Fernanda Montenegro sabe das coisas. Foi ela quem indicou Stepan Nercessian ao genro Andrucha Waddington, diretor do musical “Chacrinha – o Musical”, como melhor opção para interpretar o velho guerreiro. Dito e feito. Já são mais de dois anos de sucesso de bilheteria e de crítica que ontem voltou à ribalta no Armazém 3 do Boulevard Olímpico, na Arena Banco Original.
A coluna esteve lá presenciando o trabalho de 30 atores, oito músicos e a operação para dar conta de cerca de 400 figurinos. Assim como Chacrinha, o espetáculo está com tudo e não está prosa.
Stepan que o diga. “O Chacrinha é um personagem muito original e que todos tentam copiar. Mas eu não sou imitador e nem sei copiar voz, por isso achava que seria a última opção para interpretá-lo no palco. Quando eu decidi que toparia esse desafio, eu tinha como certeza que não faria nada da boca para fora. Eu evitei ao máximo ver vídeos e imagens dele no 'Cassino' justamente por que eu não queria copiar nada. Eu achava que o Chacrinha jamais iria assistir algo para imitar e fazer a versão dele. Então, eu incorporei essa ideia e criei o meu próprio Abelardo Barbosa”, nos disse.
OK que ele conta com algumas ajudas como a buzina, a cartola e todo o figurino, mas Stepan teve que rebolar - e muito - para chegar à perfeição. "Eu precisava encontrar uma forma de fazer com que o público acreditasse naquele personagem em sua essência de ser humano, livre de toda aquela ornamentação. Me surpreendeu quando a família começou a chorar quando me viu no palco, porque era como uma viagem no tempo. Muita gente chegava para mim e dizia que não era interpretação o que eu fazia, e, sim, mediunidade. Eu não tenho certeza. O fato é que eu represento um cara que se comunicava e brincava com todos. E ele é tão sensacional que, a minha maior missão é só não atrapalhar a essência de quem foi o grande Abelardo Barbosa. Até porque, naquele momento, eu sei que ninguém veio ver Stepan no palco. As pessoas vieram ao teatro com a intenção de relembrar o velho Chacrinha”, declarou.
A única conclusão que Stepan chegou até agora, mesmo depois de tanto tempo o interpretando, é que improvisa "dentro do espirito do Chacrinha". "Ele era um homem corajoso e que improvisava mesmo. Afinal, ele fazia programa ao vivo, não era essa tecnologia morta não. Então, o Chacrinha tinha que saber improvisar. Mas, apesar de todas as brincadeiras que eu faço no palco, tem uma característica dele que eu acho essencial preservar: o Chacrinha podia brincar do que fosse, mas nunca ofendia e nem mentia sobre a realidade. Se aparecesse um cara horroroso, por exemplo, ele brincava perguntando se o homem era assim mesmo ou se estava de sacanagem”, finalizou.
E assim foi a noite - sem abacaxis.