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'Amor, Eterno Amor': ruralismo ganha charme com temática espiritualista

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Há tempos a Globo não emplacava, de forma tão certeira, duas grandes tramas em um mesmo horário de novelas, como ocorreu com 'Cordel Encantado' e 'A Vida da Gente', tramas que demonstraram uma força interessante de dramaturgia em um horário tradicionalmente voltado para enredos mais simplórios e amenos. Tanto na novela do cangaço como no drama familiar sulista, diálogos cortantes, direção competente e fotografia deslumbrante deram as caras, dando destaque à faixa de horário da emissora que mais tem dado gosto de ver, ainda mais se comparada às duas outras histórias que estão no ar, fraquíssimas.

Eis agora, então, a chance de emplacar o tricampeonato, sendo convocado a campo o time espiritualista comandado por Elizabeth Jhin, autora de novelas bem-sucedidas, como 'Eterna Magia' e 'Escrito nas Estrelas', sempre com olhos voltados para a transcendência como ponte para relações amorosas, e não como barreiras. Em 'Amor, Eterno Amor', o pano de fundo é o ruralismo do Norte do país, com búfalos, rios e muitas peles bronzeadas...

Logo no primeiro capítulo, algumas observações notáveis a destacar, como a direção segura e poética de Pedro Vasconcelos, valorizando, ao mesmo tempo, seus personagens, sem deixar de explorar o visual fantástico da Ilha de Marajó, palco para mais um desafio na carreira de Gabriel Braga Nunes, outrora vilão mais odiado do país, agora um mocinho cujo paradeiro é procurado por sua mãe, interpretada pela intocável Ana Lúcia Torre

Mas os maiores aplausos do primeiro capítulo vão, com certeza, para Caio Manhente, garotinho que deu vida a Braga Nunes em sua infância, e que já se despediu do folhetim: carismático, o menino foi responsável pelas cenas de maior emoção, principalmente ao encontrar a mãe, morta por um ataque cardíaco, em casa, ao lado de seu asqueroso padrasto, interpretado pelo mestre Osmar Prado.

Outro ponto positivo na primeira exibição da novela, e que deverá ser uma constante, é a fotografia simplesmente fascinante, com realces da cor terrosa que emoldura os cenários rurais, mas que, ao dar foco ao núcleo carioca da trama, recua e se contém, sem exageros. 

E, por falar nos personagens do núcleo do Rio, nota dissonante para Cássia Kiss Magro: sem duvidar da competência da consagrada atriz, ficou claro que será preciso muito cuidado para que sua Melissa não se torne caricata ao extremo, perdendo a veia vilanesca prometida à personagem e descambando para a 'malvadeza' de pastelão.

Mas, no frigir dos ovos, Elizabeth Jhin deixa registrado, após um primeiro capítulo suave, que 'Amor, Eterno Amor' pode ser mais que apenas uma novela rural: o espiritualismo (sintetizado no espírito de luz Lexor - Othon Bastos -, espécie de narrador onisciente) trará um charme especial à novela, com direito a poderes sobrenaturais, mostrados pelo personagem de Gabriel Braga Nunes, um encantador de animais... Torcemos para que a trama seja mais que uma versão pós-moderna de 'Pantanal' e que delicadeza de sua abertura, feita em animação, dê o tom nos próximos capítulos.

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