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O reizinho está nu

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Juninho Pernambucano foi um excelente jogador e sempre me pareceu uma pessoa educada, inteligente, ponderada e afável. No entanto, desde que se aventurou como comentarista esportivo na TV, vem se revelando a antítese da imagem que criou, enquanto calçava chuteiras. Suas opiniões são típicas de quem viveu no mundo da bola como se estivesse no mundo da lua. 

Entre outras barbaridades, já defendeu, com ardor, a desastrosa administração de Roberto Dinamite, no Vasco; atribuiu a barração do lateral rubro-negro Renê (na semifinal do carioquinha, contra o Botafogo) a um preconceito com os nordestinos; advogou em favor de Muralha, Rafael Vaz e Márcio Araújo, considerados por ele jogadores muito bons, perseguidos injustamente por torcedores e jornalistas; afirmou que maconha é remédio (num debate sobre o doping de um jogador do Santos por cocaína!); e comprou briga feia, no Twitter, com a maior torcida do país – e por isso não comenta mais jogos do Flamengo.

Sua última estupidez foi disparar furiosamente contra os repórteres setoristas de clubes que, segundo ele, criam matérias pejorativas motivados pela inveja que teriam, por ganhar muito menos que os jogadores que entrevistam ou, pior, por se prostituírem, se vendendo para dirigentes interessados em tumultuar o ambiente no clube. 

O absurdo foi tamanho que a direção do SporTV, ainda durante o programa (Seleção SporTV da última segunda-feira), fez o apresentador André Rizek ler uma nota em que o canal afirmava respeitar, mas não compartilhar da opinião de seu comentarista. Um baita puxão de orelhas no ar. E mesmo assim o outrora reizinho da Colina manteve o que tinha dito. 

A asneira levou a Associação de Cronistas Esportivos do Rio a emitir nota oficial, repudiando as palavras de Juninho, enquanto vários jornalistas que cobriram o Vasco na sua época de jogador se manifestaram nas redes sociais. Pincei dois depoimentos, de excelentes profissionais que conheço bem, e cujos nomes prefiro preservar. Vamos lá: 

“Ainda não consegui entender o objetivo do Juninho. Não é a primeira vez que ataca seus novos ‘colegas’. Desta vez, no entanto, ele foi tudo o que critica: arrogante, preconceituoso e, principalmente, leviano. Como ele pode dizer que repórteres que cobrem clubes ‘se vendem’ porque têm salários baixos? Ou seja, quem ganha mal é desonesto? Que loucura é essa? Cobri o clube que o Juninho jogava, não ganhava bem e nem por isso me rendi a nada. Nem me vendi, óbvio. Mais que isso. Nessa época, pelas matérias que nossa equipe fazia, o jornal (...) foi proibido de entrar em São Januário. E pela boa relação que o Juninho tinha comigo e com outros setoristas, ele mesmo chegou a desafiar a ditadura do clube e nos deu entrevista do lado de fora do estádio. Surpreendente sua postura agora”. 

“Juninho Pernambucano conviveu com jornalistas maravilhosos ao longo da carreira. Acompanhei de perto a maior parte da sua trajetória. Mas enfiou no mesmo balaio do discurso inconsequente aqueles que ele, um ex-jogador, considera “prostitutos”. Logo ele, sempre tão mimado pela imprensa. Logo ele, que pediu a seu assessor que me ligasse três vezes para mudar ou excluir algo que havia dito em uma entrevista gravada. Vale de certa forma para alertar sobre essa tentadora oferta de mão de obra boleira no mercado. Não que eu seja contra, não sou mesmo. Mas um ex-jogador bêbado na bancada me assusta tanto quanto um rebelde sem causa que vocifera contra seu passado. Perdem todos, o jornalismo e o futebol. Responsabilidade é pra quem tem. Não se compra nem com o salário de R$ 100 mil ganho no passado. E não escrevo por inveja. É por vergonha alheia mesmo. Parabéns ao SporTV, que deu a merecida dura no ar”. 

Essa lembrança de como Juninho se relacionava bem com a maioria da imprensa, enquanto jogava, é um dos pontos mais curiosos da história. Pelo tamanho do ressentimento que demonstra, agora, dá pra desconfiar que toda aquela boa-vontade e educação com os jornalistas (inclusive os setoristas) eram, na verdade, puro interesse, para construir uma reputação de bom-moço que, agora, vai destruindo cada vez que abre a boca. 

Juninho é a prova cabal de que ter sido bom jogador não basta para ser bom comentarista – e muito menos um jornalista minimamente competente. Até porque, mesmo que não bradasse tantas tolices, seu pensamento é tortuoso, sua oratória claudicante e seu português indigente. Uma lástima!

Mais uma 

Outro disparate de Juninho, no mesmo programa, foi se voltar contra as palavras de Diego, depois da vitória contra o Ceará, dizendo que amava o Flamengo e se preciso andaria com quatro seguranças, mas não deixaria o clube. O que queria o Pernambucano? Que o camisa dez do Fla anunciasse que estava de saída, por causa dos (lamentáveis, injustificáveis e reprováveis) atos de alguns torcedores boçais nos aeroportos do Rio e de Fortaleza? Diego fez uma linda declaração de amor, que o ex-vascaíno parece incapaz de compreender. Azar o dele.

A conferir 

A boa atuação do Flamengo no Castelão o levou à liderança do Brasileiro, mas é bom ir devagar com o andor porque o santo ainda é de barro. É preciso jogar assim contra adversários mais fortes e, convenhamos, as três primeiras rodadas foram generosas com o rubro-negro: Vitória, América-MG e Ceará, três contumazes participante da Série B. A Ponte Preta, adversário de hoje, pela Copa do Brasil, é desse naipe, mas atuando em Campinas, pode ser um teste um pouco mais sério. Ainda mais sem Diego. As provas definitivas, porém, serão mesmo nos dois jogos que restam na fase de grupos da Libertadores, onde o time ainda não decolou.

O sol e a peneira 

É óbvio que o mundo da ginástica sabia há muito tempo das perversões do técnico Fernando de Carvalho Lopes – afastado da seleção, por denúncia do gênero, antes da Rio-2016. A Confederação Brasileira de Ginástica e o Mesc, seu clube, só agiram agora por causa da gigantesca repercussão da excelente reportagem de Joana de Assis, no Fantástico. Vergonhoso.

Tal qual 

E o goleirão do Bayern, hein? Muralhou...