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Grito parado no ar e lição no assobio 

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Quando Toninho Baiano bateu o quarto pênalti, estufando a rede de Mazaropi,  o coro de “é campeão” ecoou forte às minhas costas. Ato contínuo, à minha frente, a torcida do Vasco começou a deixar as arquibancadas do Maracanã.  Explico: eu estava deitado atrás da baliza, à esquerda da tribuna de honra, onde se disputava a decisão por pênaltis, da Taça Guanabara de 1976. E faltava apenas um batedor para o Flamengo. Zico... 

O que eu fazia ali? Bem, essa é a história. Porque a daquela fi nal, todos sabem. O craque do Mais Querido perdeu, o grito da Nação fi cou parado no ar; os vascaínos voltaram correndo e o Gigante da Colina conquistou o título nas cobranças extras: Geraldo Assobiador perdeu, Luís Augusto converteu.

Assisti a tudo tão de perto, porque a missão que me tinha sido dada pelo editor João Máximo, era descrever, numa reportagem assinada no JORNAL DO BRASIL (a primeira de minha carreira!) todas as reações do treinador rubro-negro, Carlos Froner, durante o duelo. Por isso, resolvi ver a decisão no fosso dos fotógrafos, bem atrás do banco do Flamengo. 

Terminados os 90 minutos (empate em 1 a 1), aproveitei a confusão antes da cobrança dos pênaltis,  me escafedi campo adentro e deitei-me  junto ao pé da trave esquerda, antes que alguém me expulsasse (repórteres de jornal não podiam fi car no campo, somente os de rádio). 

Encerrado o drama, sim porque aquela decisão, ao menos para os rubro-negros, teve todos os ingredientes de uma tragédia grega, me dirigi cabisbaixo para os vestiários, onde a entrevista do técnico gaúcho seria o fecho das minhas apurações.

As portas do lado rubro-negro demoraram mais de 45 minutos para se abrir e, quando enfi m, pudemos entrar (naqueles tempos jurássicos, os jornalistas entrevistavam os jogadores enquanto tomavam banho e se vestiam para sair) o primeiro que vislumbrei foi Geraldo, se enxugando com uma toalha e, fazendo jus ao apelido, assobiando, como se nada tivesse acontecido - e fora ele quem perdera o último pênalti! Que lição! Afi nal, por que estava eu sofrendo como  um condenado? 

Por questão de justiça, registro: Zico também estava arrasado.  

E eu, em mais de 40 anos de carreira, iniciada naquele ano de 1976, no JORNAL DO BRASIL, nunca escondi que sou rubro-negro.

Timaço, aço, aço 

No JORNAL DO BRASIL tive a honra de trabalhar com jornalistas do mais alto calibre. A editoria de esportes era então comandada por João Máximo, assessorado pelos saudosos subeditores Roberto Porto e Vicente Senna. Faziam parte do time craques como Marcos de Castro, Oldemário Touguinhó, Sandro Moreyra, Victor Garcia, Octávio Name, José Inácio Werneck, Antônio Maria Filho, Milton Costa Carvalho, Márcio Guedes, Maria Helena Araújo, Márcio Tavares, Lúcia Regina Novaes, Fernando Calazans, Sandra Chaves e, claro, João Saldanha! Imagine para um estagiário, como eu, de repente, passar a conviver com o “João sem Medo”.  Devo ter esquecido alguns nomes e, antecipadamente, me desculpo. Era tanto craque junto que dava para formar umas três seleções de jornalistas.

Oldemário e Pelé 

No majestoso prédio da Avenida Brasil, vivi histórias inesquecíveis. Uma delas aconteceu numa noite em que fi quei até mais tarde na redação, para adiantar um “freela” que fazia para a Interbrás - um lançamento de produtos brasileiros na Nigéria, badalado por um amistoso do Fluminense, com Pelé atuando um tempo pelo tricolor e outro pelo time nigeriano. 

Eu precisava, então, fazer 10 perguntas ao Rei do Futebol e não havia jeito de encontrá-lo. Já tinha ligado para a casa dele, para a família e para os amigos e ninguém sabia onde ele estava. Por volta de 2 horas da manhã, com o andar da redação completamente vazio, eis que ouço passos no corredor!  Seria o fantasma do “conde”? Não. Era o Oldemário, que abriu a porta da sala do esporte assobiando e tomou um susto ao me ver. Expliquei-lhe meu drama (ele era o maior amigo de Pelé na imprensa), mas nem ele conseguiu achá-lo. 

– Deve estar em NY. Faz o seguinte, me diz quais são as perguntas que eu respondo. Eu sei o que ele pensa!

Sem jeito e, para não contrariá-lo, fui perguntando e anotando as respostas, sem muito entusiasmo. Dias depois, enfim, consegui falar com Pelé e escrevi o texto. E o que o negão disse? Exatamente o que Oldemário dissera...

A profecia do João 

Viajar com João Saldanha era uma delícia e equivalia a autêntico MBA de jornalismo. No exterior, ele dava mais entrevistas do que qualquer jogador ou técnico da seleção. Certa vez, numa viagem para a Bolívia, falando sobre a companhia aérea que nos transportaria e nos deixava apreensivos, a LAB (Loyd Aéreo Boliviano), sentenciou:

 – Os aviões deles são até mais modernos que os nossos. E os bolivianos são ótimos pilotos. O perigo é pegar um brasileiro, porque eles contratam a turma que foi mandada embora da Varig por imperícia! 

Embarcamos e, claro, o piloto era brasileiro. E tomamos um tremendo susto, logo no início da viagem! Menos mal que fi cou só sobressalto...

Carnaval no JB 

Na redação do JB havia também personagens folclóricos. Num carnaval, com o horário de fechamento antecipado, todos chegaram cedo. Menos um. Faltava o repórter que cobria o América, uma fi guraça chamada Oswaldo Tinoco. Quando João Máximo já estava arrancando os cabelos, eis que ele chega, envergando a fantasia do bloco “Canarinhos da Engenhoca”, senta-se na máquina de escrever, batuca o seu texto, o entrega e sai, feliz da vida, para se entregar aos braços de Momo...

Honra Dividir 

uma página de colunistas com Armando Nogueira, João Saldanha e Sandro Moreyra é muito mais do que um sonho para aquele foca de 1976.