ASSINE
search button

Prisão de Marin completa um ano e CBF continua sob suspeita

Compartilhar

A prisão do então vice-presidente da CBF, José Maria Marin, em 27 de maio de 2015, em operação de combate à corrupção deflagrada pelo FBI na Suíça, aniquilou a credibilidade da entidade que comanda o futebol brasileiro. Desde aquele dia, o presidente Marco Polo Del Nero se recusou a participar de vários compromissos oficiais no exterior, e o grupo ao qual pertence se utilizou de inúmeros recursos para manter o controle da CBF.

Marin era o braço direito de Del Nero e está em prisão domiciliar nos Estados Unidos, acusado de receber propina na venda de direitos de transmissão de torneios de futebol. Os dois não tomavam nenhuma decisão envolvendo a CBF sem a concordância do outro. Antes mesmo de o FBI tornar público o indiciamento de Del Nero por crimes de corrupção, em dezembro de 2015, o presidente já despontava como beneficiário de diversas manobras na confederação, sempre com o objetivo de não deixar que outros dirigentes pudessem ocupar seu lugar.

O alvo principal passou a ser o vice Delfim Peixoto, também presidente da Federação Catarinense de Futebol. Embora faça parte da estrutura que domina o futebol do País, como homem de federação há pelo menos três décadas, Delfim se insurgiu contra os esquemas de corrupção que apontavam para os gabinetes da CBF.

Chegou a declarar mais de uma vez que seria favorável a uma punição exemplar para Del Nero, Marin e o ex-presidente Ricardo Teixeira se ficasse comprovado que eles participaram de atos ilícitos, relacionados ou não à entidade. Delfim também apoiou desde o início a criação da Liga Sul-Minas-Rio (Primeira Liga) e rumou assim em sentido oposto ao de Del Nero.

Essas e outras posições de Delfim provocaram reações. O dirigente de Santa Catarina era o primeiro na linha sucessória da confederação em caso de afastamento definitivo de Del Nero. Isso porque Delfim, hoje com 75 anos, era o vice mais idoso da CBF. Semanas após a prisão de Marin, Del Nero convocou assembleia para mudar o estatuto.

Uma das alterações tratava da sucessão na hipótese de exclusão do presidente. O grupo de Del Nero queria alterar o artigo que dava poderes ao vice mais idoso. Antes da assembleia, alguns presidentes de federações se manifestaram contra a ideia e o assunto nem sequer foi discutido na reunião.

Temor de sair do País

Enquanto isso, Del Nero evitava voos internacionais. Deixou de acompanhar a seleção brasileira várias vezes, não foi a três congressos da Fifa, faltou a encontros na Confederação Sul-Americana, esteve ausente da Copa América do Chile, ano passado, e já anunciou que não vai aos Estados Unidos para prestigiar a Copa América, em junho.

Já em dezembro, houve a renúncia até hoje mal explicada do vice José Maria Marin – se deu repentinamente e a CBF nem dispunha da carta quando convocou assembleia para eleição de preenchimento do cargo. Para o pleito, a entidade lançou  a candidatura do coronel Antônio Nunes, 77 anos. Ele preside a Federação Paraense de Futebol e foi escolhido para ser o vice da CBF da Região Sudeste por apenas um motivo: ser três anos mais velho que Delfim.

A manobra chegou a ser denunciada por parte da imprensa, pelo próprio Delfim e por uns poucos presidentes de federações. Num primeiro momento, advogados do dirigente catarinense conseguiram anular a assembleia – decisão revista em seguida. Com o caminho livre para se ausentar da CBF, com um aliado de sobreaviso, Del Nero se licenciou ainda em dezembro. Pôs em seu lugar outro vice, Marcus Vicente.

Em janeiro, no entanto, se desentendeu com Vicente, que queria levantar a folha de pagamentos da entidade a fim de saneá-la, e voltou a ocupar a presidência por um dia. Logo depois, alçou o coronel Nunes para o cargo.

Com essa configuração, Del Nero passou a ficar numa situação menos desconfortável.  À espera de uma punição que pode ser anunciada pela Fifa ou pela Justiça dos EUA, o que o tiraria da presidência da CBF, ele sabe que nessa eventualidade vai poder contar com um dirigente de seu agrado no comando da entidade – o coronel Nunes.

Ao afastar Delfim do jogo sucessório, Del Nero antevê a possibilidade real de seu grupo chegar ao fim do atual mandato – que vai até 2019.

Crise da CBF contamina a Seleção Brasileira

Diante de todo esse embate político na CBF, o futebol da seleção definha país afora. Mesmo depois do vexame dos 7 a 1 para a Alemanha no Mundial de 2014, a equipe continuou protagonizando derrotas de peso – como a da eliminação precoce na Copa América de 2015, no Chile, e a atual classificação (em sexto lugar) nas eliminatórias para o Mundial de 2018.

Apesar disso, Del Nero não dá sinais de que sua preocupação se estenda à imagem da seleção brasileira,  cuja história é repleta de títulos e vitórias consagradoras. Pelo menos foi assim nos últimos 12 meses.

Prisões - Além de José Maria Marin, o FBI prendeu em 27 de maio de 2015, na Suíça, outros seis dirigentes da cúpula do futebol mundial: Jeffrey Webb e Costas Takkas (ambos das Ilhas Cayman), Eugênio Figueiredo (Uruguai), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Eduardo Li (Costa Rica).