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Ronaldo Fraga sentencia: “Aquela moda que a gente conhecida morreu"

Estilista foi o responsável por abrir os trabalhados do SICC, em Gramado, na Serra Gaúcha

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“Aquela moda que a gente conhecia morreu”. 

A frase, dita pelo estilista Ronaldo Fraga em entrevista à coluna, ilustra o que foi o Papo Legal, encontro que ocorreu ontem em Gramado como pontapé inicial para a 26ª edição do SICC, o Salão Internacional do Couro e do Calçado, evento promovido pela Merkator Feiras e Eventos. 

De hoje até quarta-feira, 24, a cidade gaúcha será o endereço do setor no Brasil e no mundo. Por lá, mais de 18 mil pessoas são esperadas, sendo 200 delas estrangeiras, para conhecer as coleções de mais de 1.600 marcas expositoras. 

Mas, para começar a maratona de tendências para o Verão 2018 e negócios, o SICC teve o debate “Autenticidade e Moda”, comandado por Ronaldo Fraga, como encontro inicial.

Para um público atento e que, assim como o estilista, quer propor uma moda diferente e reinventada, Ronaldo justificou o porquê de ser considerado um dos grandes nomes do atual cenário fashion brasileiro. Totalmente à esquerda do senso comum, o estilista apresentou ideias, explicou conceitos e ainda comentou a questão moda e negócios, ponto alto do SICC. Resgatando a ideia que apresentamos no início, Ronaldo Fraga destacou a importância de a moda permanecer viva às mudanças contemporâneas.

“O mundo acabou, nós estamos aqui como zumbis para poder reinventá-lo. E isso é muito bom. Eu não vejo como um olhar apocalíptico. Do jeito que era não existe mais. A forma como falávamos, pesquisávamos, discutíamos e vendíamos acabou. Se alguém ainda faz isso é porque estacionou no século passado, está falando com um quarto vazio. O melhor é não ter fórmula, porque o mundo inteiro está em busca de um caminho”, disse.

Como solução para este aparente caos, mas turbilhão de possibilidades para os mais criativos, o estilista contou que acredita no poder do olhar mais atento de quem quer fazer diferente. Segundo Ronaldo Fraga, este momento pode ser o cenário perfeito para resgatarmos experiências esquecidas no passado. 

“Para sobreviver, é preciso nascer de novo. Sempre. E eu acho que esse renascimento está muito ligado à ideia de existir. Às vezes, eu acredito que tudo é muito mais simples do que a gente acredita. Precisamos olhar para os valores e para as relações perdidas e revalorizar ideias e formas que foram sendo esquecidas com o passar do tempo”, sugeriu.

E foi nessa mistura de conceitos, propostas e experiência que Ronaldo Fraga comandou a última edição do Papo Legal, ontem, em Gramado. Na ocasião, o estilista ainda contou de sua parceria inovadora e super interessante com a tradicional grife do setor calçadista Kildare. A dobradinha, que aliou a irreverência de Ronaldo Fraga com o clássico da marca, faz parte do projeto Design na Pele, que une as duas pontas do setor da moda e dos negócios. 

Estreante no SICC, o estilista comentou a importância da iniciativa e do evento para o mercado brasileiro. “O ‘Design na Pele’ é um projeto que eu adoro porque pensa o couro brasileiro e rompe uma distância oceânica que existe entre o design e a indústria. É um grande exemplo para além do setor calçadista, eu acredito que seja importante para a indústria da moda em geral. Afinal, pouco se foi feito nessa direção”, disse.

Por lá, Ronaldo Fraga ainda comentou o que acredita ser a inspiração fashion para os próximos 15 anos. De acordo com o estilista, o conceito dominador será do valor intangível, que é, acima de tudo, um reflexo e uma tradução da nossa vida moderna. “É aquilo que não tem cor e nem forma, mas está ali. Não tem como não olhar para esse lado, que é a diversidade e todas as questões que lidam com o mundo moderno. Então, essa ideia está relacionada a como a moda, os produtos e a poesia lidam e trabalham neste terreno árido”, afirmou o estilista que explicou sua aposta. 

“A moda é o reflexo do tempo no retrovisor. E nessa situação, as imagens nunca foram as mais bonitas, a exemplo do pós-guerra, com a Europa detonada, que foi salva pelo Dior. Assim como nasceu uma semente naquele tempo, eu fico pensando qual papel esse mesmo propósito cumpriria hoje. Por isso eu acredito que quando a moda une mundo distintos e estabelece laços de amor, afeto e poesia, ela já cumpre a sua missão”, explicou.

Segundo ele, é justamente este pensamento moderno que vai guiar as próximas coleções. Para Ronaldo Fraga, entre tantas dificuldades dos tempos atuais, acreditar que a diversidade será referência na moda e que a criatividade dos designers o combustível para a resistência é o que lhe dá força para seguir sua cainhada estelar e se manter vivo neste cenário tão inconstante. 

“Nós estamos falando de um vetor que é completamente diverso e que não tem verdade absoluta nele, principalmente agora que a moda acabou. Por isso, tudo está para ser reconstruído e repensado. Então, temos que chamar atenção para situações como quando a indústria do couro olha para um curtume que seria de refugo porque traz as marcas da vida pregressa do boi e o designer o recria como sinal de sofisticação. Até porque, aquele animal poderia, por exemplo, ter vivido no entorno do Rio São Francisco. Ou seja, a gente coloca a cultura para trabalhar em cima dessa ideia”, completou o estilista Ronaldo Fraga.