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Na Flip, Laerte e Angeli discutem limite do humor e contam bastidores

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No sábado (7), a Festa Literária Internacional de Paraty não poderia ter terminado de forma mais bem humorada. Os cartunistas e humoristas Laerte e Angeli, na mesa Los Amigos, falaram sobre a relação com o desenho, as trajetórias de suas carreiras e o limite do humor. Amigos há décadas, os desenhistas divertiram o público contando antigos episódios e bastidores das ideias de criação das charges e tiras.

Laerte, crossdresser assumido, subiu ao palco com um vestido de mulher e, ao ser perguntado pela plateia, respondeu algumas perguntas sobre a opção. Ele contou que descobriu o interesse pelo transvestimento ao fazer uma tira que teve repercussão entre associações da comunidade de transgenerismo, que entraram em contato com ele.

“Tenho uma identidade feminina. É uma condição que devo entender e que me levou a outro tipo de militância”, disse. 

Logo no início do debate, o assunto foi o limite do humor. Para Angeli, as piadas precisam de liberdade para serem feitas, mas advertiu que é necessário “responder por aquilo que se fala”.

“Acho que o humorista deve responder pela piada como um acerto crítico. O acerto judicial não é o mais certo, porque tem como corolário a censura”, analisou o cartunista.

Laerte lembrou que, certa vez, criou uma narrativa humorística que tratava do Alzheimer, sobre um homem que invade uma cidade para matar uma pessoa, mas não consegue se lembrar quem era ele. O desenhista revelou que recebeu enxurrada de cartas de associações de apoio aos familiares dos portadores de Alzheirmer, mas reiterou sua intenção:

“Eles têm razão, mas eu também tenho”, disse.

Eles também falaram sobre a relação com o trabalho. Angeli revelou que sua prancheta é o local preferido de sua casa. O catunista afirmou que segue tocando seu projeto de renovar sua produção gráfica.

Ao contrário do amigo, Laerte revelou que praticamente não desenha mais. Segundo ele, a dificuldade está no fato de estar mais interessado, atualmente, na narrativa que a imagem traz do que na técnica.

“É como se eu estivesse saindo do zero. É cansativo”, compartilhou. “Já tive mais gosto (pelo desenho). Sou capaz de fazer hoje, mas só se me pagarem muito bem”, brincou.

Os autores debateram também  a velhice e o novo tipo de produção que veio com a idade. Eles concordaram que passam por uma queda natural da criatividade, mas ponderaram que seus critérios também se transformaram.

Sobre envelhecer, Angeli contou que percebeu que estava ficando velho ao dormir em uma padaria esperando a mulher pagar as compras. O cartunista também revelou que a memória de hoje não mais a mesma. E brincou:

“Ultimamente ando perdendo a memória porque fumei muito orégano na vida. Algo aconteceu que ando tendo uns brancos. É coisa da idade, gosto de fazer piadas com isso", disse.

Glauco 

Ambos lembraram o cartunista Glauco, assassinado em 2010, junto a quem formavam o grupo chamado Los Tres Amigos. Laerte definiu-o como uma figura “doce e generosa”, mas que tinha uma crueldade no humor muito precisa.