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Sem troca de ataques, candidatos debatem ideias e criticam concentração do sistema bancário

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O primeiro debate na TV entre candidatos à Presidência da República aconteceu, nesta quinta-feira (9), na Bandeirantes, com oito candidatos – Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) – que evitaram enfrentamentos ou ataques. 

Ciro, Alckmin, Dias e Boulos condenaram a concentração bancária. Ciro falou em criar 2 milhões de empregos no primeiro ano, descentralizando o sistema financeiro. Alckmin e Dias citaram a necessidade de desregulamentar o setor bancário. Marina Silva e Boulos deram ênfase a retomar investimentos públicos.

Apesar do mérito dos candidatos em não optar por ataques diretos, mas por discutir ideias, o clima do debate, no geral, foi morno. No primeiro bloco, os candidatos tiveram que responder a uma mesma pergunta, sobre como vão gerar empregos. Antes de responder, Guilherme Boulos deu “boa noite ao ex-presidente Lula”, impedido pela Justiça de participar por estar preso. “Enquanto isso, (Michel) Temer está solto”, frisou. O psolista, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, afirmou que sua primeira medida, se vencer a eleição, será revogar as medidas tomadas pelo atual governo, como a reforma trabalhista, e fazer uma reforma tributária: “Hoje, quem tem menos paga mais, quem tem mais paga menos”.

Primeiro bloco

Perguntados sobre o que fariam para estimular a contratação de trabalhadores, Alvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriota), perderam tempo se apresentando e criticando aos adversários. Geraldo Alckmin também não respondeu de maneira objetiva ao questionamento. Justificou que a geração de empregos é consequência de boas práticas econômicas, novos investimentos e simplificação tributária.

Marina Silva comentou que "tem um compromisso para que o país volte a crescer, gerando empregos". Jair Bolsonaro, por sua vez, disse que o Brasil deve passar por uma 'desburocratização e uma desregulamentação'. "Todos sabemos que o salário no Brasil é pouco para quem recebe e muito para quem paga", destacou. "O Brasil precisa voltar a fazer comércio com o mundo todo sem o viés ideológico", completou. 

Guilherme Boulos abriu sua resposta dando um "boa noite ao ex-presidente Lula", que deveria estar, para ele, presente no debate. "Enquanto isso, [Michel] Temer está solto", frisou. O psolista, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, sobre o que faria para estimular empregos no Brasil, respondeu:

"Nossa primeira medida será revogar as medidas tomadas por este governo, como a reforma trabalhista, que retirou os direitos do trabalhador (...) Vamos fazer uma reforma tributária. Hoje, quem tem menos paga mais, quem tem mais paga menos."

Henrique Meirelles limitou-se a exaltar fatos de suas passagens como presidente do Banco Central (2003 a 2010) e ministro da Fazenda (2016 a abril deste ano). "Ao contrário do que muitos aqui pensam, não criamos empregos 'no grito', mas sim com a política econômica correta", enfatizou.

Já o pedetista Ciro Gomes garantiu que, em seu primeiro ano de governo caso eleito, irá gerar dois milhões de empregos. Ciro quer "consertar os motores do desenvolvimento" no Brasil, "consertar as contas públicas e descartelizar o sistema financeiro".

Confronto direto

Em um primeiro bloco tranquilo, o único momento no qual os ânimos ficaram pouco mais exaltados se deu entre Guilherme Boulos e Jair Bolsonaro. Na abertura dos duelos entre candidatos, Boulos perguntou ao capitão da reserva: "O Brasil todo sabe que você é racista, machista, homofóbico, mas você ficou 10 anos no partido do Maluf e fez da política um negócio de família. Aliás, minha pergunta é a seguinte: Quem é a Wal?"

"Pensei que viria discutir política nacional. A sra. Walderice é uma funcionária minha em Angra dos Reis que ganha R$ 2 mil por mês. A Folha de S. Paulo colocou que era uma funcionária fantasma minha, mas não é verdade", rebateu Bolsonaro. Sobre os filhos, o presidenciável do PSL disse ter "moral para indicá-los" e que eles "têm feito um ótimo trabalho". 

Posteriormente, Boulos perguntou se Bolsonaro não tem vergonha por gozar do auxílio-moradia. O capitão da reserva, novamente, rebateu: "Teria vergonha se estivesse invadindo casa dos outros". Mesmo com repostas firmes, o candidato do PSL ficou sentado durante todo o primeiro bloco, enquanto os outros presidenciáveis ficaram de pé a todo o momento.

Bom frisar que Bolsonaro abriu mão de direito de resposta. Alegou que não discutiria com "um desqualificado", em referência a Boulos.

Outro momento de destaque do primeiro bloco foi o ataque de Marina Silva à aliança de Geraldo Alckmin aos partidos do Centrão. "O senhor diz que é o candidato que quer mudar o Brasil. No entanto, o senhor fez aliança com o Centrão, base de sustentação do governo Temer e responsável por boa parte das mazelas desse país. O senhor acha que isso é fazer mudança?", questionou Marina.

Alckmin se defendeu alegando que "temos um quadro pluripartidário no Brasil". "Construímos uma aliança com partidos do centro para aprovar rapidamente, no começo do ano, as reformas que a população precisa. Para isso, é preciso a maioria", respondeu. 

Em sua réplica, Marina disse que "é isso que todos dizem". "As alianças são sempre por tempo de televisão, para se manter no poder", afirmou Marina, ao relembrar o arco partidário em torno de Alckmin. "Elas são a base de sustentação do governo de Michel Temer."  Para a candidata, o país deve "mudar os que estão patrocinando a crise". 

Em reação, Alckmin afirmou que há "ótimas pessoas" em todos os partidos. "Construímos aliança com siglas do centro para aprovar reformas que população precisa", disse. O tucano criticou ainda a aliança de Marina com o PV, que indicou Eduardo Jorge como vice da chapa da ex-ministra.

Outro ponto interessante do primeiro bloco foi a defesa de Ciro Gomes e de Geraldo Alckmin por uma abertura do setor bancário. O tucano disse, inclusive, que irá se empenhar para trazer mais "players, mais bancos para disputar, garantir a competição". 

Segundo bloco

No bloco seguinte, os candidatos responderam às perguntas feitas por jornalistas. Outro presidenciável teve direito a um comentário, uma crítica à resposta do concorrente. 

CIro Gomes afirmou que irá encarar problemas causados pela reforma trabalhista sem amedrontar ainda mais os que estão na informalidade ou desempregados. Quanto à Previdência, o pedetista defendeu um novo regime de capitalização. Ciro ainda disse considerar a reforma trabalhista uma "selvageria".

Geraldo Alckmin, Marina Silva e Henrique Meirelles defenderam a recuperação da credibilidade do governo como o estopim para a volta do crescimento do país. No entanto, apresentaram ideias, mas nenhuma proposta concreta para solucionar tal problema.

Guilherme Boulos, ao falar sobre o aborto no Brasil, defendeu a legalização da prática de maneira segura. Lembrou que, nesta quinta-feira, o Senado argentino, 'majoritariamente composto por homens', não aprovou projeto que regulamentaria o aborto naquele país. "No nosso governo, aborto não vai ser tema do código penal. Vai ser tema do SUS", destacou.

Marina Silva, em comentário, defendeu o planejamento familiar. Para a candidata da Rede a questão poderia, caso houver necessidade, ser discutida em plebiscito.

Sobre educação, Jair Bolsonaro levantou a bandeira das escolas militarizadas em todos as capitais do país. Ciro Gomes rebateu, dizendo discordar da "ditadura do chicote". Diz que deve-se mudar o padrão de ensino, e não ter de apelar para a autoridade do professor. Na réplica, o capitão da reserva voltou a defender as escolas militares: "Ninguém quer tirar os filhos de lá", ressaltou.

Terceiro bloco

No terceiro bloco, com o retorno das perguntas de um candidato ao outro, o tom deu uma subida. Cabo Daciolo, assim como Marina Silva, questionou a aliança de Geraldo Alckmin com os partidos do Centrão. O presidenciável do Patriota também aproveitou para reclamar sobre a ausência de seu nome das pesquisas eleitorais. 

Daciolo protagonizou outro momento interessante com Ciro Gomes. Acusou o pedetista de ter sido um dos fundadores do Foro de São Paulo. Ciro, ironicamente, respondeu: "Meu amigo Cabo... Tive o prazer de conhecê-lo hoje. Parece que você não me conhece também. Não sou fundador do Foro de São Paulo."

Ao questionar as propostas de Marina Silva para a edução, Alckmin aproveitou para, em sua réplica, prometer zerar a fila das crianças de quatro a cinco anos na pré-escola. Marina, ao responder a pergunta, disse que fará da educação uma prioridade.

No ponto alto do debate, Guilherme Boulos disse que Henrique Meirelles é o candidato dos banqueiros. No entanto, não é o único candidato do presidente Michel Temer: "Aqui tem 50 tons de Temer", ironizou, arrancando risadas da plateia. O candidato do PSOL perguntou se Meirelles acha normal congelar o salário mínimo. Em resposta, o ex-ministro da Fazenda justificou que os salários foram congelados quando a economia estava em maus lençóis.

Henrique Meirelles aproveitou, novamente, para destacar que o país cresceu enquanto estava no comando do Banco Central e da pasta da Fazenda. Boulos retrucou criticando a presença de Meirelles na JBS, por exemplo. "[Ele] é a raposa cuidando do galinheiro", disse o psolista sobre o emedebista.

No debate sobre segurança pública, Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro divergiram. O ex-governador de São Paulo bateu na mesma tecla que vem batendo há tempos. Reafirmou que se faz necessária parceria entre governo federal e Estados da Federação. Além disso, comentou que, para ele, a Polícia Federal será ampliada. 

Já para Bolsonaro, a ação deve ser "firme". Segundo o militar da reserva, o problema de segurança pública no Brasil se dá por uma "equivocada política de direitos humanos". 

Outro momento de destaque foi o embate entre Ciro Gomes e Bolsonaro. Ciro diz ter plano para ajudar aos brasileiros que estão no SPC a quitarem suas dívidas. O pedetista comentou que irá flexibilizar prazo para pagamento, renegociando a dívida em outros termos. Questionado sobre o tema, Bolsonaro foi simples e enfático: "Deus te ajude, eu não tenho como fazer isso de forma assim tão simplista como você propõe."

Quarto bloco

No quarto e último bloco de perguntas, os jornalistas voltaram a fazer questionamentos aos candidatos. Alvaro Dias disse que deve se combater a corrupção com firmeza. Repetiu mais uma vez que convidará o juiz Sérgio Moro para ser seu ministro da Justiça. Cabo Daciolo, por sua vez, falou que existe "uma quadrilha dentro do Congresso Nacional".

Henrique Meirelles, em discussão sobre a greve dos caminhoneiros, defendeu um projeto de preço estável de combustíveis na bomba. Também destacou que deve-se ter controle dos preços de gasolina e diesel. 

Questionado sobre o reajuste de 16,38% dado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal aos seus próprios salários, Ciro Gomes foi enfático. Chamou a decisão de "imprudência acintosa" e criticou privilégios do judiciário. Isso enquanto há milhões de desempregados no país. Afirmou também que o reajuste, diante da 'penúria da maioria da população', não é razoável.

Sobre a questão de mobilidade, Jair Bolsonaro disse que "tudo de errado acontece no Ministério dos Transportes". O militar da reserva ainda prometeu acabar com a "indústria da multa" e rever os 'caríssimos pedágios das rodovias federais'.

Ao ser perguntado se contrataria algum investigado, réu ou condenado, Geraldo Alckmin falou que todos que entrarem em sua equipe terão de passar por um rígido crivo. Além disso, todos deverão ter competência para cumprir suas funções. Marina, ao comentar a resposta de Alckmin, indicou que este está ligado a figuras envolvidas em irregularidades. O tucano negou, justificando que não é do PT e, tampouco, foi ministro do PT. Marina Silva comandou a pasta do Meio Ambiente durante o governo Lula.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles relembrou críticas de membros do PSDB ao Bolsa Família. O candidato tucano, Geraldo Alckmin, retrucou e saiu em defesa do programa.

Ao ler o trecho de um editorial do PSDB em 2004 que chamava o programa de "populismo rasteiro", Meirelles pediu comentários de Alckmin sobre o tema. O tucano disse que era necessário "melhorar a memória do Meirelles". "O Bolsa Família é junção de programas do PSDB", afirmou.

Na tréplica, Meirelles criticou a diminuição do programa Bolsa Cidadão no Estado de São Paulo. Alckmin reagiu e disse que os programas sociais do Estado de São Paulo "são muito bem avaliados".

O tucano afirmou ainda que é necessário investir recursos do BNDES na área social, principalmente no Nordeste. Alckmin defendeu a diminuição do tamanho do Estado, o voto distrital misto, a reforma política e o aprimoramento dos sistemas de controles da corrupção.

Quinto bloco

O último bloco serviu apenas para considerações finais. 

Direito de resposta

O primeiro direito de resposta veio apenas neste último bloco de perguntas. Guilherme Boulos acusou Jair Bolsonaro de ter sido expulso do Exército por ter "tentado jogar uma bomba". O capitão da reserva se defendeu dizendo ter orgulho em ser militar e que, quem 'jogava bombas era a ex-presidente Dilma Rousseff'. Bolsonaro ainda disse que Dilma é "chefe" do psolista.

Boulos pediu direito de resposta por conta da afirmação do adversário, mas teve seu pedido, de maneira unânime, negado. No entanto, o líder do MTST fez questão de enfatizar que nunca foi do PT e que nunca fez parte de nenhum governo petista. Mais adiante, no fim do bloco, Jair Bolsonaro pediu outro direito de resposta, também negado. 

Em discussão sobre reforma tributária, Boulos garantiu que irá corrigir a tabela do Imposto de Renda. Também disse que vai tributar grandes fortunas. Geraldo Alckmin também expôs suas ideias, comentando que tributará dividendos, corrigirá a tabela do IR e mudará a rentabilidade do FGTS. 

Regras

O debate teve cinco blocos. No primeiro, por ordem de sorteio, os candidatos responderam a uma mesma pergunta sugerida por eleitores. Em seguida, candidato perguntou para candidato, obedecendo a ordem sorteada. 

No segundo e quarto blocos, jornalistas fizeram as perguntas e escolheram o candidato que fez a réplica. Quem foi perguntado teve direito a tréplica.

No terceiro bloco, candidato perguntou para candidato seguindo a ordem do sorteio. Neste bloco, cada presidenciável pode ser perguntado até duas vezes. 

No quinto e último bloco, cada candidato teve um minuto e meio para as considerações finais.