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Piquet: "Hoje um imbecil pode correr sem conhecer um motor"

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Nelson Piquet é o piloto brasileiro mais extrovertido e polêmico da história da Fórmula 1. Em 2008, o tricampeão foi um dos delatores do escândalo que envolveu Nelsinho Piquet, Flavio Briatore e a equipe Renault no polêmico acidente proposital que ajudou o então companheiro do filho, Fernando Alonso, a vencer o GP de Cingapura.

De forma leve e espontânea, Piquet não poupa críticas às ultrapassagens provocadas pelo DRS (quando o piloto pode abrir a asa traseira e ficar mais rápido que o rival que está a menos de 1s à frente) e lamenta que a Fórmula 1 terá muitos problemas quando não contar mais com Bernie Ecclestone.

Ao elogiar o chefão da F1, o campeão de 1981, 83 e 87 diz que Ecclestone é uma das pessoas mais talentosas que conheceu na vida ao lado de outra figura polêmica, o ex-senador Luiz Estevão (preso por fraude em licitações e superfaturamento na construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, na década de 1990).

Dono de uma das empresas mais bem sucedidas do País em monitoramento e rastreamento de veículos, o ex-piloto de 62 anos está agora focado em colaborar no desenvolvimento da carreira de Pedro Piquet, campeão recentemente da F3 Brasil.

O garoto deve ainda permanecer mais uma temporada correndo no País antes de seguir os passos do pai e do próprio irmão no exterior, de olho em uma possível chance no futuro na principal categoria do automobilismo mundial.

Polêmico, Piquet voltou a lembrar que Felipe Massa nunca mais foi o mesmo depois do grave acidente na classificação para o GP da Hungria de 2009 e desejou sorte a Felipe Nasr, novo reforço da Sauber em 2015.

Sobre as novas tecnologias, Nelson lembrou que na sua época os pilotos precisavam ser mais bem preparados sobre engenharia e acerto do carro, mas hoje se perdeu espaço em razão da tecnologia oferecer muito mais informações aos engenheiros e à fábrica. "Hoje na F1, o piloto precisa ser rápido e não errar. Basta. Pode chegar lá como um imbecil sem saber como funciona um motor, mas se for rápido e não errar, ele faz o serviço dele", completou.

Confira a entrevista concedida por Nelson Piquet:

Filho nas pistas

O Geraldo corria quando eu morava lá fora. Não tive participação nenhuma. Ele começou a correr ainda como hobby (hoje compete na F-Truck).Já o Nelsinho me dediquei bastante, mesmo cuidando da Autorack, ia nas corridas e ia em 80% delas na Europa. No Brasil, eu organizei tudo e ia lá na F3 Inglesa. Na GP2, nem tanto.Tenho mais tempo livre agora com o Pedro. Acompanho bem o que está acontecendo neste primeiro ano na F3.

Momento dos pilotos

Hoje em dia a F1 tem em tempo real todos os dados no box e na fábrica ao mesmo tempo. Antes de o piloto abrir a boca, já sabem tudo que está acontecendo.Até a F3, o piloto ajuda um pouco. Na F1, precisa ser rápido e não errar. Basta. Pode chegar lá como um imbecil sem saber como funciona um motor, mas se for rápido e não errar, ele faz o serviço dele.

Lewis Hamilton

Hoje é bem fácil de prever alguma coisa. Primeiro ele é mais rápido que o (Nico) Rosberg e segundo os carros quebram muito pouco. Na minha época, quando se errasse uma marcha, estourava o motor. Se não der zebra, ele vai ser campeão.

Talento

O cara pode ter o talento que for, se tiver conhecimento de mecânica e ajudar a desenvolver o carro para o próximo ano, para próxima corrida, você perdia muito, se não tivesse, perdia muito. Não dá para colocar um cara de 16 anos de hoje em um carro da época, porque não saberia nem para onde carro ia andar. Podia ser muito bom, se o carro fosse ruim, não ia andar. Se tivesse dinheiro, não saberia dar a informação e o engenheiro não conseguiria melhorar o carro. A gente era o link entre o carro e o engenheiro. Tinha que ter muito conhecimento. Hoje em dia não tem mais isso.

Críticas

O que hoje não é muito legal, vamos fazer corrida para o público, então o cara 10s atrás abre a asa e passa. Ultrapassar e nada é a mesma coisa. Anda 30 km a mais na reta. Ultrapassar naquela época era tão bacana. Programava, acertava, media para ter a velocidade para entrar no vácuo, sair do vácuo e passar o cara, tinha toda a técnica de ultrapassagem. Isso acabou. Pior ainda os pneus. Os pneus não são constantes. Um carro passando o outro de passagem. O cara passa o outro, porque um foi para o box, o outro não. Pneu tá bom, tá ruim. Ficou tudo muito confuso. Para mim é uma m... do jeito que está. Não queria correr nessa F1. Preferia muito mais no meu tempo.

Equipes médias e pequenas sem grana

O plano parece é ter seis equipes com três carros cada uma. Equipe de fábrica, como Mercedes, e a Honda que vai entrar. F1 sempre teve equipe forte e equipe sem investimento correndo lá atrás. Faz 20 anos que a F1 é assim.Acho que o pior é o que falei. Fazer alguma coisa de tecnologia que facilite a competitividade entre um e outro no meio da pista. Isso está errado. A evolução da tecnologia é boa, porque tudo que é testado na F1 vai para rua e é bacana. Vai ficar mais fácil, menos fácil, o que não concordo com a aerodinâmica (abre asa, fecha asa).

Monomarca

A briga de pneus é interessante. Ajuda a fábrica ter compostos melhores. Se deixar uma fábrica apenas fazendo o pneu que quiser...

Bernie Ecclestone

É preocupante. Porque trabalhei com ele. Estive na F1 por 13 anos e ele tem uma cabeça fantástica. Ele ganhou dinheiro, mas faz todo mundo ganhar. Se todos soubessem, como ele é rápido no pensamento, contando piada, sendo afiado. Ele é excepcional. Dois caras que me tem outro nível de inteligência: um é Bernie e outro vocês vão rir, é o Luiz Estevão: pena que é doente, porque ele é super inteligente. Se conhecer bem, ele é interessante. Se ele fizesse isso pelo bem, seria presidente da República. O Bernie é realmente uma pessoa fora de série.

Felipe Massa

Eu sempre falei que tive uma experiência dessa. Tudo bem acredite ou não. Bater a cabeça muito forte, você perde aquele último sentimento. Ele vinha muito bem até aquele acidente. Depois desandou. Pode voltar um pouco, mas é difícil. Quando bati em Ímola (em 1987), eu continuei e ganhei dinheiro, mas porque enrolava. Em 1987, ganhei ainda e vocês viam que andava atrás dele (Nigel Mansell), mas fui campeão porque tinha apenas dois carros competitivos e enchia a paciência dele, perturbei falando que a mulher era feia. Mas eu perdi a profundidade.

Melhores pilotos

Hoje em dia só tem campeão. Tem o Alonso, o Vettel, o Ricciardo que está andando pra caramba. O Hamilton, o Keke (na verdade, Nico). Os carros igualam muito. Se os carros quebrassem mais, a gente veria mais diferenças. Antes era 50% a 50%. Hoje está mais defasado.

F1 de hoje para o filho

Quando é a equipe grande, é só talento mesmo. Nas equipes de baixo, precisam de dinheiro, porque se não o time vai quebrar.Em casa, todos enveredaram para o automobilismo por causa do sucesso que tive. E eu apoio os meus filhos. Nelsinho teve a chance dele, não emplacou. Vamos ver o Pedro. Esse ano dele foi expressivo. Podem falar que ele tem o melhor equipamento, mas o carro dele não é nada diferente dos outros. Bateu recordes de várias pistas. Alguma coisa tem de diferente.Ele anda no limite em todas as voltas e essa é a obrigação dele. Pode estar 20s na frente e não vai tirar o pé p... nenhuma. Porque lá fora vai ser assim. O que quero para ele: vamos ver o que vai acontecer.E vamos fazer o ano que vem aqui e talvez algumas corridas lá fora. Vamos programar uns testes no exterior.Raramente eu interfiro nele. Mas no carro eu mando consertar. Tenho um olho muito bom e isso faço muito. O dia a dia do trabalho eu não entro em nada.

Porsche Challenge e a experiência

É muito difícil passar do monoposto e sentar em um carro fechado. Não ver as rodas travando. A reação é diferente. Tivemos o convite para testar o carro em Curitiba. Não só andou muito bem, como gostou. Se der um carro de rolimã para ele, ele vai querer correr. Não tem muito a  ver com o desenvolvimento de acerto de carro para a carreira dele, mas tem o ambiente de estar aqui. Se você for bom, você senta em qualquer coisa e vai bem”

Felipe Nasr

Mais um brasileiro estando lá. Se eu falar (que ele não é bom), eu serei desonesto. Não acompanhei de perto na GP2, mas sei que ganhou poucas corridas. Andou bem na F-BMW e se deu bem porque tinha mais experiência com os outros. Não digo nada que é fora do normal. O (Max) Verstappen, por exemplo, é diferente, ganhou tudo no kart e andou bem na F3.