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LeBron me dá saudades do ‘velho’

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A TV era uma Philco de 24 polegadas, a cores e com antena UHF! Naquela época longínqua, tratava-se da última palavra em televisores e, por isso, foi recebida com festa. Estamos falando de um tempo em que as casas de classe média, como a minha, tinham apenas um aparelho de TV, normalmente instalado na sala de estar e era em torno dele que a família se reunia para assistir, após o jantar, às novelas, aos filmes e aos programas de auditório, exibidos pelos poucos canais abertos – não havia cabo e muito menos internet, ou seja, Netflix e que tais. 

Lá em casa, não era diferente. Incomum foi a descoberta que meu pai fez, quando resolveu explorar o botão do UHF, deparando-se, maravilhado, com transmissões ao vivo do basquete americano. Tinham narração em inglês (idioma que, então, nenhum de nós dominava), mas a linguagem dos craques da NBA nas quadras era universal e papai assistia a tudo, deleitando-se e me convocando para acompanhar os jogos com ele:

- Alemão, ô Alemão (esse era o apelido pelo qual me chamava), olha o que esses caras fazem com a bola! Papagaio!

Até àquela época, a única coisa parecida que eu conhecia eram os “Globetrotters”, time americano de exibição, que corria o mundo afora e, também com o velho, eu tinha visto uma vez no Maracanãzinho. Os caras eram infernais, é verdade, mas havia nos jogos (disputados entre dois quintetos deles, mesmo) um quê de “armação”. Lances geniais e acrobáticos, mas, dava pra notar, as partidas não eram pra valer. 

Daí o nosso entusiasmo ao acompanhar, pela primeira vez, naquelas transmissões meio clandestina, jogos de verdade, entre adversários reais e não estrelas da mesma companhia. Não me lembro quanto tempo isso durou, mas fato é que certo dia, assim como surgiram através do sinal UHF, os duelos da NBA desapareceram da telinha, para tristeza de papai. 

Recordo essa história dos meus tempos de criança, porque tenho me deliciado com os playoffs deste ano, na liga americana de basquete. E sempre bate uma tremenda saudade, pensando como meu pai gostaria de estar vendo tudo isso. Certamente, como eu, seria um fanático torcedor. Não de um time, mas de um jogador. Aliás, um jogador, não. Um supercraque, um gênio, um monstro, um dos melhores de todos os tempos, com certeza absoluta.

Falo, claro, de LeBron Raymone James. Por causa dele já virei casaca do Cleveland Cavaliers para o Miami Heat e voltei a torcer pelos Cavaliers. Nos tempos em que defendia o “Heat” tive a enorme alegria de assistir a um de seus jogos, na American Airlines Arena, em Miami. Não com meu pai, já então falecido, mas com minha filha, que viajava comigo e também é apaixonada por esportes. Uma aventura inesquecível: LeBron e Cia., naquela noite, arrasaram o New York Knicks, onde pontificava o surpreendente Jeremy Lin. 

Voltando aos dias de hoje, o que se vê é extraordinário. O Cleveland, nem de longe, possui uma equipe e um elenco à altura das principais forças da NBA nesta temporada. Mas tem LeBron James. E ele vem carregando o time nas costas, com atuações espetaculares, sublimes. 

No primeiro confronto dos playoffs, diante de um Indiana Pacers determinado e talentoso, King James teve que fazer das tripas, coração, para não cair logo na fase inicial do mata-mata, algo que seria inédito em sua vitoriosa carreira. O Cleveland esteve em desvantagem duas vezes na série, 1 a 0 e 2 a 1, mas acabou desclassificando o rival por 4 a 3. 

Vieram, então, os Raptors, de Toronto. Donos da melhor campanha da Conferência Leste. E o que fez LeBron? Aumentou ainda mais o nível, já normalmente estratosférico, de seu jogo e varreu o rival com um acachapante 4 a 0, no qual nem o mais fanático torcedor dos Cavaliers apostaria. Que venha agora o vencedor do duelo entre Boston Celtics e 76ers. Os Celtics lideram a série por 3 a 1.

Do jeito que LeBron anda, já é possível sonhar com nova final contra o Golden State Warriors, dos também geniais Stephen Curry e Kevin Durant, o atual campeão e, em tese, o melhor time da NBA. Se isso acontecer, será a oitava final consecutiva de James (com três títulos conquistados) – ele disputou ainda mais uma, e perdeu, em 2007. 

Como gostaria que meu velho estivesse vivo para vê-lo, em ação, e gritar, uma vez mais: 

- Alemão, Alemão! Olha o que esse cara está fazendo... Papagaio! 

Estou vendo pai. E tomara que você, aí de cima, também. Sua benção!

Estatísticas estúpidas

 Estatísticas no futebol podem ser úteis, se analisadas com inteligência, ou extremamente danosas, se vistas apenas com a frieza dos números. Qualquer cérebro medianamente capaz sabe disso, mas ainda assim são produzidas reportagens inacreditáveis, como a que o Globo Esporte levou ao ar, ontem, apresentando o medíocre lateral-esquerdo Renê como um campeão de desarmes e passes certos – quase um misto de Nilton Santos com Júnior!!! 

Os rubro-negros que acompanham os jogos do Flamengo sabem muito bem o quão Renê irrita, por sua incapacidade de acertar um cruzamento decente e são testemunhas sofridas de sua eterna briga com a bola – essa ingrata, que não se atem às estatísticas. 

Algo semelhante já tinha sido feito, em determinada época do ano passado, com Márcio Araújo, igualmente exaltado pelos mesmíssimos números: desarmes e passes certos - o que nunca dizem é que após os desarmes, muitas bolas são perdidas e os passes são de, no máximo, dois metros. 

Graças a essa bobagem, que alguns técnicos levam muito a sério, Márcio Araújo deixou Cuellar no banco durante muito tempo. Pode existir prova maior de que estatísticas, quando analisadas estupidamente, fazem mal?