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# Day 5 SPFW: de Cauã Reymond para Herchcovitch à apoteose de Lino Villaventura

Alexandre Schnabl comenta ainda os desfiles de Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho e Vitorino Campos

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Este quinto dia de SPFW teve um pouco de tudo. A começar por Reinaldo Lourenço que, após sofisticar o claustro religioso na estação passada, optou, agora, por um tema solar. Mais jovial do que de hábito, a coleção desfilada na FAAP evocava os anos sessenta al mare, de preferência em uma lancha Riva, em alta velocidade, dando um rolé pelo Mediterrâneo. Chique, não? Bom, a marca é chique e a inspiração, idem. E o pano de fundo foi clássico O Sol por Testemunha, o cult movie franco-italiano dirigido por René Clement em 1960 e estrelado por um Alain Delon novinho, com pele de pêssego. Vestidos supercurtos e tops com saias, em modelagens do início dessa década, quadradas ou tubulares, serviram de base para Reinaldo reinventar o espírito esportivo náutico, dentro de sua pegada moderna e futurista. Anorak oversize ganha roupagem de zibelina com neoprene, cabans tem costura aparente inspirada nos veleiros, bolsos reproduzem os franzidos das bolsas laterais das lanchas, as peças têm forros em cores contrastantes. Sacações bacanas? Sim e, graças ao nosso bom Deus, longe de ser delírium tremens de estilista novato, preocupado em fazer conceito. Nada como a maturidade de um criador do naipe de Reinaldo. As belas peças exibidas são usáveis, modernas, contemporâneas, apesar de arrojadas. E super urbanas, apesar da releitura náutica que, por tradição, costuma ter pique de resort. Bacana mesmo. Acessórios do desejo: os sapatos bicolores, em forma de bico de proa ou de quilha de lancha, e os óculos de colorido transparente. 

Mais tarde, Gloria Coelho apostou em um futuro binário, regado a tecnologia e física quântica. Trocando em miúdos: peças de corte limpo super elaboradas (seeeempre!), em cores neutras - branco, off white, bege, cinza, preto -, em tecidos como organza de seda pura, zibelina, algodão e couro. Completadas por pelerines, jaquetas e detalhes modernérrimos, em crepe de acetato, reforçando aquele it espacial que é tão caro à estilista. Tudo com muita transparência, com jeitinho cibernético. A pelerine lilás com cara de silicone, por exemplo, é um primor! E amei a estampa corrida de números binários, composta só por algarismos O e 1. Ótima idéia! Além disso, os acessórios pontuais também causaram frisson: meias-calças holográficas da Trifil, com parte posterior em cores fortes, cintos confeccionados com metal cromado e cristais.

Alexandre Herchcovitch trouxe uma combinação inusitada: referências orientais inseridas dentro de uniformes militares retrô da Segunda Guerra Mundial, associando elementos ocidentais e japoneses. Como cenário, centenas de jornais antigos, espalhados pela platéia e chão da passarela, com manchetes de época em que os aliados lutavam contra o Eixo. Na passarela, fardas, calças e paletós tirados do figurino das forças armadas da época, com lenços orientais nas cabeças, estampas com clássicos desenhos japa que, de longe, mais parecem camuflagens, bordados militares, comendas com flores penduradas em suas extremidades. No final, um susto equivalente ao ataque a Pearl Harbour: um inesperado Cauã Reymond fazendo uma entrada e puxando a fila final. Ninguém esperava por essa!

Estreante no SPFW, o baiano Vitorino Campos desfilou uma coleção preta e branca, com um pouquinho de pêssego no final. Looks em formas clássicas dos anos 1960, como tops, calças, tubinhos secos, saias-lápis, vestidos com saia godê, em uma cor só ou em duas cores, repletos de transparências e grafismos geométricos com encaixe perfeito nas costuras. Para começar, mandou direito. Sua modelagem pede um talho perfeito.

Lino Villaventura novamente escreveu um manifesto em seu release pedindo para que, ao invés de os jornalistas tentarem interpretar suas criações, que tentem senti-las, pois as suas inspirações são subjetivas e, naturalmente, representam muito mais do que meras explicações banais. Para não deixar o público sem resposta, afirmava que sua fonte de inspiração é a vida. E, sem dúvida, vida é algo que brota de suas criações, como se os seus fabulosos vestidos saíssem dançando vaporosos, imponentes, como em um longa-metragem. Obviamente, o show - show mesmo, de verdade e como sempre! -  trouxe tudo aquilo que Lino sabe fazer como ninguém: vestidos longos e curtos, sinuosos, insinuantes e que se moldam ao corpo das modelos com se fossem vivos, relevos absurdos, recortes sensacionais, nervuras de enlouquecer e bordados de tirar o fôlego para elas; suéteres e camisetas cheias de grafismos, patches e transparências, usadas com calças em modelagens amplas, bem talhadas, para eles. Naqueles materiais que lhe são tão caros: tafetá de seda pura, organza de seda pura, gaze, crepe de chine, jacquards formidáveis. E havia máscaras e lagartos cravejados de cristais tchecos da Preciosa, como os que brotavam da máscara, punhos, ombros e costado da Viviane Orth, que abriu o desfile ao som de George Gershwin. A trilha, de Felipe Venâncio, avançou por momentos sinfônicos para, na reta final, voltar a Gershwin, com Summertime. Neste momento, sílfides como Alicia Kuczman, MiIchelle Provensi, Talitha Pugliese e Eliana Weirich incorporaram frívolas cariátides em modelos suntuosos, cheias de trejeitos friamente sensuais. E, se a questão não é interpretar, mas sentir, então aí vai agora tudo aquilo que veio ao meu descompassado cérebro (ou seria o coração?) durante estes minutos etéreos de pura magia: Gustav Klimt, sedutoras ninfas dos anos 1930, estrelas de uma sofisticada Hollywood retrô, as festas fabulosas de Marion Davies no palácio que William Randolph Hearst construiu para ela, a louca e borbulhante Paris pré-guerra e os rega-bofes na companhia de Cole Porter, Scott Fitzgerald e sua Zelda, Gertrude Stein e sua turma. Precisa sentir mais?    

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