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20 anos do Detonautas, Cazuza e mais: nosso papo com Tico Santa Cruz

Cantor, adpeto do “Fora Temer”, nos contou seus próximos projetos musicais

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Tico Santa Cruz gosta mesmo de revolução! Não é a toa que o vocalista do Detonautas escolheu o rock, não só como seu estilo de música favorito, mas também como filosofia de vida. Engajado em seus posicionamentos políticos e sociais, o cantor frequentemente se torna alvo de críticas e aplausos por não ter papas na língua ao criticar governantes, opiniões retrógradas e movimentos de intolerância. Esteja ele certo ou não. Há quase 20 anos sendo porta-voz da banda, sucesso absoluto no início dos anos 2000, Tico esteve no auge da fama e hoje, com a crise do rock, não se desanima em fazer o que mais gosta. Durante o manifesto Ocupa Minc, na casa de espetáculos Canecão, em Botafogo, o vocalista falou com exclusividade a coluna HT sobre os próximos passos do grupo e novos projetos, além de marretar o presidente interino Michel Temer.

“Ficou claro que esse processo de impeachment não passa de um julgamento de caráter político. O próprio Temer assumiu isso. As características jurídicas que deveriam ser relevadas para se levar adiante esse processo foram jogadas no lixo. Ninguém pode usar o parlamento para retirar uma presidente legitimamente eleita. Eu não votei naDilma, mas eu não aceito que as pessoas façam essa movimentação de retirada da democracia como está sendo feita. Muita gente talvez não tenha se envolvido por não ter gostado do governo do PT, mas a gente precisa cumprir o que está escrito na nossa constituição. O impeachment está na lei, mas com artifícios que devem ser respeitados, coisa que não está acontecendo. Acho muito difícil que a Dilma retorne, mas eu fico feliz por não apoiar esse movimento golpista. Vai ser vergonhoso explicar isso no futuro”, afirmou ele, que sem medo de repressão tem aumentado o volume do coro “Fora Temer”.

Durante a ocupação, que aconteceu na última quinta-feira, na icônica casa de espetáculos, em Botafogo, Tico se uniu a artistas como Chico BuarqueZélia Duncan, Andrea Beltrão e Gregório Duvivier para protestar contra o atual governante do Brasil. No palco,  o artista entoou músicas de Cazuza (“O Tempo Não Para”, “Blues da Piedade” e“Ideologia”) para a manifestação. Em determinados momentos, o cantor mudava os versos usando as palavras “golpistas” e o clássico “Fora Temer”. “Eu tenho participado das ocupações e tenho acompanhado o movimento desde o início. Eu fiquei até um pouco chateado com a reintegração do Capanema, mas faz parte também dessa questão da luta e da resistência. Achei genial a ideia de terem vindo para o Canecão. Eu fico arrepiado de estar aqui dentro por ser um espaço onde assisti muitos shows e tive a oportunidade de fazer uma apresentação muito importante para a minha carreira. É um local que não poderia estar lacrado e morto”, comentou ele, referindo-se à luta judicial, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro, que a casa passa há quase seis anos. “Apesar da resistência política, essa ocupação oferece ao Canecão voltar a ser o que sempre foi: uma referência cultural e artística importantíssima”, avaliou ele.

No entanto, a escolha das músicas do poeta não foram pensadas de um dia para o outro. Em turnê com o espetáculo“Tico Canta Cazuza”, o cantor homenageia a obra do cantor carioca, que, segundo ele, apesar de ter sido construída há quase 30 anos, se aplicam perfeitamente nos dias atuais. “Eu estou fazendo um show em homenagem a esse metre da nossa música popular, que com sua rebeldia e atitude soube dar voz a uma juventude massacrada e recém saída da ditadura militar. Eu acho que ele merece uma releitura rock n’ roll. Ele já teve muitos tributos, mas em uma vibe MPB. A Maria Gadú, por exemplo, fez um ótimo trabalho, mas acho que as letras dele falam muito sobre tudo o que a gente está vivendo nesse momento. Como é uma obra atemporal, a gente passeia pela poesia desse cara com uma pegada bem mais pesada”, contou ele, que se apresenta nesta quinta-feira, no Teatro das Artes, na Gávea, com essa produção. “Será um show colaborativo, onde cada um paga o que achar que vale e vai ser bem legal. Eu estou querendo levar essa montagem do Cazuza para o Canecão, mas em termos de estrutura, ainda faltam algumas coisas, mas a gente vai conseguir fazer”, avisou ele.

E os trabalhos não param por aí. Prestes a completar 20 anos de carreira, o roqueiro ainda revelou que os fãs do Detonautas podem ficar animados, pois a banda segue em estúdio para a gravação de um novo álbum comemorativo. “O Detonautas segue com a turnê do álbum ‘A Saga Continua’, lançado há dois anos, e agora a gente prepara um disco especial em comemoração dessas duas décadas de existência, que deve ser lançado já no primeiro semestre do ano que vem”, adiantou o artista, que entende que o rock voltou para suas origens depois do estouro que teve no início do século.

“O movimento musical é cíclico, né? Tem momentos em que o rock está mais ativo e momentos que ele volta para sua origem que são os porões e garagens. São poucas as vezes que nós estamos nos holofotes. E acho que hoje, com o desaparecimento do estilo nas rádios, ele volta para o lugar que ele sempre foi: o movimento underground. Para nós, artistas, que vivemos disso no Brasil, fica muito difícil, porque a gente perde espaço nos meios de comunicação de massa, mas por outro lado a internet ainda dá um suporte para a gente manter a divulgação do nossos trabalhos”, avaliou ele, que falou sobre a falta de ideologia no cenário musical. “O que me preocupa, na verdade, é a falta de surgimento de novas bandas. Existem muitas acontecendo, mas poucas que possam alcançar um protagonismo e propor um debate, questionamento e revolução. O Rock não é só um entretenimento, embora ele também sirva a essa vertente. Aqui no Rio, com a perda da Rádio Cidade, a gente perde outro espaço. Resumindo: o rock passa por uma fase ruim, mas eu gosto de falar que ele é igual ao Jason do filme “Sexta-feira 13?, quando a gente menos espera ele ressuscita e vem ainda mais forte”, disse.

Quando questionado sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016, o cantor avaliou o momento como desfavorável, mas revelou ser um grande entusiasta do evento, além de uma grande oportunidade para o país. “Por incrível que pareça eu fui totalmente contra a Copa do Mundo, mas as Olimpíada eu me posicionei favorável. Acredito que foi uma grande oportunidade para o Estado do Rio de Janeiro e para o Brasil, já que tivemos uma movimentação importante que trouxe condições boas de transporte e mudanças que a cidade realmente precisava. Vou torcer para que dê certo, porque não tenho nenhum motivo para o contrário. Quero que os atletas sejam todos vitoriosos”, apontou ele, que achou a escolha da cantora Anitta um acerto para a abertura do evento. “Não vejo problema nenhum em ter a Anitta como uma representante da música pop Brasileira fazendo a abertura das Olimpíadas. Ela é hoje uma das maiores artistas desse país, se você gosta ou não do que ela faz, pouco importa, mas ela é uma referência no que se propõe a fazer e traduz perfeitamente o som que mais se consome hoje entre os mais jovens. Tom Jobim já dizia que fazer sucesso no Brasil é pecado”, completou.

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