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SPFWTRANSN42 #Day 2: a comentadíssima estreia da LAB, de Emicida. Veja!

Rapper e seu irmão, Evandro Fióti, preencheram a passarela com a pluralidade do hip-hop

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E para fechar o segundo dia de desfiles na SPFWTRANSn42, o rapper Emicida e seu irmão, Evandro Fióti, trouxeram para a passarela do Ibirapuera toda a cultura das ruas através do hip hop, estampada por entre as peças despojadas que a dupla apresentou com a marca Lab. Juntamente com a direção criativa assinada por João Pimenta, a estreia da grife em uma semana de moda teve em seu DNA a diversidade e a pluralidade vistas nas ruas através da mistura inusitada entre os movimentos de arte africanos e japoneses. “A gente tentou buscar a mistura da arte da África e do Japão traduzidos para um universo contemporâneo e urbano. Trouxemos as referencias japonesas para construir roupas que vestissem bem uma gama maior de corpo e na África tem essa busca eterna nossa dos nosso valores e da nossa ancestralidade. E, través da nossa marca quisemos trazer isso mais uma vez para o estilo das pessoas também. Foi uma mistura improvável trabalhando com uma cartela de cores preto, branco e vermelho para trazer esse tom street e trazer peças que atendam o desejo do nosso consumidor”, revelou Evandro.

Fundada em 2009 inicialmente com o nome de Laboratório Fantasma, a grife começou na verdade como uma pequena gravadora, que tinha o objetivo de divulgar artistas da periferia de São Paulo. Já as primeiras peças começaram a surgir da necessidade de uma divulgação do trabalho musical de Emicida, através de camisetas temáticas vendidas durante os shows do cantor. “A LAB nasce com o desejo de ampliar o discurso que já pratico na música. A vontade de aproximar um Brasil que até então parecia muito distante dos ambientes de moda.  Queremos quebrar as barreiras, estender as fronteiras, incluir um Brasil que ainda é muito ignorado. Faço música há dezesseis anos, e chegou o momento de sair do plano das palavras, e nos debruçarmos sobre um novo olhar, um novo país com novos protagonistas. E a moda foi a forma que encontrei para fazer a minha pequena revolução”, contou Emitida.

Na passarela, o casting foi apresentado de forma bastante democrática. Com uma entrada triunfante, Emicida surgiu cantando a trilha feita especialmente para o desfile que contou, em sua maioria, com modelos negros e ditos “fora dos padrões fashionistas”. Alguns estavam àcima do peso, outros tinham impressionantes cabelos black power, enquanto uma outra metade apareceu quase careca – incluindo as meninas. Havia uma fúria na maneira de desfilar e uma postura altiva. Um dos destaques foi para o cantor Seu Jorge que mostrou sua versatilidade nas passarelas vestindo uma saia longa plissada e um moletom. Não teve quem não tivesse vontade de aplaudir de pé a energia que a grife trouxe para a 42ª edição da São Paulo Fashion Week.

A inspiração nos tecidos angolanos foi crucial para a criação da coleção, mas ela vem transformada em algo global, mais moderno e menos tradicional. Estampas foram desmembradas em trechos, detalhes pequenos ganharam zoom: a ideia foi fazer uma releitura da tradição, com um gosto contemporâneo. Já para o diretor criativo da marca, João Pimenta, além de trazer toda ás referências da cultura hip hop para as peças, o conceito de inclusão também segue muito presente na grife. “A gente olha para o plus size, para o não gênero e para todo o tipo de gente. É um desfile de inclusão. É uma marca que surge em um momento importante e plural no evento. Além de uma nova mentalidade para os consumidores de moda, por se tratar de um novo mundo e outra classe social”, avaliou ele.

Sobre o conceito see now buy now, Pimenta adiantou que as peças já podem ser adquiridas nas lojas da Lab logo após o desfile. “Eles são muito mais organizados que eu. A coleção já está à venda. O trabalho está super profissional, os meninos foram muito dedicados nesse processo”, disse ele, que ainda descartou qualquer embate com a crise econômica do país. “Eu acho que esse momento é um dos melhores que a gente já viveu na moda, porque está acontecendo um grande filtro, onde quem tem alma fica e quem não tem passa batido. A originalidade tem contado muito nos dias atuais. A gente está passando por um momento difícil, claro, mas um também um período muito feliz de saber que o futuro será cada vez mais orgânico”, completou

A coleção de estréia da LAB na SPFWTRANSn42 se pautou pela união improvável entre África e Oriente para buscar inspiração na história do Samurai negro Yasuke, nome este que inclusive dá título à coleção. Emicida e Evandro Fióti propuseram um streetwear democrático, focado em estamparia, modelagem e cores sóbrias. Os prints com padrões geométricos foram inspirados na arte origami japonesa, além de frases das músicas escritas por Emicida.

A silhueta obedece a cartilha das ruas, onde o conforto é a palavra de ordem e grandes elementos do estilo esportivo se fazem presentes – vide os hoods ou capuzes presentes nas peças, além dos shapes oversized. Já na cartela de cores o que se viu foi um vermelho que funciona como contraponto entre a firmeza de tons como preto, branco e cinza, em combinações elegantes e cheias de personalidade. Segundo a marca, seu conceito de streetwear busca um novo mood a partir do brim com acabamentos diferenciados. Outros tecidos, como malha, moletom e algodão também apontaram o caminho da coleção. Uma verdadeira homenagem ao estilo das ruas, tão buscado por quem se interesse em consumir informação de moda.

Com a beleza assina por Marcos Costa, os modelos desfilaram praticamente de cara limpa, trazendo toda a individualidade citada à cima de cada pessoa na passarela. Cabelos black power ganharam mais volume e textura ainda mais crespa. Já a pele foi levemente corrigida de forma que os espectadores tivessem uma percepção de estarem passeando pelas ruas de São Paulo e dando de frente com pessoas do nosso dia-a-dia.

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