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SPFW: R$ 34 milhões aplicados em três edições da semana de moda

A mudança no Calendário Oficial da Moda Brasileira e a edição histórica, a partir de segunda-feira

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É minha gente... exatos R$ 34 milhões em três edições da semana de moda (janeiro, junho e outubro) aplicados este ano nos lançamentos de coleções, que a gente acompanhou entre Rio e São Paulo. E o povo da moda que está de malas prontas para desembarcar na capital paulistana para acompanhar a 34ª edição da São Paulo Fashion Week vai ser testemunha de uma "mudança extraordinária e histórica" nas datas do Calendário Oficial da Moda Brasileira, como diz Paulo Borges, idealizador do Calendário e diretor criativo do SPFW.

"A partir da mudança, a indústria da moda terá prazos mais alongados de produção e entrega. Os riscos, que até agora eram assumidos exclusivamente pelos criadores, serão compartilhados por toda a cadeia. As empresas poderão trabalhar com uma programação mais acertada e garantir uma entrega mais eficiente", avalia Borges. "É mais um passo em direção a uma inserção definitiva da moda brasileira no mercado global."

Agora, com o novo Calendário, que antecipa os lançamentos das coleções de inverno para outubro/novembro e de verão para março/abril, o intervalo entre o lançamento e a chegada das peças ao varejo será ampliado, o que permitirá um melhor planejamento e maior competitividade ao setor, em um mercado cada vez mais disputado e globalizado.

A edição histórica será realizada no Parque Villa-Lobos e a maratona dos desfiles começa segunda-feira. Inspirada na beleza das grandes estufas, quem assina a cenografia é o multiartista Felipe Morozini. "Gosto de pensar que na estufa germinam e crescem novas vidas, novas ideias, como o momento atual da moda brasileira", explica.

Em um bate-papo exclusivo na última edição, em São Paulo, Paulo nos contou como anda o cronograma da moda nacional, o que pensa sobre a divisão entre moda comercial e conceitual, a ascensão da classe C e os planos para 2013, incluindo o Movimento Hot Spot e um projeto sobre os negros do Brasil. Confira novamente:

Heloisa Tolipan: Como será esta próxima edição do Fashion Rio e da São Paulo Fashion Week?

Paulo Borges: Os desfiles em outubro serão só para acertar o calendário. Será uma edição menor e a São Paulo Fashion Week não vai estar na Bienal, que já está ocupada com a Bienal de arte na segunda quinzena de outubro, quando deve ser realizado o nosso evento. Muitas marcas farão seus desfiles em showrooms.

HT: Nesta edição do Fashion Rio, comentou-se que cada vez mais, estamos vendo menos conceito e mais coleções comerciais. Você concorda?

Paulo: Cada marca tem o seu eixo de necessidade. O Fashion Rio sempre foi muito mais comercial, desde o início. Conseguimos realinhar e readequar as marcas do line-up. O resto do mundo da moda sempre foi mais empírico e conceitual, enquanto o Fashion Rio mantinha a verve comercial. Mas agora, o mundo está mais comercial. O discurso é esse porque é o consumidor quem manda. Não que ele não tivesse voz antes, mas é ele quem controla a informação hoje em dia. Ele observa tudo o que a imprensa mostra, deglute e orienta a indústria com o que ele está desejando.

HT: O que você pensa sobre a ascensão da classe C e todos os holofotes voltados para ela?

Paulo: Agora tem mais gente competindo pelo mesmo bolso. Essa história de que a classe C é a nova classe de consumo é a novidade da vez, mas ninguém sabe o que ela realmente quer. Ela quer ser B, ser A. O governo não tem nenhum plano para a classe C. O cenário atual é consequência do que estava sendo feito, desde que o FHC era ministro, depois quando ele foi presidente e deixou um cenário favorável para o Lula. Mas isso tudo é imediatista. Ao invés de criar uma estratégia para o futuro, estão trabalhando para o presente da nova classe C.

HT: Quais são os projetos para a moda no ano que vem?

Paulo: Estamos focados no Movimento Hotspot e estendemos o calendário dele até agosto, porque a premiação final seria em março, no meio do novo calendário das semanas de moda. O tema desta edição da SPFW, aliás, tem relação com esse projeto. Chamei o Marcelo Rosenbaum pra ser curador do Movimento Hotspot, ele topou e disse que queria a minha opinião sobre um projeto que ele queria exibir em uma ‘paredinha’ da SPFW. Mostrou o A Gente Transforma, passei duas semanas olhando aquilo e percebi que aquele deveria ser o tema. Tema é uma pauta, uma coisa que deve ser discutida e, pela primeira vez, o tema é o presente. A sustentação, a criação, tudo no presente. A gente está vivendo o tema: cria, mostra e vende o produto. (As peças criadas pela comunidade de Várzea Queimada, no Piauí, estão à venda venda na loja Pop Up SPFW, montada no primeiro andar do prédio da Bienal)

HT: E qual é a verdadeira mão que transforma?

Paulo: É a mão de todos que não ficam na zona de conforto. É o estilista que cria uma nova imagem, a empresa que busca novas maneiras de distribuição e acredita que a sustentabilidade já é irreversível.

HT: Como anda o projeto do seu livro sobre os negros no Brasil?

Paulo: Para mim, nada é uma coisa só. Além do livro, faremos uma exposição, um documentário e um circuito de discussões sobre a situação do negro no país. No documentário, vou misturar realidade e ficção. Venho com Gilberto Gil, Margareth Menezes e encontrei, na Bahia, um menino muito pobre que quer ser muito importante, como todos eles já quiseram ser. O negro da Bahia é pobre, excluído, energético, espiritual, ancestral e excluído da sociedade. E o Estado vem tendo sucessivos governos que negligenciam essa ancestralidade e acabaram destruindo-a. 

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