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Vitória na receita de Zico e Júnior

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Nos dias que antecederam o jogo de ontem, no Castelão, pipocaram inúmeras vezes na internet dois vídeos que foram compartilhados avidamente pelos rubro-negros. Num deles, Zico – o maior ídolo e jogador do Flamengo em todos os tempos – desabafava, com veemência, no programa “Noite dos Craques”, do Esporte Interativo:

- Tem que ter brio, você tem que ter respeito com a camisa, com o suor, de briga, de luta. E o Flamengo não lutou mais, isso é que revolta. A torcida fica revoltada com isso. O Zizinho, quando eu era garoto, me disse: “Menino, aquele clube lá é diferente, se não der na bola, vai no sangue, vai na garra, vai na luta. E a gente não está vendo isso no Flamengo. Os caras que estão aí não sabem o que é Flamengo.

O depoimento de Júnior foi dado no “Aqui com Benja”, do Fox Sports, no final do ano passado, mas versa sobre o mesmo tema:

- Falta a dimensão do que é jogar no Flamengo. Porque, quando a fase tá boa é “Aerofla”. Se perder a vaga na Libertadores, vira “TerrorFla” e esses caras não vão poder ir à praia, a um show, a um shopping. Não vão poder fazer nada. Porque é assim que funciona. E no Flamengo, eu aprendi lá atrás, com o Liminha (antigo cabeça-de-área rubro-negro), em 74, numa partida contra o Madureira, no Maracanã. Entrei numa dividida e perdi. No final do jogo, o Liminha chegou e disse: “Olha, só vou te falar um negócio: jogador de defesa do Flamengo que perde dividida, não faz carreira aqui, não”. E nós tínhamos vencido por 2 a 1”.

Coincidência ou não, na convincente vitória por 3 a 0, sobre o Fortaleza, o time de Maurício Barbieri, até então insosso, inodoro e ineficaz, esbanjou vontade e personalidade. Não foi apenas isso, claro. Algumas modificações táticas do treinador (que, enfim, parece ter desistido de William Arão) surtiram efeito.

Por exemplo: Lucas Paquetá jogou um pouco mais recuado, como segundo volante e passou a cuidar da transição defesa para o ataque, juntamente com Cuellar. Mesmo num dia em que praticamente todos atuaram bem, eles se destacaram, deixando o gramado cearense como os melhores em campo. O passe do colombiano para o primeiro gol de Vinícius Jr. foi preciso e precioso. E Paquetá obrigou o goleiro do Ceará a boas defesas e teve participação decisiva no gol de Diego.

Com a barração de Arão, Everton Ribeiro voltou a ser titular e, se não chegou a brilhar no lado direito do ataque, impressionou pelo espírito de luta na marcação e composição do meio-campo. Mais adiantado e livre de parte da recomposição defensiva, Diego foi outro que melhorou bastante. 

Arriscou finalizações, tabelas e acabou premiado com o gol de cabeça – o terceiro do Fla. Ainda não é aquele camisa 10 dos sonhos da torcida, mas começou a se aproximar disso. Seu gesto de carinho com os torcedores, abraçados junto à grade e reverenciados de joelhos e braços abertos, após a marcação do seu gol, levaram o Castelão à loucura.

Vinícius Jr. é um capítulo à parte. Começou errando tudo mas, aos poucos, foi se encontrando e, depois de abrir o placar, se soltou de vez, marcou mais um e criou vários outros bons lances. Atuação nota 8.

Outras mudanças que ajudaram a melhorar o rendimento do Fla foi a postura dos laterais. Tecnicamente, continuam devendo mas o fato de atuarem mais avançados, empurrando o Fortaleza para o seu próprio campo, facilitaram as ações ofensivas.

Juan, Rever e Diego Alves também foram bem e, pra variar, quem destoou do resto e não acertou nada foi o centroavante Henrique Dourado.

Aí, convenhamos, já seria pedir demais. As palavras de Zico e Júnior parecem ter sido capazes de mudar a forma de jogar da equipe do juvenil Maurício Barbieri. Mas operar milagres, não dá... Já não basta ter virado líder (!!!) do Brasileiro.