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SPFWTRANSN42 #Day 3: na Pinacoteca, Fernanda Yamamoto desconstrói alfaiataria

Designer desfilou peças super estruturadas e contemporâneas no centro cultural

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Do desfile dark e intenso de Fernanda Yamamoto à apresentação leve, poética e singela de Lilly Sarti, o terceiro dia de SPFWTRANSN42 agradou a todos. Em mais uma maratona de desfiles por diferentes espaços da capital paulistana, as propostas e identidades chamaram a atenção. Para começar, Fernanda Yamamoto ocupou a Estação Pinacoteca com uma coleção forte de alfaiataria desconstruída. Depois, a grife Lolitta apresentou suas concepções de moda praia de um jeito retrô e contemporâneo na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. Em outro canto da cidade, no Teatro Oficina, o Experimento Nohda reafirmou que é possível juntar três grandes nomes do cenário fashion brasileiro para a criação de uma coleção rica e com um DNA forte nas costuras. De volta à tenda montada no Parque do Ibirapuera, a A.Brand de Ana Claudia Zander, nos levou para curtir uns dias de frente para o mar com toda a tranquilidade que essa experiência proporciona. Por último, Lilly Sarti apresentou uma belíssima coleção frisando a necessidade de conectarmos com o nosso interior, ainda mais em tempos de cólera. Chega mais que a gente conta tudo!

Dramática e autêntica, Fernanda Yamamoto desfilou sua nova coleção nesta manhã na Estação Pinacoteca. Na apresentação que abriu o terceiro dia de desfiles da SPFWTRANSN42, a estilista mostrou uma desconstrução da alfaiataria clássica. Em uma paleta dark com um toque de intensidade, Fernanda apostou em produções estruturadas e contemporâneas. “A nossa proposta foi desconstruir a imagem da alfaiataria clássica. Para isso, a gente usou técnicas tradicionais desta modelagem para conseguirmos criar os volumes. Não seria possível estruturar as peças da forma que fizemos se não partíssemos do formato original”, explicou sobre as peças que tiveram um trabalho manual na produção. “Foi uma coleção que foi quase toda feita à mão e seguiu a proposta da risca de giz e da linha sinuosa que forma os babados e proporciona essa ideia de movimento”, completou.

E a proposta de modelos estruturados e volumosos não se restringe ao conceito criativo da coleção. Como Fernanda nos contou, desde o começo ela já sabia que faria o desfile na Estação Pinacoteca. Por isso, a estilista conciliou a inspiração ao espaço e elaborou peças que preenchessem o local. “Desde o começo, eu já sabia que queria fazer esta apresentação na Estação Pinacoteca em meio a uma exposição de arte contemporânea. Então, nós pensamos em roupas que tivessem mais estruturas para preencher esse espaço”, contou a estilista que usou crinol para conseguir dar o efeito nas roupas.

Como forma de completar e potencializar a inspiração criativa, Fernanda Yamamoto elegeu os tons escuros como cartela de cores. Para ela, mais que elegância, a paleta dark é uma forma de buscar um pouco da tradição que fora desconstruída na coleção. “Eu acho que o preto e os tons mais escuros fazem parte dessa proposta da alfaiaria tradicional. Quando a gente pensa em um terninho básico, logo associamos ao modelo preto de Dior com a sainha reta, por exemplo”, argumentou.

Indo na contramão da proposta do “see now buy now” que movimenta os desfiles e os bastidores das coleções apresentadas nesta SPFWTRANSN42, Fernanda Yamamoto contou que não consegue se adaptar nesta tendência imediatista do mercado da moda. Como explicou, suas criações demandam mais tempo e dedicação para serem produzidas, ainda mais em larga escala e de forma sequencial. “Eu descobri que está edição da SPFW teria essa proposta depois que já tinha começado a desenvolver as criações. Eu não consigo, não tem como. Eu preciso de mais tempo para amadurecer uma coleção. E o desfile é o ápice desta fase de criação”, explicou a estilista que acredita que esse over trabalho também represente um diferencial em tempos de crise econômica. “Eu acho que hoje em dia está tudo muito padronizado e pasteurizado. Então, para mim, quanto mais autoral for um trabalho artístico, mais valor e diferencial ele terá”, declarou a estilista Fernanda Yamamoto.

Na contramão do “see now, buy now”, Fernanda Yamamoto apresentou uma coleção pautada no slow fashion. O consumo responsável, focado em qualidade e trabalho inventivo, foi o norte eleito pela estilista. Para tanto, o número de looks apresentados foi menor que o de costume; apenas 20, ou seja, poucos e bons. O trabalho de modelagem primoroso assinado por Fernando Jeon traduziu bem esse desejo, em um verdadeiro show de desconstrução em alfaiataria, resultando em peças que mais pareciam obras de arte sofisticadas e repletas de drama e teatralidade. O upcycling, técnica que consiste no aproveitamento de tecidos para a criação de novas roupas, inspirou Fernanda a ir mais além para contar sua história de conceito forte. A aplicação de complementos em algumas peças completou o show, digno de aplausos dos presentes.

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