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Sem dinheiro, argentinos improvisam para acompanhar Mundial de Clubes

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Pouco mais de nove mil quilômetros e alguns milhares de dólares separam Buenos Aires de Marrakech. Tente explicar a segunda parte da frase para um torcedor do San Lorenzo. Você vai desistir em alguns segundos. Para os argentinos, dinheiro - ou a falta dele - não é empecilho.

O ano de 2014 foi agitado para os vizinhos sul-americanos que torcem para o time de Boedo. Duas Copas do Mundo (a de seleções e a de clubes), dois continentes, e no caso de muitos, duas grandes despesas a serem pagas em suaves prestações para acompanhar de perto os feitos futebolísticos. Por isso, os hinchas precisaram improvisar. E, dessa vez no Marrocos, mostram que é possível viajar longe gastando pouco para acompanhar o time do peito.

Nossos vizinhos gostam de pegar a estrada, quase sempre com a mão fechada. Na Copa do Mundo, os argentinos lideraram o ranking de turistas estrangeiros no Brasil, segundo dados da Polícia Federal, com pouco mais de 100 mil pessoas. No entanto, também foram os que gastaram menos no País, com média de R$ 127,00 por dia, segundo levantamento de uma empresa de cartões de crédito.

No Marrocos a história não é diferente. Carro, van, ônibus e até mesmo motocicletas tiveram que ser substituídos pelo avião para chegar no local dos jogos. Mais gastos, no entanto, a mesma filosofia.

"Albergue, cartão de crédito e pouca comida. Sai tudo barato, estou pagando em 24 vezes a viagem. Não sei quanto saiu isso aqui. Tem uma calculadora?", disse Gabriel Iglesias, torcedor do San Lorenzo.

No quesito "farofagem", é difícil superar os argentinos. Para uma viagem "baixo custo", há quem recorra até às pequenas contravenções. "No Brasil foi fácil e barato. Fui de carro e levei comida da Argentina. Não pagamos nenhum pedágio. Era só colar no carro da frente na cancela automática. Esse foi o segredo",  revela às gargalhadas Matias Vasquez, que saiu de Mar del Plata no litoral argentino.

Mas para chegar ao norte da África foi preciso recorrer ao gerente do banco. "Pedi um empréstimo e vou pagar em 36 vezes.  Meu Mundial vai terminar em três anos. Se o San Lorenzo voltar ao torneio ano que vem, vou levar seis anos para pagar. E espero ficar pagando a vida inteira", brincou.

A Argentina vive um longo período de turbulências econômicas. Um dólar equivale a cerca de 8,5 pesos no câmbio oficial. No mercado paralelo, porém, chega facilmente ao dobro desse valor. Isso dificulta ainda mais a vida dos torcedores.

Ainda assim, pouco mais de cinco mil argentinos vieram a Marrakech nesta semana. Alguns, além de abdicarem do conforto, também tiveram que deixar para trás emprego e até mesmo o casamento. "É um sacrifício, 'raspei as panelas'. Me separei e larguei o emprego. Tudo pelo San Lorenzo. Vai valer a pena", contou Bruno Housain, um dos "cuervos", como é conhecida a torcida do San Lorenzo.

Mesmo com os bolsos vazios e incontáveis prestações, o time do papa Francisco está na final do Mundial de Clubes e irá enfrentar o todo poderoso Real Madrid, com seu plantel galáctico e multimilionário.

Uma vitória poderia ser classificada como o "milagre de Marrakech". Para alguns torcedores, a força de algo divino terá que se fazer presente não só no gramado, mas também no pagamento da viagem.

Por enquanto, eles fazem graça. Sebastian Moreno, que exaltava o fato de ter viajado com apenas 100 dólares na carteira, resume o sentimento dos que cruzaram o Atlântico. "Devo, não nego. Pago quando puder", enquanto saia gritando