espaço no line-up do festival – ainda mais como uma mistura guiada por Fernanda Abreu que, para o músico, é um ícone do gênero para uma geração anterior. “A gente está vivendo um momento em que o funk está sendo criminalizado. E, estar dividindo o palco com uma artista como a Fernanda Abreu, que é uma representante do movimento de uma geração anterior, foi fundamental. Nós precisamos ter esses espaços para levar o nosso funk. Para a gente, foi incrível. Mas nós ainda temos que lutar bastante para um dia conquistarmos espaço no Palco Mundo. É um gênero musical que representa a juventude negra carioca e o Dream Team está assinando isso”, disse Rafael Mike que também reconheceu a representatividade do grupo para os jovens de hoje. “Nós somos muito preocupados com o tipo de música que fazemos. A gente pensa, troca ideia e pensa nas condições e experiências da supremacia branca. Nós estamos muito ligados em tudo. Hoje a gente sabe que o Dream Team é referência para uma parcela da população jovem carioca”, completou.

Por fim, mas não menos importante, não poderíamos deixar de comentar de um momento que, talvez até não estivesse planejado, mas ganhou força e coro do público do Palco Sunset. Entre uma música e outra, Fernanda Abreu dividiu sua versão cidadã com o lado cantora e se posicionou frente ao debate natural de preservação da Amazônia – que também ganhou voz e espaço com Gisele Bündchen e Ivete Sangalo no Palco Mundo. A artista fez um discurso da importância de cuidarmos de nossas riquezas naturais e, como resposta, foi emabalada por gritos de “Fora Temer”. “A gente está vivendo um momento no Brasil em que temos uma galera pensando de maneira muito retrograda. Tem gente chamando preto de macaco, batendo em mulher e gay e achando que estão certos. Então, como a gente tem microfone na mão, é legal falar o que pensamos. Quando a gente vê o Temer abrindo áreas de preservação para mineradoras, é sinal de que precisamos reagir para darmos o nosso recado. Pode até ser em um espaço pequeno de tempo, mas é a mensagem que não pode ser ignorada. Só assim nós vamos nos conscientizar do que queremos para o Brasil e para o Rio de Janeiro”, apontou Fernanda Abreu.

Céu convida Boogarins

Quem também se encontrou para muita música foi Céu e os goianos da banda Boogarins. No Palco Sunset do Rock in Rio, os músicos reafirmaram uma parceria que já havia ocorrido na versão lusitana do festival. Porém, engana-se quem pensa que esta é uma dobradinha que começou de forma super organizada. Como nos contou Dinho, vocalista da banda Boogarins, a parceria entre os goianos e Céu ganhou força depois que eles fizeram a música “Camadas”, que foi produzida em uma hora e teve parte de sua letra composta no meio do metrô de São Paulo. “Essa parceria começou quando ela nos chamou para fazer uma participação no disco dela, que acabou resultando na música ‘Camadas’. Mas, antes disso, eu já era muito fã e ouvia o trabalho dela”, lembrou o vocalista.

Assim como “Camadas” surgiu de forma natural e até um pouco despretensiosa, o repertório do show no Rock in Rio também teve um caminho super orgânico. A performance, que começou com Céu e, depois, teve a cereja do bolo da participação da banda Boogarins, foi decidida de maneira fácil e sem grandes desafios, como contou Dinho. Na verdade, o músico apontou apenas uma preocupação. “Todos nós nos respeitamos e admiramos muito. Por isso, foi fácil para entender o espaço de cada um e assim criar um repertório em conjunto. Se eu fosse apontar um desafio dessa experiência, eu acho que seria um equilíbrio entre o ‘tá, tranquilo’ com a responsabilidade”, confessou.

Mas a mistura deu certo e, em seu currículo, os goianos da banda Boogarins podem acrescentar uma apresentação no palco dos encontros do maior festival de música do mundo. Agora, Dinho contou que volta a pensar na carreira da banda e nos projetos futuros, assim como Céu, que precisou interromper o atual momento do trabalho para se dedicar à apresentação de ontem no Rock in Rio. “É maluco quando a gente se coloca no meio do caminho de outro artista porque acabamos interrompendo um fluxo de carreira um do outro. Nós estávamos com um trabalho, assim como a Céu, e tivemos que parar um tempo para pensar em outro projeto. Mas ao mesmo tempo isso rende frutos e é uma boa experiência”, concluiu Dinho.

SG Lewis

No giro pelos shows do Palco Sunset, ele foi o último. Mas, no Rock in Rio 2017, o britânico SG Lewis foi quem estreou as caixas de som do festival. Primeira atração do Palco Sunset, o artista também foi o pioneiro em animar o público do festival, que começava a chegar para o evento no momento em que ele se apresentava. Na verdade, um pouquinho antes. Fazendo jus à tradicional pontualidade de seu país, SG Lewis subiu no palco cinco minutos antes do esperado e fez sua estreia em solo brasileiro em grande estilo. “É muito maravilhoso pensar que eu que abri o Palco Sunset nesta edição do Rock in Rio. Estou me sentindo privilegiado, ainda mais porque acho que fui o primeiro convidado de música eletrônica a tocar nesse espaço”, destacou SG que volta a se apresentar na tenda de música Eletrônica no dia 21.

Aliás, esta animação de SG Lewis empolgou o público que chegava para a maratona de shows na sexta-feira. Como nos contou depois da performance, a sensação de ser o primeiro a se apresentar no festival foi de que estava temperando o clímax que fora atingido horas depois. “Era como se eu estivesse construindo o clima daquela super galera que viria a lotar a Cidade do Rock horas a frente. Então foi bem legal porque eu peguei as pessoas ainda super animadas e querendo se divertir”, contou SG em sua primeira passagem por solo carioca. “É a primeira vez que eu estou aqui no Brasil e está sendo tudo maravilhoso. Depois do show, eu vi que as pessoas ficaram assistindo pelo telão e eu acredito que vou ganhar muitos novos fãs. Isso é bem legal”, comemorou.

Por isso tudo, o Rock in Rio e a cidade maravilhosa já estão marcadas na vida pessoal e profissional do artista britânico. Para ele, a urbe é de fato maravilhosa e, assim como o Palco Sunset, é lugar de encontros e celebrações. “Eu acho que o Rio de Janeiro representa sol, boa música e bons momentos. Aqui, as pessoas se divertem com os amigos na beira da praia com um bom som de fundo. É interessante”, analisou SG Lewis.

Hoje, a maratona de shows no Rock in Rio continua e estaremos lá para conferir tudo de perto mais uma vez. No Palco Sunset, quem começa os trabalhos são Lucy Alves, Emanuelle Araújo, Tiê e Mariana Aydar, que fazem uma homenagem a João Donato. Depois, o line-up segue com Blitz, que convida Alice Caymmi e Davi Moraes, Rael, que canta com Elza Soares, e Miguel, que tem como super parceiro o rapper Emicida. O dia promete!