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Na van com Ok Go: banda fala sobre a estadia no Brasil e o atual mercado musical

Pegamos uma carona com o grupo até o show no Baixo Gávea, na quinta-feira (24/11)

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O hall marcado pelos tons terrosos do Hotel Fasano, em Ipanema, era preenchido por pontos brancos conforme os elevadores chegavam ao térreo trazendo os integrantes da banda americana Ok Go, que, durante três dias, fez pequenos shows (pequenos mesmo, com duração de 15 minutos cada) em vários pontos da cidade. 

Antes de se hospedarem de frente para o pôr-do-sol mais aplaudido do globo, Damien Kulash (vocais), Tim Norwind (baixo), Dan Konopka (bateria) e Andy Ross (guitarra e teclados) também passaram por São Paulo com suas gigs e, nas horas vagas, Damien torcia para que o tempo bom carioca fosse transportado para sua cerimônia de casamento, que vai rolar no final de dezembro, no México; Tim já escreveu uma peça de teatro e Andy trabalhava em seu projeto de aplicativos para iPad, entre eles, um jogo educativo para crianças que será lançado no ano que vem.

A ação itinerante da José Cuervo estréia aqui no Brasil e foi planejada pela agência britânica Albion e, quando encontramos Ed Norrington, diretor de negócios da agência, usando o combo super carioca de bermuda e camiseta, precisamos perguntar o porquê da escolha do nosso país. “Quando analisamos os gráficos de vendas, percebemos que o consumo aqui está muito aquecido. Além disso, o Brasil é famoso pelo povo caloroso, muito bonito, divertido e que não perde uma festa. E nós confirmamos tudo isso nessa turnê”, disse.

Na noite de quinta-feira, o Baixo Gávea foi o cenário da quarta gig em solo carioca, que foi transmitida online para o mundo todo usando as fotos dos fãs da banda no Twitter e Facebook como pixels das imagens. E nós, da coluna, entramos na van da banda, bem na hora que o sol estava se pondo, para acompanhar o trajeto dos rapazes até o caminhão estacionado nos arredores da Praça Santos Dumont. Passeio que, graças a pequenos engarrafamentos, durou mais que o esperado. Ainda bem.

HT: Vocês conseguiram parar para admirar o pôr-do-sol aqui de Ipanema?

Damien: É maravilhoso! Achei incrível que o pessoal aplaude. É como se todo mundo falasse: ‘Ei, mundo! Bom trabalho! Mais um dia aconteceu!’

HT: Conseguiram tempo para passear pela cidade?

D: Hoje (quinta-feira) fizemos o roteiro turístico: fomos ao Corcovado e ao Pão de Açúcar. Eu fui com um amigo visitar algumas favelas que ele usou como cenário em um filme que fez há um ano. Visitei a Rocinha e o Vidigal. É impressionante como esses não são os m² mais caros da cidade porque é tudo tão bonito. Certamente compraria uma casa lá.

HT: Conseguiram atravessar a rua e ir à praia?

D: Eu e o Tim bebemos bastante ontem e fomos nadar à noite. Fizemos tudo o que o pessoal do hotel nos disse para não fazer: ‘não vá à praia a noite, não nade sem as suas roupas de banho, não corra nas pedras, não tente escalar as pedras sozinho se estiver bêbado’. O Tim está com a perna toda machucada porque caiu nas pedras. Mas, pelo pouco que lembro, a praia era muito bonita.

HT: É verdade que vocês visitaram a quadra do Salgueiro?

D: É! Fomos lá ontem

Tim: Foi suado. E barulhento. Mas um barulho bom.

D: Eu participei de um concurso de dança. Tentei mexer as pernas como vocês fazem e acho até que sambamos. Foi bem legal.

Dan: Eu consegui tocar um daqueles tambores. Foi muito divertido e realmente muito barulhento. Quase um barulhento ruim. Ver as fantasias do carnaval pessoalmente também foi muito legal.

D: O Andy até saiu de lá querendo montar a própria escola de samba. Ele adora competições.

A: É verdade. E na minha escola de samba eu tocaria um pouco na bateria, depois ia dançar e depois colocaria um daqueles vestidos grandes que vão até o chão (das baianas). Eles podem até ser feitos para as mulheres, mas eu ia usá-los assim mesmo.

HT: Estamos indo para o Baixo Gávea, que é quase um ponto turístico da cidade. Se vocês estiverem pensando em fazer um happy hour, esse é o lugar certo.

D: É uma ótima ideia. Nós gostamos de beber tequila, claro. Estamos em uma turnê promovida por uma marca de tequila, afinal. Nessa viagem nós tomamos tanta tequila que eu acho que estamos um pouco embriagados o tempo todo. Eu gosto mesmo de tequila, mas prefiro tomar em drinks, apesar de também gostar de beber pura.

HT: Tem alguma receita de drink infalível?

D: Tenho muitas. Mas agora estou gostando especialmente de misturar manjericão, pimenta e tequila.

HT: E a nossa capirinha, vocês provaram?

Dan: Sim. É gostosa, mas um pouco açucarada. Gostamos de drinks menos doces.

HT: De todos os shows que fizeram no Brasil, qual foi o cenário mais interessante?

D: O mais legal é que todos eles são muito diferentes. Quando se faz vinte shows de rock seguidos, todos meio que se misturam em um só porque o palco é sempre parecido, o público é mais ou menos o mesmo, especialmente nos Estados Unidos. Mas aqui, uma hora estamos tocando na praia, na outra em um posto de gasolina desativado. Todos são diferentes, não dá para escolher um melhor ou pior. Mas, geralmente, eu gosto mais de shows noturnos do que durante dos que rolam durante o dia.

HT: Qual é a principal diferença entre fazer um show normal e um show curto como esses?

D: A maior delas é o público. Em um show normal, todos estão lá porque planejaram ir até o show. Aqui, entre o começo e o final da gig existe uma grande diferença na plateia. Podemos começar com algumas dezenas de pessoas e terminar com milhares concentradas ali. Além dos que estão andando desavisados, passam e vêem essa ação incrível acontecendo. É muito divertido tocar para pessoas que talvez nunca nos ouviriam ou iriam a um show de rock.

HT: Vocês estão fazendo um clipe colaborativo com a ajuda dos fãs e têm uma relação muito próxima com eles, né?

D: Nós vivemos em um cenário bem diferente de 10 anos atrás. Nós abandonamos aquela distância que alguns artistas tinham para se preservarem. Mas nunca quisemos ser distantes. Nosso fãs são o motivo pelo qual fazemos música. Existe uma história no rock ‘n roll de que você precisa entrar no meio desse sistema e tentar fazer alguma coisa que venda milhões e milhões de cópias e fazer muito sucesso. O nosso negócio é fazer coisas que nós achamos interessantes e achar outras pessoas que reconheçam isso. Não precisamos vender 10 milhões de CDs. Estamos bem com os fãs que temos; felizes e próximos de nós. A Cuervo não faria tudo isso se nós não tivéssemos muitos fãs. E tudo se resume a eles no fim das contas. A nossa conexão com os fãs é o que nos move.

HT: É impossível falar de vocês sem lembrar do clipe ‘das esteiras’, da música 'Here it goes again'. Como tiveram a ideia e qual foi a reação ao ver o sucesso que o vídeo fez?

D: Foi chocante, para dizer a verdade. Sempre dançávamos no palco. Simplesmente largávamos os instrumentos e começávamos a dançar. Era tão inusitado que o público adorava. Aí, decidimos gravar um vídeo com essa ‘dancing routine’ e, quando colocamos na internet, conseguimos 100 mil acessos - esse era o mesmo número de CDs que nós tínhamos vendido na época! Pensamos que, se conseguíamos fazer acidentalmente, deveríamos fazer isso de propósito. Filmamos o vídeo das esteiras na casa da minha irmã, pensando em colocar online para talvez atingir a mesma quantidade de pessoas que o primeiro. Na época, pareceu ser a maior coisa na internet, porque tínhamos conseguidos uns 200 ou 300 mil acessos. E quando colocamos esse (das esteiras), acho que foram 600 mil acessos só no primeiro dia. Pensávamos que isso era impossível. E o mundo muito desde então.

HT: Mas o vídeo ainda é lembrado.

D: Ficamos muito orgulhosos, é claro. Foi uma das semanas mais divertidas das nossas vidas. O clipe era muito criativo, mas era também a coisa certa na hora certa. O Youtube era muito novo e a MTV e a velha indústria da música estavam desmoronando. Nós conseguimos encontrar um novo jeito de se conectar com o universo.

HT: Você acha que, com todas essas mudanças no mercado, existe uma nova fórmula para trabalhar com música?

D: Não acho que devemos dizer que existe uma fórmula. Nos termos mais simples, você tem que fazer coisas incríveis e boas. Antes, haviam muitas barreiras entre os artistas e as pessoas que queriam ver a arte e, agora, a maior parte desses ‘obstáculos aí no meio’ sumiram. Especialmente na indústria musical. E as regras sobre o que é permitido e esperado mudaram completamente. Em 1975, 85 ou 95, a música era o que você conseguia colocar em um pedaço de plástico e, há 100 anos, a música nem era gravada. Então a ideia sobre o que é mésica está em constante mudança. Agora, música é tudo o que você consegue colocar na internet. Mas a literatura e a fotografia também são isso. Todas essas formas de arte convergiram. A terminologia tradicional não funciona mais. Nós fazemos coisas que achamos incríveis, parte disso é a música tradicional e outra parte não é.

HT: Que tipo de música enche os seus iPods?

D: Gosto muito de música soul antiga. Mas sou uma mistura musical muito grande.

T: Adoro o pop britânico dos anos 80 e 90. Bandas como The Smiths, The Cure e New Order. Tenho ouvido bastante indie rock dançante e fui ao show da Yelle na terça-feira. (Que nós também fomos, lembra?) Não a conheço pessoalmente, mas adoro a música dela.

Dan: Cresci ouvindo muito rock dos anos 70 e gosto muito do Led Zeppelin. Sou o baterista da banda, então procuro prestar atenção em bateristas muito bons para tentar copiar o estilo deles. Nos últimos seis meses, tenho ouvido muita música eletrônica dançante e venho tentando fazer a minha própria música eletrônica. Por isso, estou ouvindo muito house.

A: Ando escutando muita música clássica ultimamente, apesar de não saber o porquê. Mas eu sou um cara do rock clássico e sempre gostei muito de Beatles. Adoro La Roux, aquela menina do cabelo engraçado, e tem um DJ aí, chamado DNK que tem feito ótimos remixes.

Dan: Esse sou eu! O DNK sou eu!

HT: Ah, então não conta...

A: Mas eu gosto mesmo!

HT: Conhecem alguma coisa de música brasileira?

T: Os Mutantes. Eles são ótimos.

HT: Para terminar. Vão levar algum souvenir do Brasil?

Dan: Meu primeiro filho vai nascer no final de dezembro, então eu comprei um macaquinho de futebol do Brasil para ele, mas não tem o nome de nenhum jogador nas costas.

T: Estou pensando em levar os cabides do hotel e alguns lençóis...

D: Talvez o xampu, condicionador e sabonetes, né?

T: Agora é sério, queremos sair para comprar algumas coisas antes de irmos embora.

D: Da outra vez que estivemos aqui (para shows em São Paulo e Porto Alegre, em 2010), levei um tamborim que faz um barulho completamente diferente do normal. 

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