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Brasileiros demonstram apatia às vésperas da Copa do Mundo

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A três semanas do pontapé inicial da Copa do Mundo da Rússia-2018, os torcedores brasileiros demonstram um desinteresse incomum pelo maior evento do futebol mundial.

A seleção se classificou com folga nas eliminatórias e é vista como favorita para conquistar um sexto título, mas, nas ruas do país, o entusiasmo ainda não apareceu.

Os vendedores de suvenires afirmam que o negócio anda mal das pernas, enquanto os jornais se mostram obcecados pelo estado de saúde do astro Neymar e o fantasma do '7-1' ainda assombra a mente da população.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Paraná, os brasileiros se dizem otimistas com a Copa, que será disputada entre 14 de junho e 15 de julho, na Rússia.

Dois terços acreditam que a seleção é favorita ao título e 35% acham que Neymar será o melhor jogador da Copa, superando os 30% que opinam que este reconhecimento será dado ao português Cristiano Ronaldo.

O problema, segundo a pesquisa, é que isso parece importar pouco aos brasileiros, já que 66% dos entrevistados afirmaram ter pouco ou nenhum interesse na Copa, enquanto 14,5% não sabem nem onde será disputada a competição.

"Não há o mesmo nível de entusiasmo de antes", admite o motorista Serafim Fernandes, enquanto faz compras no Saara, comércio popular no centro do Rio, repleto de produtos que fazem menção ao futebol.

Fernandes, 62 anos, responsabilizou a crise econômica que o país atravessa pela falta de entusiasmo da população, aliada aos escândalos de corrupção que envolvem a elite política do país.

"As pessoas estão sofrendo", lamenta.

Estraga-prazeres

Há quatro anos, quando o Brasil sediou a Copa do Mundo, a tradição das ruas e paredes pintadas de verde e amarelo tomou conta de todo o país.

Hoje, a ausência de decoração das ruas com bandeiras e murais chama a atenção.

Na Tijuca, zona norte do Rio, o Alzirão, tradicional ponto de encontro da festa de rua temática da Copa do Mundo, está ameaçado.

Este grande festival é preparado com bastante antecedência e convoca milhares de pessoas. Este ano, perdeu seu patrocinador, a gigante do ramo de bebidas AmBev, e não dá sinais de vida.

"Estamos lutando para viabilizar o evento após a decepcionante atitude da AmBev,", justificaram os organizadores em comunicado.

Em uma das várias lojas que vendem camisas da seleção no Rio, o vendedor Paulo Santos Silva afirma que prefere ter cautela na hora de encomendar produtos relacionados à Copa.

"Antes, podia encomendar 5.000 camisas, sabendo que seriam vendidas. Agora, você corre o risco de terminar com produtos sem vender, então compro 100 e vendo, compro mais 100 e, se vencermos um jogo, compro 200", explica.

Silva, 60 anos, garante que a desaceleração econômica não é o único ponto assustador. Também pesa a "vergonhosa" eliminação da Copa de 2014, o famigerado '7-1' diante da Alemanha.

"Está gravado na memória dos brasileiros", diz entristecido.

A vitória resolve

Para alguns, o ambiente morno às vésperas da Copa tem um significado mais profundo.

O deputado federal Paulo Pimenta (PT/RS) acredita que o uso da camisa da seleção pelos manifestantes que em 2015 e 2016 pediram a queda da presidente Dilma Rousseff manchou as cores nacionais.

"Os golpistas tiraram até a alegria dos brasileiros com o futebol", tuitou. "A camiseta da CBF virou um símbolo de vergonha".

Para Lédio Carmona, comentarista do SporTV, a tristeza e a fatalidade estão no auge.

A ideia de um Rio de Janeiro repleto de murais e bandeiras nacionais seria fruto da nostalgia de 1982, quando o Brasil enviou uma das melhores equipes de sua história à Copa do Mundo da Espanha, mas acabou eliminado nas semifinais.

"As pessoas no Brasil ainda têm em mente a Copa de 1982", declarou o jornalista à AFP. "É quase uma lenda".

"Mas quem era jovem naquela época hoje trabalha e os jovens de hoje não têm dinheiro para pintar as ruas", continua.

Para Carmona, assim que a bola começar a rolar na Rússia, os brasileiros gritaram tão forte quanto antes.

Fernandes, que negocia um bom preço para comprar uma camisa da seleção no Saara, concorda.

"A gente precisa muito disso. Vamos entrar no espírito. Se a seleção ganhar, o povo vai esquecer todo o resto".