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Entretenimento ou comédia pastelão?

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A cada dia que passa fico mais convencido de que nossa imprensa esportiva passou a viver numa espécie de universo paralelo. Militando nesse meio há mais de 40 anos, não tenho dúvida em afirmar que tudo começou quando a TV Globo e o SporTV resolveram começar a tratar o assunto como entretenimento e não jornalismo, numa forma cômoda e enviesada de evitar críticas e investigações mais aprofundadas aos cartolas, com os quais tinha necessidade de negociar direitos de transmissão.

Daí para a cara de pau de passar a dourar toda e qualquer pílula, sob o pretexto de “não desvalorizar o produto que veicula” foi um passo e, à frente, estava o abismo. Pior: praticamente todas as outras emissoras seguiram os seus passos e o que se vê atualmente na telinha muitas vezes beira um circo de horrores.

Peladas de quinta categoria são elevadas ao patamar de espetáculos de tirar o fôlego, jogadores medíocres são apresentados como craques infernais e técnicos absolutamente normais descritos como novos gênios da tática: Pep Guardiola que se cuide.

Um bom exemplo disso ocorreu ontem, no Seleção SporTV do meu grande amigo e, diga-se de passagem, excelente jornalista André Rizek. Discutia-se Éverton, que acaba de trocar o Flamengo pelo São Paulo. E pelos absurdos exageros que proferiam, cheguei a pensar que estavam se referindo a Rivelino, Paulo César Caju, Ronaldinho Gaúcho, Robben, Iniesta ou Neymar, que também atuam ou atuavam ali pela faixa esquerda.

Descrito como incansável (único adjetivo bem aplicado nas delirantes análises), Éverton foi largamente elogiado pelo seu denodado poder de marcação, a capacidade de atuar até como lateral-esquerdo (uma balela), o inestimável auxílio ao meio-campo e, por fim, à excepcional qualidade de finalização. Seu famoso peteleco (quem é Flamengo e o acompanha, de longa data, sabe do que estou falando) virou chute mortífero. Os goleiros que assistiram ao programa devem estar apavorados... Ou rindo às gargalhadas, como eu ri.

Vamos falar sério? Éverton é um bom jogador e ponto. Em épocas mais pródigas em talento seria considerado, no máximo, bonzinho. Mas diante da indigência que grassa nos nossos gramados nos dias de hoje, topo o bom e não se fala mais nisso. Qualquer outra coisa é exagero, oba-oba, pachequice, chamem como quiserem.

Fará falta ao Flamengo, que não deveria tê-lo deixado insatisfeito a ponto de sair? Talvez, sim. Talvez, não dependendo do que Vinícius Jr. jogar daqui pra frente. Será útil para o São Paulo? Provavelmente. Mas daí a ser considerado “a melhor contratação”, “a peça que faltava” para o tricolor paulista engrenar e outras bobagens do gênero... Façam-me o favor! Dá até vergonha alheia.

Comparação 

Quer ter uma boa ideia do nível do futebol praticado no Brasil atualmente? Imagine uma seleção do nosso campeonato. Vale colocar estrangeiros em atividade aqui. Agora utilize o mesmo raciocínio para montar as seleções do campeonato inglês, do alemão, do espanhol, do italiano, do francês, do chinês, do russo e por aí vai. Em que colocação você acha que a nossa equipe fi caria? Garanto que, ao menos no papel, terminaríamos atrás até dos turcos. Ah, e voltando ao tema anterior, você acredita que Éverton seria titular no nosso selecionado? Nem no banco ficaria...

Cadê o supertime? 

Sem tirar os méritos do Botafogo, como de hábito, muito bem armado e extremamente aguerrido, o tão badalado supertime do Palmeiras deixou muito a desejar em sua estreia no Brasileirão. Poderia perfeitamente ter saído derrotado do Nilton Santos, apesar da maior posse de bola durante todo o jogo. O Verdão, por enquanto, se parece com o Flamengo: um punhado de bons jogadores que, juntos, não conseguem mostrar em campo metade do que parecem ser capazes no papel.

Espetacular 

De arrepiar o treino aberto do Flamengo, ontem, no Maracanã. Mais de 45 mil torcedores foram ao estádio prestigiar o último treinamento antes do jogo pela Libertadores, contra o Santa Fé, que será realizado de portões fechados. Houve muito carinho, mas também pedidos de raça e interpelações ao presidente Eduardo Bandeira de Mello. Está mais do que na hora de esse grupo começar a jogar a bola que se espera, com a vontade que historicamente o Mais Querido sempre teve.

Dica literária 

A Doutora Annie Bello, lança hoje, às 19h na Travessa do Shopping Leblon, seu livro “Estilo de Vida Orgânico: Integrando os saberes do Corpo e da Alma através da Nutrição Baseada em Evidência”. Publicada pela Editora Interciência, a obra é fruto de sua experiência de 15 anos como nutricionista. No local, acontecerá um bate papo sobre Mudança de Estilo de Vida com a Dra Glaucia Maria de Oliveira às 19h.

Preposto 

E continua a gestão de Del Nero na CBF. Caboclo é apenas um preposto. Se o país fosse sério já teria havido intervenção no comando do nosso futebol. Mas com o Ministério do Esportes e o Governo que temos...