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Colégio Pedro II repudia acusações de Crivella sobre ocupação do MST

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O reitor do Colégio Pedro II, Oscar Halac, divulgou nota nesta quarta-feira (26) repudiando as acusações da campanha do candidato do PRB à Prefeitura do Rio, senador Marcelo Crivella, de que o Movimento dos Sem Terra (MST) teria invadido e estaria acampado nas dependências da instituição com o consentimento da direção.

Segundo a reitoria, o Teatro Mário Lago, que fica na unidade de São Cristóvão do Pedro II, foi cedido para um evento do Grupo GISAS (Grupo Investigação sobre o Subdesenvolvimento e o Atraso Social), que tem professores e alunos do colégio em sua composição. Em nota, Halac afirmou, ainda, que o GISAS é de cunho acadêmico, com trabalhos realizados em universidades públicas de todo o país, mas que não tem responsabilidade pela ideologia, assim como não censura nenhuma delas, desde que reconhecidas legalmente. 

O Grupo GISAS também se manifestou acerca do evento realizado no último dia 14 e que apareceu no programa eleitoral de Crivella no último sábado (22). O grupo ressaltou que a atividade, com organização própria e que ocorre no Rio de Janeiro desde 2009, foi realizada sem a participação do Colégio Pedro II, "que somente cedeu as instalações do Teatro Mário Lago".

Veja na íntegra a nota assinada pelo reitor do Colégio Pedro II:

NOTA OFICIAL Nº 014/2016 

Caiu o véu. Sábado último, dia 22, o programa eleitoral gratuito de um dos candidatos à Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro exibiu as imagens do evento realizado nas dependências do Colégio Pedro II e veiculado por um suposto responsável por aluno na Grande Rede como sendo uma “invasão do MST”. 

 Não houve invasão do Movimento dos Sem Terra - e o Colégio Pedro II declarou isto exaustivamente - e toda a sua Comunidade sabe disto. 

Começo a entender a origem e os objetivos dos ataques covardes que o Colégio sofre nos últimos meses. 

Volto a explicar que não foi um evento de responsabilidade do Colégio Pedro II. Apenas cedemos o Teatro Mário Lago para os organizadores. Estes são docentes e alunos ligados ao Grupo GISAS, de cunho acadêmico, com vários trabalhos realizados em Universidades Públicas brasileiras. 

Já solicitamos ao referido grupo que se manifeste relatando o ocorrido (em anexo). 

Não somos responsáveis pela ideologia do Grupo GISAS e não censuramos nenhuma delas, desde que reconhecidas legalmente. 

É um grande cinismo praticar o maniqueísmo social entre comunismo e capitalismo. Cínico e ultrapassado. 

É como reviver o passado inglório de dicotomizar comunismo e capitalismo com o claro objetivo de demonizar um dos dois. Tempos globalizados, economia globalizada, interesses comerciais globalizados não combinam com esse bolorento maquineísmo. 

Não recebemos nenhuma denúncia de pais, alunos ou servidores acerca das faixas exibidas pelo Grupo GISAS no seu evento, antes da veiculação das imagens. 

Por quê? Por que não cumpriram o caminho mais curto de questionar a Reitoria ou a Direção Geral do Campus São Cristóvão II quanto ao evento/faixas em tela? 

Por quê? Por que não aguardaram verificar se o ocorrido, sendo explicado, deveria então ser denunciado ao Ministério Público Federal? 

Por quê? Porque não foi pelas faixas, não foi pela ideologia do Grupo GISAS. Foi para provocar a comoção, provocar o caos, provocar a dúvida e criar uma imagem que foi veiculada em uma propaganda eleitoral. Deplorável. Mesquinho. 

São grupos pequenos de supostos pais – digo isto porque a maioria daqueles que se manifestaram na Grande Rede o fizeram por perfis falsos – que se ocupam em denegrir o Colégio Pedro II. Há grupos de pais de estudantes que se convenceram de que a mentira era verdade e aderiram ao pelotão de fuzilamento do Colégio Pedro II. 

Pois convidamos os verdadeiros pais de estudantes para uma reunião na Reitoria. Receberemos também os que não são pais de nossos estudantes. Virão? 

Em tempo, é lógico que as faixas não deveriam ser expostas na área externa ao Teatro, pois não era um evento do Colégio. Ocorre, porém que não sabia o Diretor Geral do Campus São Cristóvão II que haveria exposição de faixas e, neste dia, encontrava-se em Reunião do Conselho de Diretores do Colégio Pedro II. 

Tão logo retornou ao Campus, o que coincidiu com o término do evento, as faixas foram retiradas. 

Mas, por que tanto barulho pelo fato dos alunos tomarem ciência de movimentos sociais mundiais? Alguns historicamente positivos e outros negativos, mas que ocorreram. 

Afinal, em uma Escola plena com a missão de formar cidadãos, nada mais comum que seus estudantes debatam e conheçam todas as vertentes humanas, sociais e tecnológicas. Ou não? 

E os nossos estudantes conhecem todos os movimentos sociais humanos e tecnológicos, porque ele é aluno do Colégio Pedro II, que oferece um currículo de 36 horas/semanais. Conhecer e debater não significa que o conhecimento sirva como apologia a qualquer ideia! O contrário sim. O desconhecimento é que leva o jovem ao fracasso! 

Atacam tanto o fato de os estudantes terem lido faixas alusivas à Revolução Chinesa, mas se esquecem que esses mesmos estudantes assistiram em rede nacional de televisão fala alusiva ao período da ditadura brasileira e com elogios a um dos protagonistas. 

Tal fato causou esta comoção? Por acaso nossos estudantes tornaram-se torturadores ou déspotas? Depois dos elogios passaram a idolatrar as Ditaduras Americanas? 

A resposta é não! O conhecimento não aprisiona o intelecto, o que o aprisiona é a ignorância. 

Quando saem pelos portões do nosso Colégio, os nossos estudantes se deparam com mendigos, viciados em drogas, filas em hospitais, espancamento de gays, assassinato e violência contra mulheres. 

Pela televisão e pela Grande Rede travam contato com denúncias contra políticos corruptos e inescrupulosos e assistem a cenas de sexo, traição e violência. 

O que fazer? Não é melhor prepará-los para que atuem discricionariamente e com responsabilidade cidadã ante a VIDA? 

Ou vamos enclausurá-los em um conto de fadas arquitetado por nós? 

Não é melhor que todos e todas aprendam e pratiquem o respeito mútuo? Afinal, nada mais cristão que isto: “Amai ao próximo como a si mesmo”. 

O Colégio Pedro II não cultiva o ódio. Somos solidários com os diferentes e os inserimos à Comunidade. Todos e todas! Respeitamos os homossexuais porque simplesmente são indivíduos, porque não é humano nem aceitável a discriminação. Mas fizeram um cavalo de Tróia da medida referente aos nossos uniformes, com ataques contra minorias. Minorias que são filhos e netos de alguém (talvez você), minorias onde bate um coração deprimido pela intolerância e a alma acorrentada a dogmas que os condenam à infelicidade. Por quê? Por que contribuir com isto? Não! Somos todos Colégio Pedro II!!! 

No Colégio Pedro II – pasmem - temos gays, lésbicas, negros, deficientes visuais, surdos, cadeirantes, brancos... Que absurdo, não? Será que nos outros segmentos não os há? 

Que besteira, que ignorância, que maldade essa tal de discriminação, mas ainda há quem a professe.

Temos em nosso seio todas as manifestações religiosas e que convivem ecumenicamente. Por que destruir isto? Por que disseminarmos o ódio? 

O que queremos? Queremos os exemplos advindos do Oriente Médio? 

No Colégio Pedro II, reconhecemos todas as religiões e não incentivamos e nem professamos nenhuma. O Colégio é laico. Aqui, no Colégio Pedro II, não quebramos tabus religiosos. Apenas respeitamos todos. 

À revista Isto É que há pouco prestou um desserviço ao veicular notícia jornalística sem a prospecção da verdade, prestando-se a reproduzir apenas uma versão e não registrando a autoria da notícia, fica a nossa indignação. Mas de tudo se tira proveito e certamente os nossos estudantes – futuros jornalistas, já sabem como não deverão proceder.

Contudo, solicitarei direito de resposta. Darão? 

Sim, é o Colégio dos absurdos. Dentro do cenário educacional brasileiro possui índices ABSURDOS de permanência e de rendimento escolar no IDEB e no ENEM. Absurdamente público e de excelência inconteste. Absurdamente querido. 

A quem interessa desconstruir a excelência do Colégio Pedro II? 

Recebo diariamente denúncias encaminhadas ao Ministério Público Federal, que apenas cumpre o seu papel, de pais indicando que docentes do Colégio Pedro II fazem apologia ideológica em suas salas de aula. 

Por que não recebemos estas denúncias diretamente desses pais? Tenham certeza de que determinaremos a apuração. Por que diretamente ao Ministério Público Federal, se sempre apuramos e punimos os culpados de denúncias de assédio moral e sexual, fraudes contábeis, tráfico de drogas e violência? 

Por outro lado, se comprovadas as denúncias, serão enquadrados no art. 117, no item V “promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição” da Lei 8112/90. Simples assim. Caso não seja aprovado ou concluído o Processo Disciplinar de modo corporativo, aí sim seria cabível procurar o Ministério Público Federal. 

O Colégio Pedro II tem Reitor, chama-se Oscar Halac, que acima de tudo ama o Colégio Pedro II. 

Mesmo que fosse gay, como afirma um ínclito Deputado Federal, continuaria sendo o Reitor, pois isto não o que me incapacitaria. 

Não é necessário que o Reitor seja gay para não alimentar ódio contra estes. Não é preciso ser negro para colocar-se contra a discriminação racial, não há que se ter a identidade feminina para repelir a violência contra as mulheres. Não é preciso ser comunista ou capitalista, de direita ou esquerda – é preciso ser apenas o Reitor do Colégio Pedro II e este tem que necessariamente ser plural, tolerante, apartidário na gestão pública e ecumênico. 

Finalmente, concluo afirmando, mesmo sem consultar os nossos estudantes que ocupam seus Campi pacificamente e de modo organizado, certamente com a autorização de suas famílias, e por decisão exclusiva do corpo discente em busca de seus direitos legítimos de se posicionarem contra a aprovação da PEC 241 e da reforma do Ensino Médio, que estes liberarão o espaço físico para as Eleições Municipais e o ENEM. Sabem por quê? Porque os estudantes querem votar. Mais que nunca, agora, querem votar. E vão votar! Os estudantes participarão do ENEM e, mais uma vez, ratificarão a eficiência pedagógica deste colégio público e a excelência de seu corpo docente. Aguardem os resultados. 

Tranquilizem-se todos. Não será necessária força coercitiva para retirá-los. Mesmo porque eu não agiria assim contra o maior capital intelectual deste Município que é o estudante do Colégio Pedro II. 

E no dia seguinte do uso da força como olhá-los nos olhos? São nossos alunos, são do Colégio Pedro II, são seus filhos. Somos todos absurdamente Colégio Pedro II. Parem os ataques, pois o véu caiu! 

Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2016. 

OSCAR HALAC 

Reitor