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#Day 3 da SPFW: de Miami, no Boticário, ao batuque baiano de Adriana Degreas

Alexandre Schnabl comenta ainda a volta da Forum ao line up e os desfiles da Água de Coco e Uma

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A dura jornada na Bienal já começou cedo, no meio da tarde, no terceiro dia de SPFW. Era mais uma edição do desfile da Make B, linha de maquiagem d'O Boticário que tem a direção criativa de Fernando Torquatto. Pois bem, o show teve direção de Paulo Martinez e cenário de Marton, reproduzindo o dolce far niente da Flórida, com taças de Martini gigantes, espreguiçadeiras, maxi ultra mega rollerblades e cadeira de salva-vidas em cena, usadas para reunir e compor cada grupo de modelos que desfilava. O nome da nova coleção? Miami Sunset. As tops desfilaram poderosas, com cabelos molhados e penteados para trás, usando sombras coloridas, como turquesas, nos olhos e bocas em tons de rosa e flamingo. Mais Ocean Drive, impossível!

A Água de Coco desfilou com a corda toda, em ritmo de Bósforo chique. Traduzindo: sua nova coleção de verão teve pesquisa feita em Istambul, e as estampas foram desenvolvidas a partir das fotos tiradas lá mesmo pelo fotógrafo Eduardo Rezende. Conceitual? Nem tanto e ainda bem. Liana Thomaz sabe fazer boa moda-praia, bem trabalhada, criativa, mas usável. E boa moda-praia usável é tudo que esperamos ver em um desfile de maiôs e biquínis. O desfile começou com uma série com estampas de landscapes da Turquia, com os balõezinhos característicos sobrevoando a paisagem. Espécie de Capadócia beachwear. Depois emendou com printings de mosaicos arquitetônicos - outra interpretação daquilo que já tinha sido visto no desfile da Espaço Fashion, no Rio, há duas semanas atrás. Em seguida, peças com trabalhos artesanais (incríveis!) recriavam as texturas do artesanato turco através de efeitos de customização sobre a lycra. Havia bordados manuais, aviamentos e contas douradas que lembram as decorações de roupas típicas, efeitos que simulam as tramas dos tapetes e da cestaria dos mercados locais, tudo um luxo. As estampas corridas que simulam o efeito dos tapetes persas deixaram a platéia animada. E as túnicas, chemisiers longos e caftãs, característicos do pós-praia, também fizeram bonito, assim como os acessórios: maxi brincos em metal, desenvolvidos a partir dos adornos que decoram as pontas do minarete das mesquitas, e colares enoooooormes, confeccionados em metal em formatos típicos da cultura muçulmana daquela região. E, para fechar, alguns quartetos de muçulmanas fashion que, quando juntas, são pura covardia: em sequência, sem dar tempo para pestanejar, a trinca de morenas Gracie Carvalho, Emanuelle de Paula e Laís Ribeiro, seguidas da japa top Juliana Imai. Ou um trio de louraças do babado, também em escadinha: Shirley Mallman, Aline Weber e Ana Claudia Michels. Pode?

Já a UMA, de Raquel Davidowicz, como de praxe, apresentou sua moda seca e minimalista em tons de branco, preto, cinza, azul escuro. A levada étnica da coleção foi interpretada também de maneira sequinha. Claro. Não é de hoje que coleções urbanas reinterpretam o tribal em uma pegada urbana e contemporânea. Mas quem disse que a mulher da marca quer consumir frivolidades passageiras? A consumidora da UMA tem estilo próprio e personalidade definida. Nâo faz a menor questão de envergar modismos passageiros. Portanto, os truques des styling como golas, palas e braceletes de plástico preto, usados para reforçar a leitura tribal das estampas étnicas, não compromete os belos e atemporais vestidos longos, regatas, saias e bermudas da coleção.

Quase no final da noite, Adriana Degreas trouxe a Bahia. A praia de Adriana é sempre chique e, mesmo quando ela envereda por um tema étnico, desses que pode ser tanto um acerto quanto um erro mortal, não deixa nunca a peteca cair. Bom, nada de petecas, mas balangandãs. O release já dizia que sua inspiração era a Bahia de Todos os Santos, o sincretismo religioso, turbantes, batidas, traços e cores. A cliente da grife é rica (ricaaaaah!), é uma mulher do mundo, globetrotter, que usa, aqui e ali, coisitas compradas em suas viagens, incorporando tudo ao seu estilo internacional. Daí que, mesmo tendo baianas notórias (Nega Fulô e a escrava Anastásia) como musas inspiradoras da coleção, a marca fez aquilo que sabe fazer bem: roupa de praia e muito pós-praia com jeito de milionária, que comanda o badalo da proa do seu iate. De preferência, iate com o comprimento de dois campos de futebol. No geral, as modelos desfilaram ao som de Caetano e de uma versão de Moonlight Serenade calibrada por uma batidinha afro. E exibiram modelagens tiradas das décadas de 1950 e 1960, como bustiês, hot pants - que fashionistas e mulheres ricas adoram! Além de macaquinhos e maiôs tomara-que-caia com jeito de Betty Grable. Mais pin up, impossível! E, claro, aquela roupas para se usar na proa do barco, sentadinha, tomando um champã. São tais vestidinhos, curtos e longos, túnicas, saias de cós alto, blusas e pantalonas da marca, lindas de doer! Com policromias de negras estampadas, texturas trabalhadas, transparências, arabescos dourados sobre tules, tudo na mais perfeita ordem. 

No fim da noite, a Forum voltou ao line up da SPFW e trouxe a a santíssima trindade das cidades brasileiras representada nas estampas feitas à mão: printings de caipirinhas para o Rio, skyline de prédios para Sampa e uma representação da cidades alta e baixa, com Elevador Lacerda, para Salvador. Possivelmente coisa de Marta Ceribelli, que assumiu a direção criativa da marca, após carreira de sucesso na mítica Yes, Brasil e na Animale. Nota dez. Com um sambinha sublinhando o catwalk, as modelos vestiram looks plastificados, tendo com base o branco e cores flúor, com destaque para os tecidos trabalhados, as jaquetas futurista armadas e a alfaiataria bem talhada. Fechou bem no melhor dia, até agora, desta edição do SPFW.  

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