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Vila Belmiro vive noite nostálgica e impressiona até astro da NBA

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As pessoas com menos de 40 anos convivem com o estigma de não testemunharem o grande futebol de uma época romântica, comandado por Pelé. Os mais nostálgicos, com toda naturalidade, se apegam a lances das décadas de 1960 e 70 para relatar grandes jogos da história do futebol brasileiro. Entretanto, na noite da última quarta-feira, a Vila Belmiro, justamente o palco preferido do Rei do Futebol, abrigou uma das partidas mais épicas da "nova geração". Em duelo que colocou Ronaldinho e Neymar frente a frente pela primeira vez, o ex-jogador do Barcelona brilhou, como há muito tempo não se via, relembrou os tempos em que desfilava pelos gramados catalães e comandou a vitória por 5 a 4 do Flamengo sobre o Santos.

Diante do maior destaque do futebol brasileiro na atualidade, Ronaldinho provou de uma maneira histórica que ainda pode se destacar em alto nível. Contra o clube pelo qual Pelé e Neymar se notabilizaram, o flamenguista marcou três gols, o último deles para assegurar a vitória na Vila. Contudo, antes de a rede balançar aos 35min e sacramentar os três pontos para o time do técnico Vanderlei Luxemburgo, o confronto teve um roteiro que se adapta aos grandes duelos da história dos Campeonatos Brasileiros.

O torcedor que compareceu ao estádio santista já chegou com a expectativa alta, já que pela primeira vez, desde a conquista do tricampeonato da Copa Libertadores da América, em junho, Neymar e Paulo Henrique Ganso atuariam na Vila. Com a força máxima, Muricy Ramalho lançou o Santos ao ataque, e acabou recompensado pelo talento. Em 15 minutos, Borges, justamente o homem de referência que faltava à formação alvinegra, abriu 2 a 0.

A larga vantagem, no entanto, acabou ofuscada por conta da genialidade de Neymar. Principal atração da partida, o camisa 11 recebeu a bola perto da linha lateral e com uma finta tirou a marcação de dois atletas do Flamengo. Insinuante, carregou e tocou para Borges na referência. Veloz e habilidoso, a jovem revelação recebeu de volta, deu um "drible da vaca" magistral em Ronaldo Angelim, e marcou um dos gols mais bonitos da curta, e promissora, carreira.

O lance do atacante, que decepcionou pela atuação abaixo do esperado na última Copa América, na Argentina, impressionou até mesmo atletas de outros esportes. Depois da partida, o armador do Phoenix Suns, Steve Nash, em meio às férias da NBA - que pode sequer iniciar a temporada por conta do lockout -, postou no Twitter o vídeo com o gol do santista, e ainda tentou escrever em português para demonstrar a adoração pelo lance: "Caraio... que Golaso de Neymar!!! (sic)".

A mensagem do jogador de basquete, que nunca escondeu o fato de também gostar de futebol, repercutiu imediatamente no Brasil. A atriz Samara Felippo, ex-mulher de Leandrinho - ex-companheiro de Nash nos Suns -, respondeu ao canadense e o direcionou à conta de Neymar no microblog.

Todo o brilho de Neymar, ressaltado até por Nash, entretanto, acabou ofuscado pelo "renascimento" de Ronaldinho. Quando o Flamengo convivia com a incômoda desvantagem de três gols, o camisa 10 aproveitou cruzamento de Luiz Eduardo, aos 28min, para diminuir. O tento do pentacampeão mundial iniciou uma reação impressionante do time carioca: tanto que Thiago Neves, aos 31min, reduziu ainda mais o placar favorável ao time paulista.

A partida mudou totalmente no momento em que Elano mostrou um comportamento inédito, talvez, na carreira, por volta dos 40min. Conhecido pelo foco em campo e comprometimento, o meio-campista bateu um pênalti com cavadinha e protagonizou o momento mais constrangedor da noite. Além de ver a bola morrer nas mãos de Felipe, o santista precisou suportar o "recurso" do goleiro adversário de fazer embaixadinhas depois do arremate inesperado.

Um lance deste, por si só, tornaria o duelo na Vila Belmiro épico. Porém, no minuto seguinte, Deivid, que anteriormente perdera um dos gols mais inacreditáveis na carreira (conseguiu chutar a bola com as duas pernas, na pequena área, sem goleiro, para fora), afastou qualquer espírito ruim para empatar o jogo e encerrar um primeiro tempo de seis gols: 3 a 3.

Contudo, como palco divino que é, a Vila registrou a consagração de mais um astro na segunda etapa. Questionado desde que retornou ao País por conta de atuações pouco inspiradas, Ronaldinho, enfim, teve uma atuação comparável as quais o notabilizou no Barcelona, clube no qual conquistou os títulos de melhor jogador do mundo nos anos de 2004 e 2005. Inspirado, o camisa 10 ditou o ritmo de jogo flamenguista e deixou o gramado de uma forma completamente diferente com a qual entrou.

Experiente, o capitão flamenguista não se abalou quando Neymar colocou o Santos novamente à frente no placar logo aos 5min. Com espírito de liderança, o camisa 10 ofuscou a jovem revelação como há muito tempo nenhum jogador conseguira. Talvez o último a obter tal façanha tenha sido Ronaldo, autor de dois gols - um deles inesquecível -, na decisão do Campeonato Paulista de 2009.

Aos 23min, Ronaldinho recebeu a bola na entrada da área, deixou Edu Dracena no chão e acabou derrubado por Arouca. Na cobrança, o camisa 10 provou ter o "talento diferenciado". Com calma, ludibriou toda a barreira santista e chutou rasteiro, com força, deixando o goleiro Rafael sem reação alguma.

O novo empate, agora por 4 a 4, já sacramentaria uma reação histórica do Flamengo. Entretanto, Ronaldinho transformou a igualdade em uma das maiores reviravoltas dos últimos tempos. Na parte final do jogo, ele se posicionou do lado esquerdo do ataque, o mesmo setor pelo qual comandou uma incrível geração do Barcelona, e finalizou um dos melhores duelos dos últimos anos.

Ronaldinho, quando o cronômetro apontava apenas dez minutos para o término do tempo regulamentar, acompanhou um rápido contra-ataque puxado por Thiago Neves. A velocidade e explosão, digna dos tempos áureos, deixou a defesa santista estática. Dentro da área, o meia-atacante recebeu a bola do companheiro e finalizou firme para vencer Rafael, definir o resultado e assumir a artilharia da Série A, com oito gols. Ponto final para mais um capítulo histórico do futebol brasileiro. Daqueles jogos que a "atual geração" terá todo o orgulho de contar para os netos