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O convite de 1 milhão de dólares

Acompanhamos a difícil missão de três jovens à porta da Bienal de SP, em busca de entradas para a maior semana de moda da América Latina, a São Paulo Fashion Week

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Se tem uma coisa que o filme Meninas malvadas nos ensinou é que tem gente que faz de um tudo para pertencer a um grupo seleto que todo mundo só sabe falar sobre. Se Cady (Lindsay Lohan) moveu mundos e fundos para ser amiga de Regina George (Rachel McAdams), imagine se o alvo da cobiça fosse a maior semana de moda da América Latina, com centenas de roupas passeando para lá e para cá, jabás sendo praticamente jogados de avanço (incluindo sapatos, sandálias, relógios, fones de ouvido e até Barbies!) e algumas celebridades circulando no meio de todo mundo. Resumindo: o que você faria para conseguir entrar na São Paulo Fashion Week?

Não existe top model ou estilista que seja mais frequente nas semanas de moda do que aquele grupo de pessoas que ficam na porta do evento repetindo incansavelmente a pergunta esperançosa: “Você tem convite sobrando?”. Na temporada de Inverno, que ironicamente acontece nos meses mais quentes do ano, os fashionistas sem convite chegam a formar uma barreira de cerca de 20 pessoas na porta. Ontem, com um frio de 12º, encontramos o trio Andréia Sierpien, de 16 anos, Luiza Louzanel, de 17, e Agnaldo Junior, de 18 anos, sondando de longe quais dos passantes poderiam ter os pedaços de papel mais cobiçados que os Golden Tickets de Willy Wonka em semana de São Paulo Fashion Week. “Viemos de longe, da Zona Norte, levamos quase duas horas para chegar e estamos aqui há mais de 2 horas. Estou morrendo de frio, pedi ao segurança que deixasse eu entrar para colocar minha meia-calça, mas ele não deixou”, lamentava Andreia, dentro de seu shortinho. 

São os guarda-costas do evento, aliás, que aproveitam a semana de moda para incrementar seus salários. A tática é tentar vender aos esperançosos da porta os convites que conseguem. “Na temporada passada eles queriam vender cada convite a R$50!!! Claro que recusamos e depois conseguimos uns melhores do que os que eles queriam vender. E de graça!”, comemorava Andreia, que, lá em fevereiro, perdeu a noção do tempo e não conseguiu chegar ao desfile da Tufi Duek antes que as portas estivessem fechadas. 

Para Agnaldo entrar pela porta de vidro é mais fácil – às vezes. O rapaz é amigo de blogueiras que sempre descolam algumas entradas a mais e autorizam sua entrada na Bienal. Mas o presente não chega todos os dias. “Hoje um amigo meu conseguiu um convite, entrou e eu fiquei aqui fora para tentar conseguir um para mim”, disse.

De acordo com os estudos do trio, existem jeitos obscuros de garantir a entrada na Fashion Week, ainda não confirmados por nossos fiscais. “Tinha um grupo de 3 amigas aqui, há pouco tempo. Duas estavam com convite e a outra, vestida que nem a Lady Gaga, não. Aí alguém chegou ali na porta, conversou com elas e as colocou para dentro! Ah, se eu soubesse disso! Da próxima vez, venho vestida que nem uma drag queen!”, brincou Luiza. 

Conforme os minutos passam, a fome e o cansaço vão batendo e aplacam a esperança de entrar. “A gente volta sexta-feira e esperamos entrar! Pelo menos deu para ver algumas celebridades, hoje”, disse Luiza, com a câmera em punho. Mas, antes de ir embora, quem disse que conseguimos escapar da pergunta implacável? “Antes de vocês irem, não posso deixar de perguntar: vocês têm convite sobrando?”. Não Luiza, infelizmente não.