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"Brasil vai como favorito à Copa de 2018", diz Parreira

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Horas antes da goleada do Brasil sobre o Uruguai por 4 a 1, na noite de quinta (23) em Montevidéu, o ex-técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, havia dito ao Terra , em entrevista exclusiva, que o time chegaria novamente a uma Copa do Mundo como favorito ao título. Logo após o clássico, ele apenas reforçou sua opinião. Para o tetracampeão mundial, o futebol brasileiro se reinventou depois do fiasco em 2014.

Na conversa com a reportagem, em seu apartamento na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, Parreira falou ainda do momento especial da carreira de Neymar, e do jogo “espetacular’ disputado recentemente entre Barcelona e PSG, pela Liga da Europa.

Também abordou o espinhoso tema dos 7 a 1, sofridos pela Seleção no Mundial de 2014 para a Alemanha, no Mineirão. Na oportunidade, ele era o coordenador-técnico da Seleção, então comandada por Luiz Felipe Scolari.

Parreira revelou ao Terra uma confidência de um dos jogadores da Seleção naquele desastre, sem citar nome. “Ele me contou que depois do terceiro gol só enxergava uma nuvem diante dele. Que não via mais nada, arquibancada, torcida, os colegas em campo.”

O que representa a vitória do Brasil por 4 a 1 sobre o Uruguai, fora de casa?

Parreira - Vou falar o quê? Uma vitória gigantesca, com autoridade. O time se impôs desde o início, com força, equilíbrio, entusiasmo. O melhor disso tudo vai ser a repercussão pelo mundo afora. Espere pra ver. Principalmente pela campanha excelente do Uruguai em seus domínios, que havia vencido todos os jogos das Eliminatórias disputados em Montevidéu. Aí o Brasil vai lá e arranca uma goleada, incontestável, depois de quatro meses sem atuar. Uma atuação fantástica.

Quais as perspectivas da Seleção para o Mundial de 2018, na Rússia?

O futebol brasileiro provou de novo que tem a capacidade de se renovar, de se reinventar. O time vai chegar mais uma vez e merecidamente a uma Copa do Mundo como favorito. O que aconteceu em 2014 ficou para trás. Nós temos hoje uma seleção tecnicamente forte. E o que é melhor: Contamos com um ataque que ninguém no mundo tem igual. Neymar, Gabriel Jesus e Phillipe Coutinho juntos podem fazer a diferença. Ouso dizer mesmo que ninguém tem um trio assim. Evidentemente que me refiro às seleções nacionais. Até porque Neymar, Messi e Suarez (o trio de ouro do Barcelona) vão disputar a Copa cada qual pelo seu país.

Como analisa o trabalho de Tite na Seleção?

Muito bom, claro. Com a chegada dele, houve uma mudança. O Dunga é um bom técnico. Mas é evidente que alguma coisa mudou. Não é que os jogadores estejam mais felizes agora. Não é exatamente isso. Mas o ambiente está mais alegre, os jogadores mais soltos. Isso decorre muito das vitórias. A coisa mais importante nesse início de trabalho do Tite foi a vitória sobre o Equador na estreia dele (em setembro de 2016). Vencer em Quito por 3 a 0 foi fenomenal. Muita gente já considerava um bom resultado o empate lá na altitude da capital equatoriana. Mas, não. O time foi lá com autoridade e venceu com folga, numa apresentação excelente. Aquilo deu um impulso muito grande e ajudou na sequência de ótimos resultados. Não que uma eventual derrota em Quito abalasse o projeto do Tite. Ele seguiria em frente com suas convicções. Mas sempre fica, nessas situações, uma duvidazinha da imprensa, um ou outro questionamento.

O Neymar já desponta como o melhor do mundo em 2017?

Tudo indica que agora é a vez de ele ganhar o prêmio da Fifa. Embora ainda estejamos no começo do ano. É um jogador que está amadurecendo no tempo certo e vem crescendo no Barcelona, sem parar. É incrível a capacidade de criar e de ousar dele, e ainda tem outra virtude, a de deixar os colegas na cara do gol. Além de exímio finalizador, de artista nos dribles, na criação, ele usa a inteligência e seu talento para fazer inúmeras assistências a cada jogo. É diferenciado. A própria imprensa espanhola já admite que ele vai ocupar a médio prazo o espaço que Messi vai deixar aos poucos.

A classificação épica do Barcelona para as quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, em vitória recente por 6 a 1 sobre o PSG, é uma prova de que o futebol-arte resiste?

Sem dúvida. Ali está a essência do futebol. O PSG fez uma opção de jogar atrás, o que seria óbvio depois de vencer por 4 a 0 em casa. Mas, o problema é que exagerou, ficou demais na retaguarda. E deixar um time como o Barcelona tocar a bola na proximidade da área é mortal para qualquer equipe do planeta. O que aconteceu no Camp Nou não caberia na imaginação de nenhum roteirista vencedor do Oscar desde que o prêmio foi criado, há décadas, nos EUA. Uma história grandiosa de suspense. Eu confesso que assistia ao jogo em casa. O Barcelona vencia por 3 a 0 e eu estava na expectativa de que marcasse o quarto gol. Quando Cavani fez para o PSG, eu desliguei a TV e saí, porque tinha um compromisso agendado. Uma hora depois, ao chegar ao local da reunião, um amigo me abordou eufórico. “Que jogão, né? Você viu? Barcelona está em festa.” Eu fiquei sem resposta. “Como assim? Fez três gols em menos de 10 minutos?”

Por falar em goleada ... Quase três anos depois do vexame na Copa do Mundo, há mais clareza sobre o porquê daqueles 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil?

Não tem explicação técnica, nada. Aquilo é como um choque improvável entre meteoros, que só se dá uma vez em 1 milhão de possiblidades. Não vai acontecer nunca mais. Está no campo da imprevisibilidade. Houve um descontrole total depois que a Alemanha fez 2 a 0. A responsabilidade de chegar à final, a pressão de não repetir 1950, com nova derrota em casa num Mundial, o que se acentuava a cada gol alemão. Tudo isso teve peso. Mas, ainda assim, não explica.

Quais as imagens que guarda daquele dia, ali, à beira do gramado do Mineirão?

São amargas. Quando a Alemanha abria vantagem no placar e nós no banco de reservas comentávamos algo sobre o gol sofrido, olhamos para o campo e vimos o Brasil dando de novo a saída de bola e os alemães se abraçando Até que a ficha caísse, passaram-se alguns segundos. A reação de vários colegas da comissão técnica foi a mesma: “Ué, foi gol? Saiu outro gol?”

Não é possível detectar que erros foram cometidos naquele jogo?

Depois, é fácil. Dizer que fulano deveria ter entrado no lugar de cicrano, que o time deveria ter começado com mais cuidados defensivos, que o Ramires não poderia ficar no banco. Não adianta. A Alemanha criou oito chances reais de gol e marcou sete. Nossos adversários foram cirúrgicos, frios. Teve um jogador da Seleção que me confidenciou o que se passou com ele na partida. Contou que depois do terceiro gol só enxergava uma nuvem diante dele. Que não via mais nada, arquibancada, torcida, os colegas em campo.