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Inspiramais: estampas representam 70% de coleções e projeto ganha destaque

Na 15ª edição do evento, o +Estampa reuniu o trabalho de nove estúdios de estamparia

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No auge do verão de 2017, com as cidades brasileiras registrando temperaturas altíssimas nos últimos dias, já tem muita gente pensando no inverno. E não é na estação que chega daqui a alguns meses, não. No Inspiramais, evento que ocorreu em São Paulo segunda e terça-feira, designers, estilistas, produtores de moda e empresários do setor de componentes para as indústrias calçadistas, têxteis, de mobiliário e design já respiram o Inverno 2018. Não, você não leu errado. Embora o Salão de Design e Inovação de Componentes, realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), antecipe nesta 15ª edição as inspirações e apostas para o verão do ano que vem, uma parte já é dedicada à estação mais fria. Entre previews para o inverno, está o projeto +Estampa, coordenado por Lucius Vilar, integrante do Núcleo de Design da Assintecal, e que já está em sua 7ª edição.

Antenado às tendências da temporada, o designer e coordenador do +Estampa adiantou à coluna o que acredita ser a inspiração do Inverno 2018. Segundo Lucius Vilar, o dia a dia caótico nas grandes metrópoles é desconstruído e apresentado de forma oposta nas estampas da estação. “Para o Inverno 2018, nós estamos falando de leveza. A gente acredita que o nosso cotidiano já é muito complicado e, por isso, nós queremos facilitar. Em contraponto a essa calma, nós utilizamos o surrealismo. Afinal, ele veio para mudar princípios e valores. E, se nós estamos querendo propor novas experiências, nada mais apropriado que este movimento. Então, nós usamos este tema e as palavras miniaturização, equilíbrio e gravitação para criar as estampas da temporada de Inverno 2018”, adiantou.

Como Lucius Vilar destacou, a busca pelas padronagens-símbolo de uma estação faz parte de um dos primeiros passos para o desenvolvimento da coleção. “Enquanto o Salão de Design e Inovação de Componentes antecipa as inspirações de Verão 2018, o projeto + Estampa já é Inverno 2018. Nós estamos sempre um passo à frente. Hoje em dia, quando os setores da confecção entram em contato com o estúdio, eles já estão procurando ideias para fazer a coleção Inverno 2018. Então, a busca é por beneficiamentos, como é o caso da estampa no tecido, para começar a montar as roupas da temporada. Ou seja, o estúdio e a estampa fazem parte da primeira etapa da cadeia. Por isso nós colocamos o projeto no preview de Inverno”, explicou Lucius que foi além: o designer já está insider das inspirações para o Verão 2019. “Já começamos o trabalho de pesquisa e acredito que, no mês que vem, estaremos trabalhando. Quando a gente faz uma estação, preciso pensar logo na próxima. Então, quando eu viajo, eu estou sempre olhando ao meu redor para ver o que as pessoas estão usando. O mundo, para mim, é o ponto de start para eu ver o que vai acontecer na próxima estação”, disse. 

Pois bem. Depois de entendermos o porquê de tanta antecedência na pesquisa das apostas no mercado de estamparia e sabermos que a leveza e o surrealismo serão as inspirações do Inverno 2017, Lucius Vilar nos apresentou o trabalho de alguns estúdios participantes do Salão. Nesta 15ª edição do Inspiramais, o projeto +Estampa saltou de cinco para nove estúdios de estamparia que estão exibindo suas criações no evento que atrai jornalista, compradores, produtores e designers do Brasil e do mundo. Na mostra, a composição de fauna e flora, em diferentes aspectos, foi inspiração unânime para cinco estúdios, como o Capim Puro e a Oficina Lamparina, ambos de São Paulo.

Em um passeio pelas criações desses nove estúdios que vieram de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, Lucius Vilar destacou a singularidade de cada designer. Ele, que também desenvolve novas estampas, contou que consegue reconhecer a identidade artística de cada profissional em seu trabalho de padronagem. Na criação do Dash Studio, de Santa Catarina, por exemplo, Lucius apontou a pluralidade criativa e talentosa dos designers. “Eles trazem um trabalho muito em cima da fauna e da flora, mas também possuem geométricos lindíssimos e étnicos super interessantes. Além disso, este estúdio tem uma vertente muito legal de desenhos manuais. Assim, eles conseguem criar aquarelas, pinceladas e imagens muito fortes para pigmentação”, analisou.

Já em relação ao Graphique, de Campinas, Lucius Vilar apontou o minimalismo como identidade artística. Para o Inverno 2018, o estúdio apresenta as ilustrações de Daniel Moraes e segue as propostas do surrealismo e da miniaturização de forma diferente. “O Daniel é um artista que vai desenhando e rabiscando imagens muito realistas, como de pessoas, flores e animais. O resultado final da Graphique é muito leve, os traços são sutis e a aquarela é super delicada. Então, a estampa fica mais minimalista e atende às propostas do movimento do surrealismo e, principalmente, da miniaturização”, apontou Lucius que explicou a questão do tamanho das padronagens. “Como a gente trabalha com gradação, nós podemos desenvolver qualquer tamanho de estampa. Desde os mini florais e super delicados aos exageros”, destacou.

E esse dualismo criativo pode ser percebido nas araras das grandes grifes. Como destacou Lucius Vilar, hoje, as estampas estão presentes em 70% das peças de uma coleção. Com a padronagem fazendo cada vez mais parte do cenário fashion nacional e internacional, o coordenador do +Estampa só engradeceu ainda mais a importância do trabalho do projeto com os estúdios brasileiros. “Hoje em dia, 70% de uma coleção no Brasil é estampada. Nas ruas, as pessoas estão cheias de estampas nas camisas, calças, sutiens, cuecas, em todas as peças. E, cada vez mais, a gente está vendo que o público brasileiro está interessado em estampa. Por isso que o número de estúdios e de produtos estampados vem aumentando”, disse Lucius que acrescentou que o trabalho de estamparia brasileiro já é consumido em grandes potências do universo fashion mundial. “Paris, Nova York, China, Japão e índia já procuram os nossos estúdios para buscar inspirações e padronagens exclusivas. Inclusive, eu estou indo para a Índia na semana que vem, a convite do governo do país, para trabalhar no couro de lá. Assim como os indianos já usam roupas super estampadas, agora eles querem completar os looks com sapatos, cintos e bolsas no mesmo estilo. O mundo está interessado em profissionais brasileiros para este mercado de desenvolvimento e pesquisa de padronagem”, contou.

Já que a estampa está se tornando cada vez mais o hit do cenário da moda contemporânea, fomos descobrir o que será tendência no Inverno 2018. Depois de nos explicar e apontar os trabalhos de alguns estúdios brasileiros, Lucius Vilar disse à coluna o que estará out of use na temporada analisada. “Nada de exagero e imagens muito grandes. As estampas étnicas e geométricas também perderão força e não devem vir no inverno. E, como as borboletas já apareceram em temporadas passadas, eu acredito que desta vez elas já estarão cansadas”, disse o coordenador do +Estampa que destacou que, mesmo sendo super usado neste verão, os abacaxis podem continuar em alta no Inverno 2018. “Eu acho que até poderia voltar, mas se fosse de forma surrealista. Essa desconstrução poderia gerar estampas super interessantes”, completou Lucius, que está de malas prontas para uma viagem para a Índia levando… estampas!