ASSINE
search button

Conversamos com a banda carioca Baleia sobre o som de seu novo álbum, “Atlas”

Conjunto de rock alternativo lança o disco sucessor do ótimo “Quebra azul”

Compartilhar

A banda Baleia está de cara nova! Formada há cinco anos pelos bairros da Zona Sul no Rio de Janeiro, o irreverente grupo de rock alternativo começou a chamar atenção quando lá em 2013 abandonou as versões jazzísticas de músicas pop e passou a investir em composições próprias até finalmente lançar o début “Quebra Azul”. De lá para cá, os anos se passaram e, como não poderia ser diferente, o tempo fez com que eles começassem a sair do lugar comum e agregassem novas sonoridades e instrumentos, digamos, menos convencionais em suas produções.  Hoje, eles retornam ao cenário fonográfico com mais novidades: o recém-lançado “Atlas”. À frente do grupo nas composições e nos microfones, os irmãos Sofia Vaz e Gabriel Vaz desbravam a poesia urbana nas oito faixas registradas no álbum com letras sobre a vida frenética nos grandes centros e passagens sonoras contemplativas formam canções que mesclam a leveza da MPB com as digressões do indie rock contemporâneo. E as novidades não param por aí. O disco, lançado no formato físico no último dia 29 de agosto, vem acompanhado de um livro e de um mapa, que posteriormente deu origem ao nome do disco. Em entrevista exclusiva a HT, a vocalista Sofia Vaz explicou de onde veio a ideia do projeto transmídia.

“A gente começou a perceber que o objeto CD estava totalmente ultrapassado. Eu mesmo não tenho mais nenhum lugar para tocar disco, por exemplo. A partir daí debatemos sobre a real necessidade desse material físico. Não queríamos lançar por lançar. O projeto tem como principal objetivo transportar as pessoas para dentro do universo lírico do CD. Funciona como um objeto de arte. O álbum-livro é como se fosse uma enciclopédia de um mundo imaginário. Criamos um mundinho paralelo onde as músicas conversam com as histórias”, adiantou ela. Feitas de forma independente, as ilustrações do trabalho foram feitas pela designer e ilustradora Lisa Akerma, pela editoraPipoca Press, e ainda carrega um mapa com informações relevantes da banda. “Além das letras, o atlas ainda junta toda a parte da ilustração. Funciona como se fosse uma investigação sobre esse mundo”, revelou.

Cada uma das músicas do novo trabalho traz um personagem diferente, acompanhado de uma reflexão sobre este mundo em transformação, baseado em dúvidas existenciais, no bombardeio de informações e na necessidade de se tomar decisões. Tudo com uma teatralidade que é marca da banda. Segundo Sofia, a maioria das canções surge com a experiência vivenciadas pela família Baleia. “Com certeza os temas vêm através de vivências próprias. A gente convive muito tempo juntos, então são coisas que estamos observando em conjunto. Mas claro que histórias de livros, filmes e tudo o que é externo também serve de material para o nosso processo criativo”, contou. Com uma ambientação mais obscura que a do disco anterior e as melodias complexas (em alguns momentos, bateria eletrônica, guitarras, teclado e violino se misturam entre os versos), “Atlas” torna ainda mais difícil a identificação da Baleia com um gênero específico. Um desafio para a própria banda, que gosta de se definir como “indie ostentação”.

No entanto, três anos separam a estreia fonográfica da banda até o lançamento do último disco, que chegou a ser adiado algumas vezes por questões de logísticas. Nesse meio tempo, os cariocas passaram por uma mudança em sua formação, com a saída da vocalista Maria Luiza Jobim – filha caçula do maestro Tom Jobim, e ainda acompanharam a expectativa do público para esse novo momento da Baleia. “Apesar de ter essa história do fantasma do segundo CD, eu acho que o primeiro foi muito mais aterrorizante. A gente não tinha a menor ideia do que iria acontecer nas nossas vidas naquele momento. Era tudo muito novo. Musicalmente, eu acho que é tipo uma continuação de um movimento que começou a ser pesquisado a partir do primeiro. A pesar de ser sempre diferente, a gente evolui, muda e tem referências novas. Eu sinto como se a gente tivesse inciado um caminho com mais consciência do projeto e do que estamos fazendo de verdade”, avaliou ela, que ao lado de Gabriel, Cairê Rego, David Rosenblit, Felipe Ventura e João Pessanha dão continuidade ao sonho de ser rockstar.

E apesar de estarem muito seguros de suas raízes musicais, o cenário musical brasileiro não está nada aquecido para bandas de rock. Com a explosão do sertanejo universitário e do funk, algumas bandas estão precisando se reinventar a todo instante para se manterem vivas no mercado fonográfico. Para Sofia Vaz, o a Baleia quer manter o foco nas suas origens. “O alternativo já diz por si só. É um outo lugar. A gente investe porque é o que a gente gosta de fazer e ouvir. Até porque existe todo um universo fora do mainstream. O degrau é enorme. Você só consegue crescer em determinado lugares. Às vezes é difícil chegar ao grande público, mas temos a internet, que é a melhor coisas do mundo. Mas de fato é um luta para divulgamos nosso trabalho”, analisou ela, que sendo a única garota do grupo, revelou a necessidade de ter mais atitude para conseguir seu espaço em um ambiente machista como o do rock. “A mulher no posto de vocalista ainda é mais tranquilo do que uma mulher fazendo qualquer outra coisa numa banda. Uma garota tocando instrumento acaba sofrendo bem mais. Vão exigir muito mais técnica dela do que se ela fosse um homem. Na verdade, ser uma minoria em qualquer meio exige mais responsabilidade”, completou.

Apesar das dificuldade, a banda tem sido tão requisitada no mundo do rock alternativo, que foi convidada para participar de um CD em homenagem ao cantor Renato Russo, que neste ano completa 20 anos de sua morte. No projeto, novas bandas vão interpretar músicas emblemáticas do poeta em um projeto que a família está organizando. Segundo Sofia, a Baleia ficou responsável para fazer uma versão da música “Mariane”. “Foi uma grande surpresa. Eu tive minha fase de tocar Legião Urbana no viola em casa, mas jamais imaginei em participar de um tributo a eles”, comemorou a cantora. E as vitórias da Baleia não param por aí. No ano passado, a banda foi escalada para tocar no Lollapalooza, o que culminou no recente contrato com a Sony Music, selo que lança o novo trabalho. “Eu acordei com milhões de mensagens dos meninos no meu celular. Foi uma loucura até chegar no palco do Lolla. Abrimos o palco principal no dia da Banda do Mar. Foi uma experiência inacreditável”, relembrou ela, que se apresentou no último sábado na versão carioca do festival Vaca Amarela., na Fundição Progresso.

[email protected]