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Genialidade x instabilidade emocional 

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Acompanho com certa cautela o crescente otimismo da torcida e, acima de tudo, da imprensa em relação às chances do Brasil na Copa do Mundo. O excelente desempenho da seleção de Tite nas eliminatórias sul-americanas e o ótimo desempenho de alguns de seus craques, no futebol europeu, reforçam a esperança de que possamos conquistar o hexa na Rússia. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas mantenho um pé atrás por uma série de fatores. Vamos lá.

Ainda não houve um teste de verdade contra as melhores seleções europeias. Na única vez que isso aconteceu, contra uma Inglaterra desfalcada de seus jogadores mais talentosos (Harry Kane e Dele Alli), o Brasil fiou no 0 a 0, jogando mal e sem saber como enfrentar um esquema tipicamente europeu, com a badalada linha de cinco defensores.

Além disso, por mais que Marcelo, Philippe Coutinho, Willian e, vá lá, Fernandinho, estejam jogando muito bem em seus clubes, o ponto de desequilíbrio da nossa equipe ainda é, e continuará sendo, Neymar. E aí é que a porca pode torcer o rabo.

Que ele é um supercraque, qualquer um que já tenha dado alguns chutes numa bola, sabe. Habilidade e talento ele tem de sobra. Mas isso é o bastante? Tomara que seja.

Porque a questão psicológica, o equilíbrio emocional de nosso principal jogador é o xis da questão. Em seus jogos no Paris Saint-Germain e na seleção Neymar alterna, com preocupante frequência, momentos de absoluta genialidade com outros de puro destempero. Se for expulso (ou mesmo suspenso, por dois cartões amarelos) de um jogo difícil no Mundial, duvido muito que o resto do time consiga superar o baque. Basta recordar 2010 e o que aconteceu com o time de Dunga, contra a Holanda, depois da expulsão do Felipe Melo... E, convenhamos, o controverso volante não tinha um décimo da importância que o ex-moicano tem atualmente.

Some-se a isso a complicada relação do jogador e seu pai com os jornalistas (principalmente por causa do mais velho) e se tem uma receita explosiva que, se não for muito bem administrada, pode azedar na Rússia, com consequências desastrosas para os planos do hexacampeonato.

Pra finalizar, há ainda um daqueles tabus futebolísticos, que não se baseia em fatos concretos, mas se mantém inabalável através dos Mundiais. Nunca uma seleção brasileira que tenha saído daqui cercada de otimismo e badalação venceu! Foi assim em 1966, na Inglaterra; em 74, na Alemanha; em 82, na Espanha, e em 2006, novamente na Alemanha – esse, talvez, o mais retumbante fracasso, já que entramos em campo com um excesso de craques (vide o famoso e malfadado Quadrado Mágico de Ronaldinho, Ronaldo, Kaká e Adriano) e tudo que mostramos a mais foram quilos (dos centroavantes) e idade (dos laterais).

Isola!

A comprovar 

Em tempo: Marcelo, Fernandinho, Paulinho, Willian, Daniel Alves, Th iago Silva e Neymar, os egressos da desastrosa Copa de 2014, no Brasil, precisam jogar muito mais do que no último Mundial. Todos fi caram devendo. E a nossa zaga, hmmmm... Não consigo confi ar totalmente nos nossos zagueiros.

Decisão corajosa 

Zé Ricardo recusou a milionária proposta da Arábia Saudita (cerca de R$ 500 mil mensais, em contrato de três anos) e fez a alegria dos dirigentes e torcedores do Vasco, que já estavam em pânico com sua possível saída. Atitude bonita em relação ao clube mas que pode lhe custar caro no futuro. Se fosse treinar os árabes, agora, o técnico sairia por cima, valorizado e, quando voltasse, certamente, teria mercado à vontade. Permanecendo, corre o risco de acabar demitido, após eventual sequência de maus resultados – e o elenco cruzmaltino atual está longe de ser garantia de sucesso. Vide o quase vexame dos 4 a 0 que sofreu diante do Jorge Wilstermann, na Libertadores. Martin Silva salvou a pele de todos, na decisão por pênaltis.

Loucuras do ex-deputado 

O novo presidente do Vasco, Alexandre Campello, tomou um susto quando assumiu e lhe mostraram a folha salarial do futebol. Os R$ 500 mil mensais que Nenê recebia foram decisivos para que sua transferência para o São Paulo não encontrasse empecilhos, apesar da importância no time e da opinião contrária do técnico Zé Ricardo. Pelo mesmo motivo, Wagner não deve permanecer em São Januário. Ele ganha o mesmo que ganhava Nenê e nem sequer é titular absoluto. O problema é encontrar alguém disposto a lhe pagar o alto salário.

Loucuras na Gávea 

Por falar em salários altos e jogadores que não valem o que recebem, Geuvânio embolsa R$ 800 mil por mês. Seu clube chinês paga metade e o Flamengo a outra metade. E quanto ganhará o Rômulo? Seja quanto for, pelo futebol medíocre que tem apresentado (autêntica cópia piorada do Márcio Araújo), é caro! Vide a falha grotesca no Fla-Flu.

Abre o olho, Jair 

A postura do técnico Jair Ventura no Santos tem incomodado muita gente. O que no Botafogo era visto, com condescendência, como uma “leve marra”, no CT Rei Pelé é encarado como arrogância. Ele não é dado a cumprimentar os funcionários mais humildes do clube nem a distribuir sorrisos e embora o seu relacionamento com os jogadores seja considerado bom, já há gente no clube dizendo que a tal “marra” pode se virar contra ele, em caso de uma sequência de maus resultados. Seu trabalho, até o momento, é avaliado apenas como razoável.

Unanimidade amordaçada 

Unanimidade amordaçada O voleibol brasileiro vive um autêntico teatro do absurdo. Quase ninguém quer falar sobre o assunto publicamente (as honrosas exceções foram Ana Paula, Dulce Th ompson, Sheilla e Tandara) mas há, no meio, uma unanimidade contra essa história de uma jogadora trans, Tifanny, do Bauru, disputar a Superliga feminina.

Jogadores, técnicos, fi siologistas e médicos concordam que há uma considerável disparidade de forças entre alguém que viveu como homem até os 29 anos e uma mulher normal. Na Itália, Tifanny chegou a atuar na série A2 feminina (a segunda divisão do “pallavolo”), mas quando estava para ser contratada por um time da A1 (a liga principal) as jogadoras se uniram e, veladamente, anunciaram um boicote caso ela fosse aceita.

Aqui, seguindo uma determinação do COI, que tem como principal consultora no assunto a americana Joanna Harper (também uma mulher trans!), a CBV resolveu se meter nessa autêntica camisa de sete varas. E agora, Radamés Lattari?

Em tempo: por que não se opina francamente sobre o tema? Por medo da patrulha da comunidade LGBT nas redes sociais. Um absurdo, pois a discussão não tem rigorosamente nada a ver com homofobia. Conheço vários atletas homossexuais (dos dois gêneros) que são também contra a participação de mulheres trans nos esportes femininos, não somente no voleibol. Aliás, por que não há homens trans disputando ligas masculinas? Aí não há vantagem, né...

Bizarrice 

No MMA anuncia-se, com alarde, em Manaus, a luta de uma mulher trans com um homem. Por que não luta na divisão feminina? Porque, segundo as palavras da própria lutadora (e dos organizadores) “seria injusto lutar com uma mulher”.

- Meu nível é acima... – admite.

Boa ideia 

O Fla-Flu na Arena Pantanal, em Cuiabá, levou um amigo mordaz a sugerir uso bem mais apropriado para os “elefantes brancos” que a Copa de 2014 espalhou pelo país.

- Que tal transformá-los em novos presídios e começar trancafi ando neles todos os políticos e empreiteiros que encheram os bolsos com suas absurdas e caríssimas construções?

Cuspindo marimbondo 

Encontro o Bagá, na Praça General Osório, e o ciclope já vem babando:

- Chefi a, que time ridículo foi aquele que o “Carpeja” inventou no Fla-Flu? Tá certo que não valia lhufas pra gente, mas entrar com um meio-campo só com volantes e ainda assim levar de quatro? É bom ganhar do River Plate com autoridade, na “Liberta”, ou a chapa vai começar a esquentar...

Como discordar do sacrossanto crioulo em sua ira prenhe de razão?

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