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CBF desperdiça datas que salvariam clubes de "devastação"

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Em sua primeira convocação no retorno à Seleção Brasileira, Dunga chamou, nesta terça-feira, seis atletas que atuam no futebol nacional para os amistosos contra Colômbia e Equador, no início de setembro.Teve, assim, de driblar a saia-justa de criar um problema para quatro clubes da Série A verde e amarela. Jefferson (Botafogo), Gil (Corinthians), Elias, (Corinthians), Everton Ribeiro (Cruzeiro), Ricardo Goulart (Cruzeiro) e Diego Tardelli (Atlético-MG) desfalcarão suas equipes não só no Campeonato Brasileiro, como também em duelos decisivos da fase de oitavas de final da Copa do Brasil em breve.

Porém, engana-se quem pensa que Dunga e Seleção Brasileira são os culpados por isto. O tão criticado calendário criado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para o futebol canarinho se dá ao luxo de "desperdiçar" duas datas em momento próximo ao das convocações das seleções nacionais e, na sequência, simplesmente dizima mais da metade dos clubes da elite nacional em plena temporada.

Além da Seleção Brasileira, os selecionados nacionais de Paraguai, Chile, Peru, Equador, Colômbia e Uruguai poderão provocar baixas em nada mais que 11 equipes da primeira divisão brasileira nos próximos dias, por exemplo - sem contar a Seleção Sub-21, que também desfalcará quase metade dos times da Série A.

As duas datas Fifa da primeira quinzena de setembro não ocorrerão no mesmo dia de jogos de clubes brasileiros – como ocorria em um passado não tão distante –, mas sim em vizinhos. No caso da Seleção Brasileira, os jogadores vão ficar a serviço da CBF de 1 a 10 de setembro, já que os amistosos serão disputados em 5 e 9 do mesmo mês.

Uma rodada da Série A nos dias 6 e 7 provocará desfalque certo nos clubes. Os jogos de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, em 3 e 4, também terão baixas. Haverá tempo hábil para a participação nos jogos da 20ª rodada do Brasileiro nos dias 10 e 11, mas os clubes receberão atletas desgastados.

O mesmo ocorrerá com atletas estrangeiros que jogam no Brasil e servirão as suas seleções nacionais na primeira semana de setembro. De acordo com apuração do Terra, há grande possibilidade de, no total, 20 jogadores desfalcarem 11 times diferentes da elite nacional neste período. Mas qual seria a solução para isto?

A ideal não existe. Mas, para este momento específico, haveria uma forma de contornar a situação. Entre o fim de julho e as primeiras semanas de agosto, quatro meios de semana foram utilizados pela CBF para a realização dos jogos da terceira rodada da Copa do Brasil. As 20 partidas (contando ida e volta) foram divididas entre os dias 23/07, 30/07 e 31/07, 06/08 e 13/08 e 14/08. Houve, neste caso, um desperdício de duas datas – que poderiam ser aproveitadas para rodadas do Brasileiro, o que deixaria os clubes livres nos amistosos das seleções.

A conta é fácil: bastaria usar um meio de semana para realizar os dez jogos de ida (sete na quarta e três na quinta-feira, por exemplo) e um segundo para os da volta. Não havia a necessidade de "espalhar" as 20 partidas e ocupar quatro datas do futebol brasileiro. Nas duas primeiras rodadas do torneio, também foram utilizadas quatro datas, e elas poderiam ser reduzidas pela metade. Mesmo assim, esta economia não seria suficiente para abranger todas as datas Fifa do ano. Os campeonatos estaduais, por exemplo, usam 19 datas no início do ano - o que aperta ainda mais o calendário.

Há, logicamente, o interesse das emissoras de televisão em transmitir o maior número de duelos possíveis, e esta prática – de dividir os jogos em um grande número de dias – é comum na Liga dos Campeões da Europa, por exemplo. Entretanto, os calendários de países como Itália, Inglaterra, Espanha e Alemanha - apenas para citar os principais centros do continente - foram planejados para isto. Eles atendem a esta demanda, e os clubes não são desfalcados em datas Fifa. Nos torneios similares à Copa do Brasil, como a Copa da Inglaterra, por exemplo, cada fase ocupa, no máximo, duas datas por fase - como ocorrerá com o torneio brasileiro a partir das oitavas de final.

O principal efeito colateral da redução de datas na Copa do Brasil seria o acúmulo de jogos em semanas consecutivas. Os clubes perderiam datas de descanso, mas seriam recompensados em não ter desfalques e ganhar um longo período sem partidas enquanto as seleções estão reunidas. Em agosto, por exemplo, no calendário proposto os clubes fariam nove e não oito partidas no mês. O Bom Senso reivindica sete como limite e prega como solução definitiva a diminuição de datas dos Estaduais.    

O cobertor é curto, as soluções paliativas, mas o fato é que o futuro não é tão diferente. O calendário de 2015 da Confederação Brasileira de Futebol, já divulgado, segue o padrão de praticamente não parar em datas Fifa. Para piorar, prevê um meio de semana a mais para a relização da primeira rodada da Copa do Brasil. Durante a Copa América, por sua vez, o Campeonato Brasileiro seguirá sendo disputado, a pleno vapor, com equipes certamente esfaceladas, e os estádios provavelmente vazios - a CBF foi procurada pela reportagem para esclarecer os motivos de definir quatro datas para as três primeiras fases da Copa do Brasil, mas não se posicionou até a publicação desta matéria.